17 de março de 2011

Mulheres no jornalismo

Há alguns meses o Diário do Comércio de São Paulo me encomendou a seguinte resenha:

Mulheres importantes na mídia,


documentadas e celebradas



Renato Pompeu



Até meio século atrás, havia no País poucas mulheres trabalhando nas redações de jornais ou revistas, menos ainda no rádio e na televisão. Hoje elas são maioria, mas sua proporção ainda vai baixando na medida em que se sobe na escala hierárquica da mídia. Muitas, porém, se destacam mais do que os homens no mesmo ramo da comunicação, particularmente como professoras e pesquisadoras. A elas é dedicado o livro “Valquírias midiáticas – Saga de 7 amazonas, ícones da vanguarda brasileira no campo acadêmico da comunicação”, organizado por José Marques de Melo, fundador e ainda professor do Departamento de Jornalismo da ECA-USP, e Francisco de Assis, pesquisador de jornalismo cultural, e publicado pela Arte & Ciência Editora, em edição conjunta com a Intercom e com a Associação Brasileira das Editoras Universitárias.

Valquírias, como se sabe, são, na mitologia escandinava, as mensageiras dos deuses da guerra; amazonas são as mulheres guerreiras da mitologia grega antiga e que deram o nome ao rio Amazonas, por acreditarem os primeiros navegantes europeus terem visto índias guerreiras às suas margens. No caso, são sete professoras do campo da comunicação, das quais as mais conhecidas são Cremilda Medina, da USP, e Lucia Santaella, da PUC-SP.

A cada uma foram reservados três textos de diferentes pesquisadores, além de Melo e Assis: um perfil, um depoimento e um autorretrato. A ordem em que são apresentadas não é cronológica e sim alfabética. Adísia Sá começou a trabalhar na imprensa desde os anos 1950 e fundou o curso de Comunicação Social da Universidade do Ceará. Tornou-se a primeira ombudsman mulher no Nordeste. Já Anamaria Fadul, formada em filosofia na USP e que estudou na Università degli Studi em Roma, é professora na ECA-USP.

Cremilda Medina atuou na imprensa gaúcha e na paulista; em São Paulo também fez telejornalismo. Foi editora de artes e cultura do jornal “O Estado de S. Paulo”. Também professora na ECA, faz parte dos Programas de Pós-Graduação da USP em Ciências da Comunicação e em Integração da América Latina.

Lucia Santaella, bastante conhecida por suas vinculações com os poetas, professores e pesquisadores de semiótica Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari, é professora na PUC e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital da PUC, além de presidente honorária da Federação Latino-Americana de Semiótica.

Outra presença feminina marcante na mídia é a de Maria Immacolata Vassallo de Lopes, professora da ECA que estudou na Universidade de Florença, Itália. É coordenadora do Centro de Estudos da Telenovela, da USP, e diretora-editorial da revista “MATRIZ”, além de pesquisadora do CNPq, sigla do antigo Conselho Nacional de Pesquisas, mantida pelo atual Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Uma professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro-UERJ, Sonia Virgínia Moreira, também é destacada no livro organizado por Melo e Assis. Tendo estudado na Universidade do Colorado, EUA, foi presidente da Intercom-Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Educação.

Finalmente, é retraçada a trajetória de Zélia Leal Adghirni, que é professora da Universidade de Brasília-UnB, e deu aulas também em universidades da França, sendo igualmente bolsista do CNPq.

Além dos perfis, depoimentos e autorretratos dessas “valquírias midiáticas”, há uma comovida apresentação de José Marques de Melo, em que conta como acompanhou a ascensão não só das mulheres na mídia, desde há mais de meio século atrás, como das mulheres em geral na sociedade brasileira. Afinal, há décadas ele foi afastado da Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero, por ter idealizado um estudo pioneiro sobre o erotismo feminino. Posteriormente, foi um dos autores da pesquisa que redundou na célebre reportagem de capa da prestigiosa revista “Realidade” sobre os progressos das mulheres no Brasil, número que foi apreendido pelas autoridades do regime militar. Hoje, essa reportagem talvez seja bem menos polêmica, mas é bom lembrar que as mulheres na mídia, seja como profissionais, seja como tema, tiveram muito que lutar para chegarem onde estão.

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