Recentemente o Diário do Comércio de São Paulo me encomendou a seguinte resenha:
Falam Hemingway, Borges,
Faulkner... na “Paris Review”
Renato Pompeu
Lançada em 1953 em Paris, mas em inglês, por jovens americanos ali radicados, a revista cultural “Paris Review” consagrou-se já no primeiro número por lançar um modelo de entrevistas em profundidade, a cada edição trimestral, de um escritor importante, como Ernest Hemingway, Jorge Luis Borges ou William Faulkner, num estilo que só teria algum tipo de eco distante no Brasil bem mais de uma década depois, nas páginas de “O Pasquim”, e que até hoje não tem contrapartida em nosso país. Agora, finalmente, saíram catorze dessas entrevistas em português, pela Companhia das Letras, no volume 1 de “As entrevistas da Paris Review”, inclusive as de Hemingway, Borges e Faulkner. Todas as entrevistas são importantes, interessantes e reveladoras, tanto das concepções literárias quanto das visões pessoais dos autores – e, sem dúvida, é uma obra que deve ser lida com proveito por todos os amantes da boa literatura.
Algumas observações se impõem a respeito da edição da Cia. das Letras. Embora se informe que se trata do volume 1, não se informa de quantos volumes vai constar a coleção completa, nem quais seriam os demais autores cujas entrevistas vão ser publicadas em português. De todo modo, em inglês todas as entrevistas estão disponíveis no site http://www.theparisreview.org/interviews. Além disso, os catorze autores do volume 1 em português não estão todos incluídos entre os dezesseis autores que constam do volume 1 editado em inglês, sem que haja informações aos leitores e leitoras do Brasil a respeito de quem selecionou as entrevistas, muito menos quais os critérios usados para a escolha.
E ainda mais: se da edição brasileira constam nomes bem conhecidos como Faulkner, Borges, Hemingway, Billy Wilder (cineasta que foi considerado escritor por ser também grande roteirista), W.H. Auden, Primo Levi, Amos Oz, Manuel Puig, Louis-Ferdinand Céline, Doris Lessing e Truman Capote, constam também nomes menos conhecidos no Brasil, como Javier Marías, Ian McEwan e Paul Auster. Do volume 1 em inglês constam, em comum com a edição brasileira, apenas Capote, Hemingway, Borges e Wilder, mas há igualmente outros nomes bem familiares ao público culto brasileiro, como Dorothy Parker, T.S. Eliot, Saul Bellow, Kurt Vonnegut, James M. Cain, Rebecca West, Elizabeth Bishop, a par de outros menos conhecidos, como Robert Stone, Robert Gottlieb, Richard Price, Jack Gilbert e Joan Didion.
Procurada por telefone pelo DC Cultura, a Companhia das Letras informou por escrito: “Sobre o livro ‘As entrevistas da Paris Review - vol. 1’, a editora esclarece que as entrevistas foram escolhidas pelo conselho editorial dentre todas as presentes na coleção em 4 partes publicada nos EUA. Foram selecionadas aquelas que resistem ao teste do tempo e cujos autores são conhecidos no Brasil, ao mesmo tempo mantendo o cuidado de equilibrar nomes clássicos e contemporâneos. O texto usado como base para tradução foi os dos livros americanos, que é rigorosamente igual ao publicado originalmente pela Paris Review. Haverá um segundo volume da coletânea, previsto para 2012, todavia não podemos divulgar quais autores farão parte dela porque o processo de escolha ainda não foi finalizado.”
Evidentemente, esses esclarecimentos deveriam ter constado do volume agora posto à venda, para que todos os seus leitores e leitoras ficassem devidamente informados, e não só os leitores do DC Cultura. Deve-se assinalar que os nomes dos membros do conselho editorial não figuram nem nessa nota da editora, nem nas informações encontradas no livro. Dos autores constantes do volume de entrevistas da “Paris Review” agora publicado pela Companhia das Letras, tiveram livros anteriormente por ela editados W.H. Auden, Jorge Luis Borges, Primo Levi, Amos Oz, Javier Marías, Ian McEwan, Paul Auster, Louis-Ferdinand Céline, Doris Lessing e Truman Capote, ou seja, a maioria; só não foram publicados pela própria editora Billy Wilder, Ernest Hemingway, William Faulkner e Manuel Puig,.
Em 1988, a Companhia das Letras publicou o livro “Os escritores 1 – As históricas entrevistas da Paris Review”, com entrevistas de E. M. Forster, Louis-Ferdinand Céline, Ezra Pound, T. S. Eliot, Dorothy Parker, John dos Passos, Evelyn Waugh, Jorge Luis Borges, William Faulkner, Saul Bellow, Isaac Bashevis Singer, Georges Simenon, John Cheever, Gore Vidal, Milan Kundera, William Burroughs e Nadine Gordimer. No ano seguinte, ela publicou o volume 2, com entrevistas de H. Miller, E. Hemingway, W. Carlos Williams, J. Cocteau, G. Garcia Marquez, P. Roth e outros. Nos casos de Céline, Borges, Faulkner, Hemingway teriam sido reeditadas as traduções?
Novamente procurada, por telefone e por mensagem na Internet, a Companhia das Letras informou, por escrito:
“Todos os editores fazem parte do conselho editorial. Nosso quadro de editores atualmente é composto por: Luiz Schwarcz, Maria Emilia Bender, Matinas Suzuki, André Conti, Thyago Nogueira, Marta Garcia, Júlia Schwarcz e Leandro Sarmatz. A alta incidência de entrevistas selecionadas cujos autores constam em nosso catálogo se explica simplesmente porque grande parte dos entrevistados da ‘Paris Review’ já foi publicada pela Companhia das Letras, já que a linha editorial é semelhante. De fato publicamos dois volumes de entrevistas na década de 80, mas todas as traduções são novas, feitas por Sérgio Alcides e Christian Schwartz”.
Esclarece ainda a editora que não figura mais em seu catálogo o poeta W.H. Auden (o livro de poemas está esgotado há muitos anos).
De todo modo a leitura do volume 1 de “As entrevistas da Paris Review” é plenamente recomendável.
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