17 de maio de 2013

Filha de SS e libertária

Uma resenha minha para a revista Carta Capital: A libertária filha da SS - Filha de um membro católico-romano da secular colônia alemã instalada no Banat, na Romênia, o qual durante a ocupação nazista foi integrante da temível SS, e de uma moça também católica alemã da Romênia que chegou a cumprir trabalhos forçados num gulag soviético, a escritora alemã nascida na Romênia Herta Múller, nascida em 1953 e Nobel em 2009, tornou-se uma militante libertária. Depois de várias tentativas, e de ter publicado em seu país natal um livro aprovado com alterações pela censura das autoridades comunistas, conseguiu finalmente radicar-se na então Alemanha Ocidental em 1987. Mas, antes disso, em 1986, tinha saído na Alemanha Ocidental este “O homem é um grande faisão no mundo”, agora lançado no Brasil. Conseguiu ao mesmo tempo agradar milhões de leitores em todo o mundo e desagradar praticamente todos que conviveram com ela na infância, pois o retrato que apresenta de uma aldeia alemã na Romênia após a Segunda Guerra, além de ser uma aguda crítica aos desmandos dos figurões comunistas, também ridiculariza a pequenez mental de seus compatriotas aldeões alemães. A vida ali é totalmente absurda, pois depende do cumprimento de regras fluidas e nunca explícitas tanto impostas pela tradição aldeã como pela repressão do regime romeno. A prosa da autora é ao mesmo tempo encantadoramente poética e também intricadamente enigmática, mesmo porque Herta Müller é conhecida por às vezes utilizar um método inusitado de escrever: recorta letras isoladas de jornais e as vai arranjando em frases. O resultado é maravilhoso. – RENATO POMPEU

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