12 de outubro de 2010

Belluzzo: crise ainda demora

Recentemente o Diário de S. Paulo me encomendou o seguinte artigo:

Crise vai durar mais cinco
ou seis anos, diz Belluzzo


Renato Pompeu
Especial para o Diário

Quando começou a atual crise econômica internacional, em setembro de 2008, o economista Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, mais conhecido do grande público como presidente do Palmeiras, foi considerado indevidamente pessimista pela grande maioria dos seus colegas, por ter avaliado que a economia mundial levaria três anos para se normalizar. Agora, dois anos depois, a extensão da crise para a Europa permite concluir que Belluzzo, antigo professor da Unicamp, estava certo. Mas, enquanto seus colegas voltam a proclamar que o pior já passou, quanto ele imagina hoje que a crise ainda vai durar? Belluzzo responde:
“A crise começou como uma crise financeira, mas agora podemos ver que há uma segunda crise, uma crise muito mais profunda, uma crise ao nível da produção e do consumo. Nas últimas décadas, se consolidou o que chamo de modelo sino-americano, em que a produção industrial se concentrou no leste da Ásia, em especial na China, e o consumo se concentrou no Ocidente adiantado, em especial nos Estados Unidos. No entanto, se criou um descompasso, pois a produção cresceu além da possibilidade do consumo, já que a renda dos consumidores, em particular entre os 40 por cento menos ricos entre os americanos, se estagnou e até mesmo diminuiu”.
Segundo Belluzzo, se tentou contornar esses problemas de excesso de produção em relação ao consumo por meio da criação de diversos mecanismos financeiros de crédito, que levaram a um brutal endividamento das famílias americanas, até que a chamada bolha estourou em 2008. Esse processo se repete agora na Europa. Os governos dos EUA e europeus foram obrigados a fazer duas coisas: aumentar seu déficit (gastam mais do que arrecadam), para permitir um mínimo de renda aos cidadãos, já que as empresas privadas estavam endividadas e não eram mais fonte de renda, e tornar pública a dívida privada, desonerando as empresas particulares.
“Aquilo que era uma crise financeira privada transmutou-se numa crise financeira do Estado. Salvas pelo Estado, as empresas privadas passaram a cobrar mais de juros pelos financiamentos ao Estado”, diz Belluzzo.
Daqui para a frente, acrescenta, “teremos de cinco a seis anos de crescimento mínimo, praticamente imperceptível, na Europa, enquanto o problema do endividamento das famílias americanas também deverá demorar para ser solucionado”. China, Índia o Brasil deverão continuar crescendo, intensificando os laços econômicos entre si, mas não ficarão imunes ao baixo crescimento que vai predominar no mundo.
Mas o realmente importante, insiste Belluzzo, não é a crise financeira, que aliás, na sua opinião, já foi debelada pelas ações do governo, e sim a crise estrutural ao nível da produção industrial e do consumo. “Ou alguém acredita que em breve os Estados Unidos vão recuperar a sua antiga capacidade industrial? Não vão e essa crise estrutural não pode ser resolvida por mecanismos financeiros governamentais”, conclui Belluzzo.

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