27 de julho de 2013
Modelos históricos de educação
Trabalho de História da Educação - Com base no estudo realizado nesta disciplina, elabore um texto dissertativo de, no máximo, três
laudas analisando as características dos modelos pedagógicos antigo, medieval e moderno e em que
tais modelos podem auxiliar a formação do educador.
Vamos começar com uma citação um tanto longa, do artigo “A busca do sentido da formação humana: tarefa da Filosofia da Educação”, de Antônio Joaquim Severino, da Universidade de São Paulo, na revista Educação e Pesquisa. vol.32 no. 3, São Paulo, Set./Dez. 2006, http://dx.doi.org/10.1590/S1517-97022006000300013, constante em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1517-97022006000300013&script=sci_arttext&tlng=pt , acessado em novembro de 2011, logo na abertura:
“Com efeito, constata-se – no âmbito da história da filosofia, no contexto do desenvolvimento da cultura ocidental que, num primeiro momento histórico-teórico, identificável com os períodos da Antiguidade grega e da Medievalidade latina – que a ética prevaleceu como matriz paradigmática da formação humana, ou seja, o ideal humano era o aprimoramento ético-pessoal e esta era a finalidade essencial da educação. Já num segundo momento, historicamente situado na Era Moderna, esse ideal se delineava como uma adequada inserção da pessoa na sociedade. A política era a grande matriz. E agora, no momento histórico recente da contemporaneidade, a reflexão filosófica passa por uma inflexão nesse modo de se conceber a própria idéia da formação humana e, conseqüentemente, também se transforma o modo de se ver a educação. Mesmo sem a nitidez das perspectivas anteriores, o que parece estar se delineando é uma dimensão do formar que afirma, nega e supera as perspectivas éticas e políticas da educação, tais quais delineadas ao longo da nossa tradição filosófica ocidental. Sem perder as imprescindíveis referências éticas e políticas, mais que se afirmar como processo de formação de um sujeito ético ou de um sujeito cidadão, o que está em pauta é a própria construção do sujeito humano no tempo histórico e no espaço social, como sujeito integralmente ético e político, pessoa-habitante de um universo coletivo. Para o olhar da contemporânea Filosofia da Educação, o homem, ser em devir, ser inacabado e lacunar, não tem um ideal a ser buscado ou a ser realizado, mas encontra-se condenado a construir para si uma configuração própria não prevista nem previsível, como se tivesse que dar a si mesmo uma destinação. E assim tanto a ética como a política perdem suas, até então, exacerbadas autonomia e preponderância como referências básicas isoladas para a prática educacional. Agora, nessa prática, o homem não se desenha mais como um ser pessoal, desempenhando um modelo de ação, nem como puro ser social, membro devidamente adequado à sociedade, tal parece ser o significado que vem tomando hoje, no quadro da filosofia contemporânea, o próprio conceito de formação, perspectiva articulada particularmente pela Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, marco referencial da emergência do modo atual de filosofar. Sem dúvida, ao longo dos três milênios da expressão cultural da filosofia no Ocidente, ética e política sempre apareceram como referentes da educação. Já a Antiguidade expressava explicitamente essa relação tanto quanto a Modernidade nunca descartara a referência à ética. Também hoje continua recorrente a presença dessas perspectivas nos discursos educacionais.”
Se pode a partir daí, e dos estudos nas diversas Unidades do Material de Apoio, especular que, inicialmente, no Ocidente, durante milênios a ética foi o centro da educação, na Antiguidade e na Idade Média. No entanto, o conteúdo dessa ética variou não só do modelo antigo para o modelo medieval, como também dentro do modelo antigo e, menos, dentro do modelo medieval.
