8 de novembro de 2010

Engraxate que se tornou doutor critica Lula

Recentemente o Diário do Comércio de São Paulo publicou a seguinte resenha:


Engraxate que virou doutor ataca colega que não estudou e se tornou presidente

Gil Lúcio Almeida, atual presidente do Conselho de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Estado de São Paulo, doutor desde 1993 pela Universidade do Estado do Iowa-EUA, autor de dezenas de artigos científicos em revistas especializadas nacionais e internacionais, sobre neurofisiologia, controle motor e biomecânica, professor universitário em São Carlos e Ribeirão Preto-SP, nasceu em família sem recursos de São João Batista do Glória-MG, à beira do rio Grande, perto da divisa com São Paulo. Quinto de seis filhos, começou menino a trabalhar como engraxate na vizinha Itaú de Minas. Agora, no livro “O engraxate que virou PhD”, publicado pela Porto de Ideias Editora, ele critica, sem citar o nome, o presidente Lula:
“Quatorze anos após terminar o PhD, eu estava ministrando uma palestra para um grupo de universitário quando um deles me perguntou o que achava da declaração de um político que justificou não apresentar diploma universitário por não ter tido oportunidade. Respondi, sem pestanejar, que esse comentário era o maior desserviço que alguém poderia prestar aos cidadãos.
“Para ganhar o direito à vida, vencemos quase meio bilhão de outros espermatozóides. Não existe exemplo maior de superação do que o momento mágico em que cada ser humano é concebido. Além da dádiva da vida, ao chegarmos neste mundo ganhamos uma incrível capacidade de aprender. Portanto, não pode existir qualquer desculpa para se manter sem uma educação formal”.
E acrescenta: “Finalmente, gostaria de dizer ao tal político que não tenho a menor dúvida de que o país seria ainda melhor se ele tivesse estudado”. Mas, além de ser surpreendente que um menino engraxate se tenha tornado um cientista respeitado internacionalmente, também é surpreendente que, neste livro de memórias, Almeida demonstre dominar os recursos da escrita, as técnicas da descrição e da informação, do lirismo das mais diversas situações humanas, à altura dos melhores prosadores brasileiros.
Por exemplo, falando de sua meninice como filho de um chacareiro, ele escreve: “A casa era a sede de uma linda chácara, cortada ao fundo por dois pequenos córregos, entre os quais existia um brejo recoberto de capim fino e alto. As chuvas produziam uma enchente nos córregos, inundando o brejo. Ao findar, a enxurrada deixava inúmeros peixes nas armadilhas naturais. Depois das chuvas de verão, seguidas de sol firme, íamos até o brejo pegar lambaris, mandis e bagres que ficavam presos nos capins. Não vou dizer o tamanho dos peixes que pegávamos com as mãos porque podem me acusar de estar contando história de pescador. Mas, eram peixes maiores do que o tamanho da mão de criança”.
Continua: “Na chácara, havia vários animais: porcos, galinhas, vacas e cavalos. Para as galinhas dormirem, meu pai fez um poleiro. De um tronco de árvore saíam vários caibros, dispostos simetricamente, formando uma escada circular, com um bonito desenho que mais lembrava uma obra de arte. Ao cair da noite, o poleiro ficava repleto de galinhas, completando o feito de meu pai”.
Bem depois, a família morava mais precariamente: “Naquela noite, comemos novamente o arroz com carne de porco. Diferente do dia anterior, o céu relampejava no alto da serra.Após cada relâmpago, chegava um forte trovão. Era o sinal que papai estava esperando há dias para tomar a decisão e iniciar a semeadura. Na casa de pau-a-pique, as goteiras vazavam por todos os lados. A cobertura de sapé do telhado não venceu a água que caía com fartura sobre a terra. Se o desconforto de dormir no meio da água era grande, os comentários de meu pai eram de agradecimento, “Deus ouviu as minhas orações e mandou essa abençoada chuva’, exclamava ele”.
Almeida confirma as qualidades literárias: “Não me preocupei com a precisão dos fatos relatados”. E insiste: “Se os fatos não são totalmente precisos, com certeza relatam momentos reais que vivi e carrego de forma vívida em minhas lembranças”. Em suma, um belo livro.

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Um comentário:

Anônimo disse...

Pois é: estudou tanto e não aprendeu nada. Abr. Roberto.