28 de abril de 2013

Kissinger opina que China vai decair e ganha debate

Há tempo a seguinte resenha minha foi publicada no Diário do Comércio de São Paulo: A China, tema de um inédito debate com Henry Kissinger Renato Pompeu O livro “O século XXI pertence à China? – Um debate sobre a grande potência asiática”, editado no Brasil pela Campus, a partir da publicação original canadense em 2011, apresenta as intervenções, numa discussão sobre o futuro da China e do mundo nas próximas décadas, realizada em junho do ano passado em Toronto, no Canadá, entre nomes prestigiosos da política, da ciência histórica, da economia e do jornalismo. O debate foi promovido pela Fundação Aurea, fundada em 2006 pelo casal de milionários canadenses Peter e Melanie Munk para fomentar e divulgar debates e pesquisas de assuntos de interesse público. O Debate Munk, como é chamada a série, com ingressos que chegam a 90 dólares canadenses por interessado, é realizado de uma forma particularmente interessante. Às 7 horas da noite, antes de se iniciarem as discussões, o público presente vota “sim” ou “não” à pergunta em questão, no caso se o século 21 pertence à China. Se seguem as intervenções dos debatedores, que mais adiante discutem entre si e depois respondem às perguntas do público. Daí há uma segunda votação e o resultado é anunciado às 9 horas da noite. Isso permite avaliar se as discussões ajudaram a mudar a opinião dos espectadores. Entre os debatedores, se destacou o grande político americano nascido na Alemanha, Henry Kissinger, 89 anos, que dirigiu o Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos de 1965 a 1975 e foi secretário de Estado no governo Richard Nixon, de 1973 a 1979. Note-se que, apesar de décadas e décadas de vida pública, essa foi a primeira vez, em toda a sua vida, que Kissinger participou de um debate público. Kissinger é bastante qualificado para falar da China, pois foi o encarregado das gestões com o governo chinês a partir das quais o presidente Mao Zedong convidou o presidente Nixon para visitar a China, na chamada diplomacia do pingue-pongue, uma manobra espetacular de Washington e Pequim para diminuir, cada um de seu lado, a influência de Moscou no cenário mundial. O importante é que Kissinger responde “não” à pergunta do título do livro, argumentando que a China tem um problema demográfico monumental e que, assim, não há sentido em imaginar que seu grande progresso das últimas décadas vai prosseguir sem grandes sobressaltos por um tempo indefinido. Mas a isso se contrapõe o “sim” do renomado historiador britânico Niall Ferguson, que recentemente lançou livros, muito elogiados, sobre o colapso, já ocorrido, do Império Britânico, e sobre a decadência, que ele calcula inexorável, do Império Americano. Ferguson defende a tese de que, nos próximos dez ou vinte anos, não existe possibilidade de a economia chinesa sair dos trilhos. Entra aí, reforçando o “não” de Kissinger, o jornalista americano nascido na Índia Fareed Zakaria, da rede televisiva CNN. Muito prestigiado como comentarista internacional, ele considera que a China está entrando em uma nova era, mas que está despreparada, ideologicamente e organizacionalmente, para enfrentar os novos tempos. Isso faz eco às preocupações recentemente expressadas pelo próprio governo chinês, segundo as quais, no cenário exterior, a Europa e os EUA em crise deverão comprar menos produtos da China, e, no cenário nacional, a população em geral vai exigir participar das benesses proporcionadas pelo boom econômico, até aqui partilhadas apenas por setores privilegiados. Mas o economista chinês David Daokui Li, professor universitário em Pequim e membro da direção do Banco Central de seu país, responde “sim” à pergunta da noite, afirmando que a China encontrou uma nova maneira de controlar a economia de mercado que evita as crises periódicas que costumam acontecer em países capitalistas, sempre seguidas de novas fases de crescimento. Os chineses teriam descoberto a mágica de um capitalismo regulado para não ter crises.

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