O último capítulo destas lembranças
“Eu sou do tempo que as camisas dos jogadores não tinham números”
Depois de completar 50 anos de jornalismo profissional, estou pondo fim a estas memórias. Como disse no primeiro artigo da série, nunca exerci cargos de chefia, a não ser durante algumas semanas, e assim não fiquei sabendo de muita coisa das decisões editoriais, mesmo nos órgãos em que trabalhei. Já contei aqui todos os casos de manipulação de notícias de que tive conhecimento, embora imagine que muitos mais tenham ocorrido em praticamente todas as publicações de que fui funcionário ou colaborador. Nada mais tenho de relevância a contar aos leitores.
Fazendo um balanço de minhas experiências, chego à conclusão de que nenhum dos atuais modelos de jornalismo vigentes no mundo me parece satisfatório, no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa, em Cuba ou na Coréia do Norte. Lembro sempre do lema americano de que a liberdade de imprensa é a liberdade de cada proprietário de impressora. Ou seja, ou a liberdade é de um grupo privado, ou é a de um órgão estatal. Sonho com o que Marx aponta na “Crítica ao programa de Gotha”, de 1875: a propriedade pública, a propriedade pela sociedade, a propriedade de cada um e de todos, e não a propriedade de uns poucos ou estatal. Todos os cidadãos e cidadãs seriam donos de tudo e teriam direito a participar das decisões em todas as atividades sociais. Me parece que isso é tornado materialmente possível pelos modernos meios eletrônicos, como a Internet.
Fico em dúvida se a liberdade de expressão deve ser absoluta, como nos Estados Unidos, em que racistas, partidários de guerras de conquista, etc., têm plena liberdade de divulgar suas posições odiosas.
Além disso, se é possível vislumbrar na Internet a possibilidade material da concretização do direito de todos e de cada um de prestar informações, não consigo vislumbrar uma possibilidade de materializar as condições de fazer a informação de cada um ficar em pé de igualdade com todos os outros prestadores de informações no que se refere a atingir o público.
Sinto que devo uma palavra aos jovens: vale a pena ser jornalista? A resposta depende de cada caso e de cada situação concreta. Finalmente, acho que devo também uma posição sobre a exigência de diploma em jornalismo para ser jornalista. Não posso ser a favor dessa exigência, pois eu mesmo só tenho diploma do secundário. Como disse, luto por uma sociedade em que todos possam ser jornalistas. Mas, aos jovens que me perguntam, na situação concreta da sociedade atual, se vale a pena fazer o curso de jornalismo, respondo que sim, dependendo se o curso é bom ou não. Não há necessidade de diploma para administrar empresas, mas os formados em administração estão mais preparados para enfrentar o mercado.
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