A revista Caros Amigos publicou há poucos meses o seguinte artigo:
Regime militar, anarquia, cultura viva, culturas mortas, Mahler....
Um dos lançamentos recentes mais importantes é o livro “Cale-se – A saga de Vannuchi Leme, A USP como aldeia gaulesa, O show proibido de Gilberto Gil”, editado por A Girafa, em que o jornalista Caio Túlio Costa, um dos responsáveis pela renovação da “Folha de S. Paulo” nos anos 1980 e que atualmente dirige o Portal Ig, descreve o movimento estudantil paulista de resistência ao regime militar nos anos 1970; quadros dos grupos políticos estudantis de então estão até hoje atuantes no PT e no PSDB. Os pontos altos do livro são a missa de sétimo dia em 1973 pela morte do estudante Alexandre Vannucchi Leme, assassinado por agentes do regime militar, missa que foi a primeira grande manifestação de massa em São Paulo desde as passeatas de 1968, e o show “Cálice”, de Gilberto Gil, que chegou a ser proibido pelas autoridades da época. Mas o livro tem muito mais coisas, como a primeira descrição da execução, por agentes do regime militar, do também estudante Ronald Mouth Queiróz, e um histórico de grupos políticos como a Ação Libertadora Nacional e a Ação Popular, além de um balanço, três décadas depois, do que aconteceu com os participantes daquelas movimentações. Não perca.
Pela Garimpo saiu o livro “Anarquia e cristianismo”, do sociólogo e teólogo protestante francês Jacques Ellul (1912-1994), segundo o qual “o cristianismo carrega em si uma predisposição à insubmissão, à dissidência e até mesmo à recusa de todo tipo de hierarquia... inclusive interna”. Ellul refere-se, naturalmente, ao cristianismo dos primeiros séculos, já que, “ao longo da história, principalmente a partir do século 19, o cristianismo passou a ser, de maneira geral, identificado com o conservadorismo político e social. Mas nem sempre foi assim. Em sua gênese, a Igreja Cristã se distinguia de grande parte dos demais movimentos de fundamento religioso por sua ousadia e seu inconformismo diante do poder e de toda a opressão que ele representava”.
Já a obra “Ponto de Cultura – o Brasil de baixo para cima”, do historiador Célio Turino, publicado pela Anita Garibaldi, é assim apresentada pelo cientista político Emir Sader: “Quando o ministro Gilberto Gil convidou Célio Turino para desenvolver um programa de democratização e acesso à cultura, mal se podia imaginar as extraordinárias iniciativas, que cruzam o Brasil de um ponto a outro, do sertão ao mar, da Amazônia às pampas. Neste belíssimo livro – não resisto a usar as palavras belo, beleza, a melhor forma de defini-lo – Célio mostra como sua trajetória se confunde com a busca de políticas culturais democráticas e populares para o Brasil (....). Venha, na leitura deste livro, a conhecer o Brasil, o Brasil silenciado, o Brasil que era convidado antes apenas para assistir ao país inventado pelas elites brancas do sul e que agora vai forjando os espaços e os tempos da sua emancipação”. Vemos em suma como, em literalmente centenas de Pontos de Cultura por todo o País, se manifestam, dos índios da Amazônia aos mestiços de Campinas-SP, passando pelos negros da Bahia, as riquíssimas diversidades culturais brasileiras, durante séculos não só combatidas como mais miseravelmente desprezadas pelas elites ditas brancas.
Seria muito útil combinar a leitura do livro de Turino com a do volume “A história da destruição cultural da América Latina – Da conquista à globalização”, lançado pela Editora Nova Fronteira, de autoria do pesquisador venezuelano Fernando Báez, celebrizado por sua obra “História universal da destruição dos livros”. Báez relata: “Além do roubo de matérias=primas, descobri que mais enfurecida e descarada foi a destruição cultural, ou etnocídio; cada assassínio proporcionava desculpas para aniquilar com mais força os símbolos das vítimas; cada novo tormento exigia uma transculturação mais acelerada”.
Este ano se comemoram 150 anos do nascimento do compositor austríaco Gustav Mahler e no ano que vem se lembrarão os 100 anos de sua morte. A propósito dessas importantes datas, a Autêntica lança no Brasil o lindo livro do psiquiatra, psicanalista e crítico cultural argentino Arnoldo Liberman, “Gustav Mahler – Um coração angustiado – Uma biografia em quatro movimentos”. Mahler, um dos maiores músicos de todos os tempos, sofreu por ser judeu na Boêmia em que nasceu; por ter natural da Boêmia na Áustria em que cresceu; por ser natural da Áustria-Hungria na Alemanha em que se estabeleceu – numa época em que o russo Tchaikovski, por exemplo, era considerado um compositor “menor”, por não ser de origem alemã. O livro informa e emociona.
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