Enviei a seguinte carta à revista Retrato do Brasil:
O trabalho do repórter Tomás Chiaverini sobre os tratamentos de transtornos mentais está bastante adequado e é um marco na luta pelo avanço na discussão pública do assunto. No que se refere a mim, no entanto, houve alguns pequenos equívocos. Na verdade, quando estive internado durante um ano e meio em 1974-75 no começo eu saía diariamente para trabalhar e mais tarde, quando fui transferido para outra clínica em outra cidade bem distante, é que eu comecei a comparecer à sede da empresa uma vez por semana, quando a reportagem informa justamente o contrário. Estive internado pela última vez no ano 2000 e não em 2005, como consta da matéria. Minha última alucinação foi em 1980, e não em 2000, como está dito na reportagem. Nunca recebi qualquer diagnóstico, muito menos de esquizofrenia; eu é que pessoalmente me reconheço em alguns sintomas desse transtorno tais como se encontram no código internacional. Não estive internado em hospitais psiquiátricos clássicos, onde médicos e outros profissionais se distinguem dos pacientes já ao usarem jalecos brancos. Estive internado em comunidades terapêuticas, onde os médicos e os outros profissionais só se distinguem dos pacientes por terem acesso exclusivo a medicamentos. De resto, todos eram iguais em direitos e deveres, tendo eu exercido, por exemplo, a função de atendente. Agora, os Caps atuais me parecem que não são tão avançados quanto os locais em que estive internado nos anos 1970. Os pacientes ricos continuam tendo acesso a comunidades terapêuticas adequadas; a maioria dos pacientes pobres continua não recebendo uma boa assistência. Verifico que eu próprio estava mal informado. Eu não sabia nada sobre “lar abrigado” e “residência terapêutica”, mas pelo que entendi são locais de internação bastante semelhantes, mas menos avançados, do que as comunidades terapêuticas em que estive internado. Assim, retiro a crítica à proibição da internação por mais de quinze dias. No entanto, a maior parte da população está tão mal informada quanto eu estava, tanto que a família do cidadão que depois provocou a chacina do Realengo procurou tratamento para ele, mas não conseguiu.
Renato Pompeu
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