6 de novembro de 2010

Livros, livros... Manoel de Barros

A revista Caros Amigos, há alguns meses, publicou o seguinte artigo:


Manoel de Barros, a rosa de maio, e outras capas mais ou menos duras

“Rosas de maio”, nome de canção gravada nos anos 1940 pelo grande Carlos Galhardo, é a frase que me ocorre para saudar o grande lançamento do mês: a “Poesia completa”, de mais de 490 páginas, do grande Manoel de Barros, volume lançado pela Leya, com capa dura e magníficas ilustrações coloridas. Estão no livro desde os “Poemas concebidos sem pecado”, de 1937, até o “Menino do Mato”, de 2010. Na parte infantil, desde os “Exercícios de ser criança”, de 1999, até o “Poeminha em Língua de brincar”, de 2007. Aqui vão dois “desenhos verbais”: “Sapo é um pedaço de chão que pula”, “Poesia é a infância da língua”.
De capa também dura, mas mais mole do que a da “Poesia completa”, é “O escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século 19”, do famoso sociólogo, já falecido, Gilberto Freyre, publicação da Global. O autor pesquisa os anúncios de compra e venda e de aluguel de escravos e os de busca de escravos fugidos para anotar características dos negros no Brasil na época. Há belas ilustrações. Exemplo de anúncio: “Escravos fugidos. ATTENÇÃO. Fugio desde o dia 13 de agosto do corrente ano o escravo Luiz, com os signaes seguintes: alto e bem feito de corpo, tem dentes limados e perfeitos e o dedo mínimo do pé cortado; quando falla com medo é bastante gago. Este escravo é natural do Sobral e ha toda certeza que seguio para dito lugar por terra. pede-se por tanto a sua apprehensão a qualquer pessoa, que será bem recompensado: a ntender com o seu senhor na rua Direita n 112, ou na rua de Apollo n. 43, armazém de assucar”. Por aí ficamos sabendo que se limavam os dentes dos escravos e que deles era amputado o dedinho do pé.
Igualmente de capa dura, mas ainda menos dura do que “O escravo”, é o volume de estudos antropológicos “Religiões e cidades – Rio de Janeiro e São Paulo”, organizado por Clara Mafra e Ronaldo de Almeida, lançado pela Editora Terceiro Nome.Em discussão, temas como religião e metrópole, pluralismo religioso e espaço metropolitano, o sagrado no tempo e espaço metropolitano, religiosidades japonesas no bairro da Liberdade e pregações na praça da Sé, nos dois casos em São Paulo.
Outra bela edição de capa dura, mas desta vez dura mesmo, é a coleção “Temas da arte contemporânea”, seis livrinhos da escritora e professora Katia Canton, em publicação da WMF Martins Fontes conjunta com o Programa de Ação Cultural da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo. Os seis volumes: “Tempo e memória”, “Narrativas enviesadas”, “Espaço e lugar”, “Do moderno ao contemporâneo”, “Da política às micropolíticas”, “Corpo, identidade e erotismo”.
As capas mais moles de todas até agora, mas ainda assim espessas e resistentes, são dos livros da Coleção Contemporânea, lançamentos da Civilização Brasileira: “Ficção brasileira contemporânea”, de Karl Erik Schollhammer, que abarca desde os anos 80 até os anos 00, e “A atualidade de Walter Benjamin e de Theodor W. Adorno”, de Márcio Seligmann-Silva, sobre os famosos pensadores alemães da Escola de Frankfurt.
Do mesmo modo espessa e resistente é a capa de “História da riqueza do homem – Do feudalismo ao século XXI”, célebre obra do americano Leo Huberman, em 22.a edição revista e ampliada, com dois capítulos sobre a segunda metade do século XX, de autoria da pesquisadora brasileira Marcia Guerra. A bela edição é da Gen-LTC.
Grossa como papelão é a capa de “Curral da morte – O impeachment de sangue, poder e política no Nordeste”, de Jorge Oliveira, obra que, apesar de publicada por uma grande editora, a Record, não teve a divulgação que seria merecida e necessária. Diz a contracapa: “Se olharmos o mapa de Alagoas com atenção, veremos que tem o formato exato de uma pistola. A coronha ao norte, onde está a capital, Maceió; o cano aponta para o sertão pernambucano; e o gatilho fica em Palmeira dos Índios, terra onde vivem os Xucuru, ainda espantados pela colonização litorânea, e os Cariri, fugidos de Pernambuco. A cidade começou com uma capelinha de tijolo e taipa construída por Frei Domingos na Serra Boa Vista em 1773. Eis o cenário ideal dessa história: o gatilho”. O centro do livro é o episódio de 1957, quando ocorreu um tiroteio, com 1.200 tiros e vários mortos, entre os deputados na Assembléia Legislativa de Alagoas, na sessão em que se deveria votar o impeachment do governador Muniz Falcão.
Outra brochura de capa resistente trata da “pós-cidade” e do “pós-urbano”. Trata-se de “A condição urbana – A cidade na era da globalização”, do pesquisador francês Olivier Mongin, edição ilustrada da França.br e Estação Liberdade. As grandes metrópoles praticamente sem limites de hoje, ainda por cima ligadas pela Internet e outras redes, desafiam as nações de identidade cívica herdadas das cidades gregas antigas, das cidades italianas do Renascimento, de Paris como Cidade-Luz, e das grandes cidades industriais do passado.

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