Como o ator Michael J. Fox abandonou
a escola, mas conseguiu se educar
Renato Pompeu
A primeira coisa a se notar no livro do ator canadense radicado nos Estados Unidos, Michael J. Fox (“Caras & caretas”, “Spin City” e “De volta para o futuro”), 50 anos, livro intitulado ”Coisas engraçadas aconteceram no caminho para o futuro”, lançado pela Planeta no Brasil mais de um ano após a edição americana original, é que a obra se destina, mais particularmente, a estudantes, e, mais amplamente, a fãs do ator de modo específico e de cinema em geral, e a todos os interessados em doença de Parkinson, em especial os pacientes, seus familiares, médicos e atendentes.
Na verdade, o título original seria mais bem traduzido por “Uma coisa engraçada aconteceu no caminho para o futuro – Voltas e contravoltas e lições aprendidas”. Trata-se de uma avaliação sobre se, afinal de contas, valeu ou não a pena abandonar a escola no meio do secundário para se tornar um ator de sucesso.
Fox nasceu como Michael Andrew Fox em 1961 em Edmonton, capital da Província de Alberta, no Canadá, filho de uma atriz e de um oficial militar. Como em geral acontece com as famílias de militares, a família de Fox mudou constantemente de endereço, e finalmente se radicou em Burnaby, perto de Vancouver, na Província da Columbia Britânica. O jovem era aluno da Escola Secundária Burnaby Sul, que abandonou aos 15 anos de idade para estrelar uma série da televisão canadense, “Leo e eu”. Aos 18 anos, foi tentar o cinema em Los Angeles nos Estados Unidos. Ao se registrar no Sindicato de Atores da Tela dos EUA, para não ser confundido com o ator britânico também chamado Michael Fox, e não gostando do nome Andrew, se identificou como Michael J. Fox, em homenagem ao ator Michael J. Pollard.
Aqui se deve notar que a narrativa de Fox no novo livro (ele havia escrito outros dois) trata em seu início exatamente desses dois pontos: a saída da escola de Burnaby e o seu primeiro ano em Los Angeles. O livro começa com uma avaliação do ensino na escola, comparado com a educação pela vida – ele se diz algo assim como doutor pela Universidade do Universal. O texto da segunda parte é organizado como uma grade curricular, com capítulos intitulados “Economia”, “Literatura comparada”, “Física”, “Ciências políticas” e “Geografia”.
No capítulo “Economia”, ele conta como ganhou 50 mil dólares em seu primeiro ano em Los Angeles... e como gastou nesse mesmo período exatamente 75 mil dólares!!! Teve de vender toda a mobília de sua casa na cidade americana e, para economizar, comia só macarrão e queijo, até que surgiu a oportunidade de fazer sucesso na televisão, exatamente como um personagem bastante conservador em suas finanças. Depois, veio a trilogia “De volta para o futuro”. Com tudo isso, e outras coisas, ele, que não se dava bem com os números na escola, indo mal por exemplo em física e matemática, aprendeu a se educar economicamente, a ponto de ser o responsável pela arrecadação de fundos milionários para sua campanha sobre a doença de Parkinson. Assim, se se pode dizer que, se não foi bem em economia na escola, acabou, na vida, depois de no começo bater cabeça, aprendendo a lidar com dinheiro – e com muito dinheiro, primeiro na carreira de ator, depois como militante pró-parkinsonianos.
Aliás, existe uma misteriosa relação entre sua carreira nas telas e o desenvolvimento de sua doença. Diagnosticado em 1991, aos 30 anos, ele só tornou pública a sua enfermidade em 1998, quando se tornou uma referência nas campanhas educativas sobre a doença e de incentivo a pesquisas sobre ela. Mas o importante é que, dos integrantes do pequeno elenco e da pequena equipe técnica de sua primeira série, “Leo e eu”, ainda na televisão canadense, outros três integrantes passaram a sofrer, por volta da mesma época, quinze anos depois, da doença de Parkinson. Essa proporção inusitada levou muita gente a elaborar uma tese segundo a qual fatores ambientais das locações dessa série teriam influenciado na eclosão da moléstia, sem que tenha podido haver confirmação dessa hipótese.
Por insistência de seu filho de quatro anos, Fox conseguiu um diploma de conclusão parcial do ensino secundário na mesma época em que descobriu sofrer do mal de Parkinson. Mas afinal, vale ou não a pena ser um bom aluno do ensino regular? Ele conclui: “É como eu já disse: não sou muito a favor de conselhos. Mas saio de cena com uma rápida análise. Ter controle sobre o próprio destino é um mito – e, de qualquer forma, é bem menos divertido. Preste atenção ao que acontece à sua volta. Leia o livro antes de ver o filme. Lembre-se: ainda que você, e só você, seja responsável pela sua felicidade, não há problema nenhum em ser responsável pela felicidade de mais alguém”.
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