Recentemente a revista Caros Amigos publicou o seguinte artigo:
Obra sobre o cangaço já nasce clássica; ateu e cristão discutem Deus
Com maciças 300 páginas e citação de centenas de fontes, em grande parte inéditas, o livro “Cangaceiros”, do historiador Luiz Bernardo Pericás – bastante conhecido por seus trabalhos sobre Che Guevara e sobre o teórico indigenista marxista peruano José Carlos Mariátegui – , lançado pela Boitempo Editorial, já nasce destinado a se tornar um clássico sobre o cangaço no Nordeste brasileiro, abarcado em toda a sua vigência, de 1890 a 1940. Os simples nomes dos capítulos já dão idéia do caráter abrangente e exaustivo da obra: Teoria do banditismo social; Origens de classe e motivações para a entrada no cangaço; Mulheres e crianças dentro do cangaço; Relações sociais e estrutura dos bandos; Aspectos militares de volantes e cangaceiros; Punições, torturas e a questão “racial” no cangaço; Secas e crises econômicas; Prestes, Lampião, o movimento operário e os comunistas; O cangaço entre o arcaico e o moderno, Conclusões.
Na introdução, Pericás faz um apanhado das obras anteriores sobre o tema:
“O fenômeno do cangaço ‘independente’, que começou na segunda metade do século XIX e durou até cerca de 1940, foi extensamente estudado por uma grande quantidade de autores. A maior parte das obras sobre o tema, contudo, é de qualidade duvidosa. Escritas no calor do momento, em linguagem quase literária e muitas vezes preconceituosa, ou então para justificar determinados posicionamentos políticos, dificilmente poderiam ser consideradas ‘estudos’ sérios. Em geral mal escritos, esses textos – muitos deles biografias ou esboços biográficos – contêm excesso de erros, equívocos, informações contraditórias e falta de citação de fontes”.
Depois de citar trabalhos mais jornalísticos, Pericás critica obras consagradas sobre o tema: “Mais tarde, começaram a surgir interpretações de estudiosos politicamente à esquerda, enfocando principalmente o contexto de injustiça social do sertão para, de certa forma, entender e até mesmo justificar o desenvolvimento do cangaceirismo.
Autores como Rui Facó e Christina Matta Machado9, fossem de origem
partidária, jornalística ou acadêmica, em alguns casos também se mostravam, em grande medida, favoráveis aos bandoleiros, mesmo que de forma dissimulada, vendo neles quase que ‘embriões’ de possíveis guerrilhas sociais no interior da região. Essas análises pioneiras (ainda que tentativas mais sofisticadas que a de seus antecessores), ainda assim, estavam excessivamente influenciadas pelo pensamento dissidente e ‘socialista’ em voga na época. Esses livros, portanto, acabavam também repletos de problemas teóricos, de marxismo ‘vulgar’ e de simplificações grosseiras das motivações e atuação da maioria daqueles bandoleiros.
“É claro que há exceções. Diversos scholars, nacionais e estrangeiros, trabalharam o tema de forma séria e competente. Cabe aqui destacar, entre outros, Frederico Pernambucano de Mello e seu Guerreiros do sol, certamente uma das mais sofisticadas interpretações do cangaceirismo. Também vale mencionar o trabalho de Oleone Coelho Fontes, que, apesar de produzir uma narrativa mais convencional e biográfica, é calcada em vasto levantamento documental e amplo material bibliográfico11. Jorge Villela, com o seu O povo em armas, por outro lado, dá uma importante contribuição para o estudo do banditismo rural nordestino no período da República Velha, especialmente por meio da análise de vasta documentação”.
Como se vê, a ambição de Pericás não é pequena, já que pretende ao mesmo tempo incorporar e superar os trabalhos anteriores sobre o cangaço.
Entre outros lançamentos importantes de não-ficção, destaca-se, pela Garimpo, o livro “O cristianismo é bom para o mundo? – Um debate”, em que o ateu e ex-marxista Christopher Hitchens, analista político inglês radicado nos Estados Unidos, e o cristão Douglas Wilson, pastor e professor americano, dão respostas opostas à pergunta do título. Diz a contracapa: “As principais polêmicas, desde a simples existência de Deus até a explicação para o mal no mundo, estão registradas e sintetizadas nesta autêntica colisão de idéias e conceitos entre dois pensadores brilhantes” A última palavra, como não poderia deixar de ser numa obra originalmente publicada nos EUA, cabe ao cristão Wilson.
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