2 de junho de 2013

Álbuns sobre Portinari e sobre recursos renováveis

Resenha encomendada pelo Diário do Comércio de São Paulo: Álbuns sobre os caminhos de Portinari e sobre energias renováveis, as atrações - Renato Pompeu - Dois belíssimos álbuns de luxo, com encantadoras ilustrações e textos bem informativos, ambos de grande formato, em agradável, aos olhos e ao tato, papel couchê, se destacam entre os lançamentos recentes. Um é “Caminhos de Portinari”, com fotos de Alan Nielsen, textos de Diógenes Moura e poemas do próprio Cândido Portinari (1903-1962), um dos mais importantes pintores brasileiros, edição em português e inglês patrocinada pela OHL Brasil e publicada pela Terra Virgem Editora. O outro, também em edição em português e inglês, se intitula “Energias renováveis no Brasil – desafios e oportunidades”, de autoria do engenheiro-elétrico e economista Emílio Lèbre La Rovere, físico Luiz Pinguelli Rosa, economista Ladislaw Dowbor, ecossocioeconomista Ignacy Sachs, todos nomes de projeção no cenário universitário internacional, publicado pelo Núcleo de Estudos do Futuro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC-SP, grupo dirigido por Dowbor. A intenção do fotógrafo Nielsen foi retratar as paisagens, tal como são hoje, da região de Brodowski, perto de Ribeirão Preto-SP, onde Portinari nasceu, filho de colonos italianos bem pobres, lavradores do café, que só se destacavam pelo sobrenome ilustre, o mesmo da florentina medieval Beatriz, inspiradora do poeta Dante Alighieri, e que era filha do banqueiro Folco di Portinari. A família era tão pobre que Portinari não chegou a completar o curso primário. Mas, aos 14 anos, foi recrutado, como ajudante, por um grupo itinerante de pintores e escultores italianos que trabalhava na restauração de igrejas. Revelou tanto talento que saiu de Brodowski com o grupo e, um ano depois, já era aluno, no Rio de Janeiro, da Escola Nacional de Belas-Artes, início de uma carreira vitoriosa nacional e internacionalmente que o levaria a pintar painéis que ornam a sede da Organização das Nações Unidas-ONU, em Nova York, e a Biblioteca do Congresso americano, em Washington. Pelo que se vê nas fotos de Nielsen, Brodowski agora é área de canaviais – e não de cafezais, como Portinari as conheceu na infância. Também casas que poderiam ser novas na época em que Portinari vagava por ali hoje estão envelhecidas e, até mesmo, deterioradas. Mas de todo modo as fotos retratam os ambientes ao mesmo tempo agrestes, exuberantes e vagamente melancólicos reproduzidos também nos poemas de Portinari que acompanham as imagens. Já o álbum sobre energias renováveis reúne fotos que documentam com rigor técnico e sensibilizam com altas qualidades estéticas o mundo ao mesmo tempo sombrio e promissor que emana, nas suas sombras, do consumo de combustíveis fósseis, e, nas suas promessas, das tentativas de uso das energias renováveis. Neste sentido, as fotos, reunidas a partir de diferentes arquivos, jornalísticos, públicos e empresariais, documentam de maneira eloquente as advertências de Dowbor em sua introdução, segundo as quais somos atualmente 7 bilhões de seres humanos no planeta, quando há apenas cem anos, havia 1,5 bilhão de pessoas no mundo. Cada um desses 7 bilhões lança ao lixo, por dia, um quilo de coisas no lixo. A níveis de consumo que no passado pareciam viáveis, por atingirem pequeno número de privilegiados, hoje aspiram praticamente todos os habitantes do planeta, e grande parte os estão alcançando, de modo que a pressão sobre os recursos naturais, entre eles as fontes de energia, cresce de maneira exponencial e alarmante. Mesmo porque, a cada ano, a população mundial cresce em 80 milhões de habitantes. Dowbor conclui: “A energia, como a água, é o sangue da nossa vida: intervém em todos os setores. Estamos chegando ao fim de uma era, do simples extrativismo, da energia fácil – a lenha, o petróleo, o carvão –, e entrando na era das formas sustentáveis e inteligentes de produzir, administrar e consumir energia. Felizmente, temos hoje as tecnologias e os recursos para empreender a construção de um novo paradigma energético”. Será?

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