As bebedeiras
no Brasil-Colônia
Pode ser considerado semelhante aos prazeres da degustação de boas bebidas o prazer gerado pela leitura do livro “Selvagens bebedeiras – Álcool, embriaguez e contatos culturais no Brasil Colônia (séculos XVI-XVII)”, do historiador e antropólogo João Azevedo Fernandes, professor na Universidade Federal da Paraíba. Ele descreve como os índios preferencialmente tomavam cauim – um fermentado feito a partir da mandioca, enquanto os portugueses tomavam preferencialmente vinho, mas depois a maioria das preferências de toda a população, inclusive os escravos negros, passou para a cachaça, inicialmente um subproduto da lavoura de açúcar para exportação. Fernandes não só alinha dados sobre a produção, comércio e consumo de bebidas alcoólicas durante os dois primeiros séculos da Colônia, mas principalmente retraça a importância social e cultural das bebidas alcoólicas nos contatos entre as diferentes populações que estão na origem do povo brasileiro. Conta como o hábito do cauim foi ferozmente combatido pelos europeus, principalmente pelos padres, e como a cachaça servia de moeda no tráfico de escravos na África. Uma grande novidade é que o autor imagina que os índios, os primeiros trabalhadores nas plantações de cana e nos engenhos, também tiveram um papel na invenção da cachaça. Um dos poucos senões da obra é dar a entender que, na Colônia, as bebedeiras eram mais selvagens do que hoje. Uma observação geral: a tese de que o vinho não é adequado para o calor dos trópicos não se sustenta, já que a cachaça, muito mais “quente” do que o vinho, se deu muito bem por aqui – RENATO POMPEU
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