16 de abril de 2012

Do radicalismo esquerdista ao conservadorismo extremado

Recentemente o Diário do Comércio de São Paulo publicou a seguinte resenha de minha autoria:


Do esquerdismo ao conservadorismo,

a trajetória de David Horowitz



Renato Pompeu



Quinze anos após sua edição original nos Estados Unidos, sai afinal em edição brasileira, pela Editora Peixoto Neto, o livro “Filho radical – A odisseia de uma geração”, em que o importante intelectual e militante conservador David Horowitz, que acaba de completar 73 anos e que tinha 58 anos quando publicou o livro, relata sua trajetória desde o esquerdismo radical da juventude até o conservadorismo na idade madura. É um tipo de livro raro no Brasil, onde predomina a memorialística de pessoas que continuam sendo esquerdistas, apesar de existir no País um grande número de ex-marxistas e ex-esquerdistas que hoje são conservadores ou neoliberais.

Horowitz nasceu em Nova York em 1939, filho de um casal judaico de professores secundários, o pai professor de Inglês e a mãe professora de Estenografia, que eram membros do Partido Comunista dos Estados Unidos e firmes partidários do líder soviético Iussuf Stalin. Segundo o livro, os pais de Horowitz, e o próprio jovem David, estavam conscientes de que, militantes comunistas pró-soviéticos num país que tinha a União Soviética, após a Segunda Guerra Mundial, como a sua grande inimiga, em especial no que se refere a segredos nucleares, ficavam sujeitos a serem considerados, a qualquer momento, como traidores da pátria, e mesmo se comportavam como se fossem, realmente, agentes secretos, embora nunca tivessem cometido qualquer ilegalidade ou mesmo encontrado qualquer agente soviético.

O filho se formou em Inglês na Universidade de Columbia e fez o mestrado na Universidade da Califórnia em Berkeley. Mas, antes disso, quando ele tinha 17 anos, em 1956, os pais sofreram um trauma, com a revelação do discurso do líder soviético Nikita Kruchtchiov no 20.o Congresso do PCUS, em que ele denunciou os crimes de Stalin. Imediatamente o casal se desligou do Partido Comunista dos EUA.

Mesmo assim o filho continuou se considerando marxista, embora não-stalinista, e, terminada a faculdade e o mestrado, no começo dos anos 1960, foi trabalhar em Londres, na fundação mantida pelo filósofo pacifista britânico Bertrand Russell. De acordo com Horowitz, o chamado Tribunal Bertrand Russell – um grupo de intelectuais de todo o mundo, encarregado de “julgar” os Estados Unidos pela guerra do Vietnã – foi um foco de intrigas internas, brigas e ciumeiras entre seus membros mais eminentes, o intelectual trotskista polonês radicado na Inglaterra Isaac Deutscher, os filósofos existencialistas franceses Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, o líder negro americano Stokeley Carmichael e o escritor negro também americano James Baldwin. Horowitz se tornou próximo de Deutscher, que também era judeu, tinha escrito as biografias de Stalin e de Trotski, e que, embora fosse antistalinista, defendia a União Soviética como sendo um Estado de trabalhadores.

Horowitz publicou uma biografia de Deutscher em 1971, quando já tinha retornado, em 1968, aos Estados Unidos. Ainda como militante marxista radical, com mais de 30 anos de idade, se tornou bastante próximo de Huey Newton, líder do Partido Pantera Negra. Horowitz recomendou a Newton a contratação da contadora Betty van Patter, que conhecia da redação da revista ultraesquerdista “Ramparts”.  Mas, em dezembro de 1974, a moça foi encontrada morta flutuando junto ao porto da cidade de São Francisco. Horowitz se convenceu de que a contadora havia sido assassinada pelos próprios Panteras Negras, o que foi confirmado por membros do partido. Foi por causa disso que Horowitz, como os pais, sofreu um trauma que o fez abandonar o marxismo para sempre, aos 35 anos de idade.

A rejeição ao marxismo por parte de Horowitz só se tornou pública, porém, durante a campanha para a eleição presidencial americana de 1985, quando ele tinha 46 anos e escreveu um artigo publicado no jornal “The Washington Post”, em que anunciou seu apoio à reeleição do presidente conservador Ronald Reagan. Em maio de 1989, seis meses antes da derrubada do Muro de Berlim, Horowitz viajou para Cracóvia, na Polônia, onde apelou para o fim do socialismo naquele país.

Ele apoiou a chamada Doutrina Bush, que prega o intervencionismo militar americano para combater o terrorismo e instaurar a democracia em outros países, mas, num período não coberto pelo livro, que é de 1997 e descreve sua trajetória em geral até 1992, ele se opôs em 1999 à intervenção da Otan no Kossovo, dizendo que era prejudicial aos interesses americanos. Possivelmente isso se deva aos benefícios que a intervenção trouxe aos kossovares albaneses, que são islamitas, pois Horowitz é um dos principais autores intelectuais da campanha conservadora contra o chamado terrorismo muçulmano e um dos principais denunciantes do que aponta como uma aliança entre o chamado islamofascismo e os esquerdistas de todo o mundo, inclusive dos Estados Unidos. Defensor de Israel, Horowitz considera que os palestinos realmente têm direito a um Estado próprio, mas em território jordaniano. Se suas opiniões são polêmicas, não há dúvida de que ele é sincero e julga defender o que é melhor para a esmagadora maioria não só dos americanos, como também de toda a população mundial.

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