12 de agosto de 2013
Marilena Chauí e a difusão da filosofia
Artigo encomendado pela revista Caros Amigos - Ca176ideias
Ideias de Botequim
Marilena Chauí
ajuda a filosofar
Renato Pompeu
Os que querem se iniciar na filosofia, ou relembrar o que já estudaram, podem recorrer a uma coleção de livretos lançada pela Martins Fontes, dirigida por Marilena Chauí e Juvenal Savian Filho. Já foram lançados dez volumes; no primeiro, “Boas-vindas à filosofia”, Marilena Chauí discute as diferentes definições do filosofar, e chama a atenção para como pensar organizadamente é ao mesmo tempo prazeroso e produtivo. No segundo volume, Savian trata da “Argumentação: a ferramenta do filosofar”, uma introdução à arte de pensar com coerência. “Corpo e mente”, o terceiro volume, de Silvana de Souza Ramos, debate o que é ser humano a partir das explicações de dois filósofos franceses, René Descartes, do século 17, e Maurice Merleau-Ponty, do século 20. Os mistérios de “O tempo”, no quarto volume, são abordados por Fernando Rey Puente, que discute até que ponto a passagem do tempo é um fenômeno “objetivo” e até que ponto é uma experiência “subjetiva”. Os volumes seguintes tratam de “O ser vivo”, “Percepção e imaginação”, “A liberdade” e “Deus”. Já o volume nove trata da “Lógica” e nele Abílio Rodrigues parte da lógica tradicional para em seguida fazer uma sua crítica e introduzir o leitor e a leitora nas chamadas “lógicas não-clássicas”. Finalmente, no volume dez, Olgária Matos discorre sobre “A história”, tal como foi conceituada desde a Grécia antiga até a era contemporânea, passando pela modernidade.
Com o fracasso dos movimentos marxistas ortodoxos, vem renascendo neste começo do século 21 o interesse pelo anarquismo, e uma maneira agradável e proveitosa de conhecer mais profundamente o assunto é a leitura de “Contos anarquistas”, estórias escritas ao longo das décadas por autores brasileiros ou aqui radicados, entre 1890 e 1935, selecionadas por Arnoni Prado, Foot Hardman e Claudia Leal., obra lançada também pela Martins Fontes. Entre os autores, alguns famosos incluem Gigi Damiani, Astrojildo Pereira (que depois se tornou comunista), José Oiticica e Everardo Dias, sendo de notar que há contos em castelhano e em italiano, publicados no Brasil tendo por alvo os imigrantes. São contos sobre a militância, sobre o Estado burguês e a ordem burguesa, além de sobre a moral anarquista e a miséria urbana.
Uma seleção de textos do mais famoso e do mais competente, na imprensa, crítico do regime militar, está incluída no volume “O melhor de Stanislaw Ponte Preta”, o imortal autor do Festival de Besteiras que Assola o País, o célebre Febeapá, lançado pela José Olympio, e da Tia Zulmira e do Primo Altamirando. A seleção é do crítico Valdemar Cavalcanti, e as ilustrações são de outro ícone do carioquismo, Jaguar. Note-se que Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo de Sérgio Porto, não chegou a conhecer o pior do regime militar, pois morreu em setembro de 1968, antes do Ato 5 e da censura, mas o seu é o melhor retrato, senão dos fatos objetivos, pelo menos da vivência subjetiva das pessoas durante o regime militar.
A primeira e uma das principais vítimas do regime militar é objeto de uma exaustiva, mas bem legível, biografia de mais de 700 páginas, o livro “João Goulart – Uma Biografia”, de Jorge Ferreira, professor da Universidade Federal Fluminense, publicada pela Civilização Brasileira. Trata-se do estudo mais completo, e um dos mais isentos, realizado até agora sobre a vida e a carreira política de Jango, que, muito mais do que simplesmente o presidente deposto pelos militares, aparece como encarnação das aspirações e das insuficiências das camadas populares do Brasil entre o fim da Segunda Guerra Mundial e o golpe, período de muitas esperanças e de muitas frustrações. Particularmente importante é o fato de que boa parte dos problemas daquela época, e das soluções que foram propostas, as chamadas reformas de base, está bem viva ainda hoje.
Uma nova concepção de história surgiu nos últimos anos nos países avançados, a abordagem multimilenar, globalizante, envolvendo ainda as relações dos seres humanos com a natureza. Se chega em certos livros recentes a partir do Big Bang. Assim, quatro anos após a publicação original na Inglaterra, chega ao Brasil o livro “A história do homem – Uma introdução a 150 mil anos de história da humanidade”, do pesquisador Cyril Aydon, lançamento da Record. Além de tratar desde os inícios do ser humano atual na África, há 1.500 séculos, a obra também abandona o eurocentrismo tradicional da historiografia, dando a ênfase merecida às demais regiões e às demais culturas.
Em suma, todas obras dignas de leitura atenta.
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