8 de fevereiro de 2010

Um romance espanhol contemporâneo

O Diário do Comércio, de São Paulo, me encomendou recentemente a seguinte resenha:

“Vento da lua”, um romance de formação pós-moderno

Neste romance “Vento da lua”, lançado em 2006 na Espanha e agora publicado no Brasil pela Companhia das Letras, em tradução de Sergio Molina, o escritor andaluz Antonio Muñoz Molina retoma a saga de sua cidadezinha imaginária de Mágina, reconstrução fantasiada de sua formação na cidade natal de Úbeda. Já se disse que a cultura pós-moderna é uma “cultura de inventário”, e Muñoz Molina, nascido em 1956 – como o adolescente narrador do romance – é um típico narrador pós-moderno, mais baseado na pesquisa de fatos reais e na fantasia de fatos de que teve conhecimento, ou que são fatos de sua própria vida, do que baseado na criatividade explosiva que, no modernismo, gerou personagens como Wozzek ou Macunaíma.
Em meio à modorrenta vida durante a ditadura franquista, numa localidade mais rural do que urbana, a transmissão pela televisão da primeira viagem humana à Lua, em julho de 1969, viagem muito bem documentada no livro, faz o jovem adolescente ao mesmo tempo despertar da felicidade ilusória da infância e para os confortos e novidades em geral da vida contemporânea.
As contradições entre o passadismo da vida em Mágina e o futurismo da viagem à Lua alteram sua vida, e as moças de minissaia da televisão contrastam com a lavoura arcaica de sua família de agricultores, com sua casa em que não há água encanada, e, principalmente, com o controle que os padres confessores tentavam exercer sobre sua sexualidade iniciante. Experiências marcantes são a primeira vez em que vê televisão e a primeira vez que toma banho de chuveiro.
Ao mesmo tempo, o jovem vai descobrindo um segredo que sua cidade, aparentemente tão tranqüila e de vida tão transparente, guarda desde os tempos da Guerra Civil. Afinal, as transmissões da televisão, que vão apresentando a contemporaneidade da viagem à Lua e dos anúncios de belas moças que alardeiam as virtudes de cosméticos e perfumes desconhecidos em Mágina, são toda noite encerradas por uma saudação do generalíssimo Francisco Franco, uma assombração que vai deixando de ser ameaçadora.

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