Assim, tanto na Antiguidade como na Idade Média, o objetivo da educação era formar um ser humano virtuoso. Mas, na época homérica da Antiguidade grega, essa virtude era muito mais vista como a virtude do combatente, sendo necessário que cada indivíduo (das camadas superiores, capazes de terem a propriedade de cavalos, espadas e outros armamentos dispendiosos) cultivasse a coragem física, a lealdade aos companheiros, a disciplina, o respeito à hierarquia, a desenvoltura física, a destreza nas cavalgadas e no uso dos armamentos, e outros atributos das funções militares. O ideal era o guerreiro valente e audacioso. O meio principal da educação era a ginástica, além do respeito aos deuses, principalmente à divindade patrocinadora de cada Pólis
Já na época clássica da Grécia, o ser humano virtuoso que se procurava formar era o cidadão exemplar da Pólis, isto é, uma pessoa (sempre livre e do sexo masculino, nunca mulher ou escravo) capaz de se comunicar adequadamente, tanto no sentido de poder expressar claramente as suas opiniões, como no sentido de ouvir respeitosamente o que os outros tinham a dizer e dotada da capacidade de replicar. Fazia parte da ética cidadã também o respeito às instituições vigentes e a disposição para defende-las, por meio inclusive de ações de combate, para o que era necessária a educação física. O ideal era o governante-filósofo, capaz de liderar, de discutir e de convencer. O meio principal da educação era a retórica.
Na Idade Média, o ser humano virtuoso que a educação visava formar era o cristão piedoso e praticante. Para a massa da população, analfabeta, a educação era feita no catecismo, nos sermões, nos aconselhamentos dos padres e em particular dos confessores, e também pelos vitrais e em outras ilustrações, em que apareciam cenas edificantes. Já os nobres cultivavam virtudes semelhantes aos dos tempos homéricos, porém em honra do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Mas a grande tarefa da educação era a formação dos sacerdotes, muito mais requintada do que a destinada aos leigos e, inclusive, do que a destinada aos homens. Também aqui o meio principal da educação era a retórica, mas o fim não era formar todos os indivíduos livres para que pudessem bem se expressar e bem ouvir outros indivíduos livres. Formava-se, isso sim, uma casta de padres capazes de bem conceber e bem expressar sermões e pregações em geral. O meio principal para isso também era a retórica. Mas, enquanto na Pólis grega se formava cada indivíduo (livre e do sexo masculino) para expressar suas próprias opiniões, o ideal medieval admitia, se pode dizer, uma opinião só, a do cristão obediente à hierarquia sacerdotal e ao papa.
Se, porém, se pode concordar que o principal parâmetro da educação tanto na Antiguidade como na Idade Média, talvez na Idade Moderna, ao invés da política, como diz o texto citado acima, o principal parâmetro seja sim a inserção social, mas não no que se refere à política, e sim no que se refere ao fato de a educação, na modernidade, ter como característica específica o proporcionar ao educando possibilidades de ascensão social. Tal não era o caso nem na Antiguidade, nem na Idade Média, pois tanto as sociedades antigas como as medievais eram estáticas e cada pessoa nascia e morria na mesma classe social. (Havia algumas exceções, como libertos na Antiguidade que buscavam se educar com sofistas para se tornarem proprietários, ou crianças pobres, na Idade Média, que conseguiam oportunidades para se tornarem sacerdotes.)
Na modernidade, no entanto, quando aparecem os nomes dos primeiros especialistas em educação, de Comênio a Pestalozzi, o objetivo central da educação era de que o educando levasse uma vida melhor do que seus pais. Isso fica bem claro, por exemplo, nas teorias educativas de Rousseau. Outro objetivo central foi a laicidade, e um terceiro foi a progressiva ampliação da presença, no currículo, das ciências e das técnicas.
Se soara a hora da inserção social, com a nova mobilidade social proporcionada pelo desenvolvimento do capitalismo, ainda não soara a hora da inserção de novos personagens na política, só possível a partir da progressiva instauração de regimes políticos primeiro mais abertos, depois já democráticos, já na Era Contemporânea. A partir do século 19, e com mais força no século 20, e com mais força ainda no século 21, os educadores se preocupam cada vez mais, primeiro com a formação de cidadãos conscientes de seus direitos, mais do que de seus deveres, nos regimes políticos de sufrágio universal, e, em segundo lugar, com uma formação cada vez mais multifacetada dos educandos. Contra uma forte tendência para a educação se limitar às habilidades necessárias para bem se inserir no mercado de trabalho e no mercado de consumo, os educadores buscam cada vez mais formas de possibilitar a cada educando o acesso não só ao êxito material, mas também ao desenvolvimento como pessoa, com a possibilidade de fazer frutificarem todos os seus diferentes potenciais, físicos, culturais, manuais, espirituais.
Assim se amalgamam, na educação contemporânea, todos os valores da educação antiga, da medieval e da moderna, além de valores novos que se foram descobrindo e, até mesmo, inventando. É claro, porém, que as condições reais estão muito longe dessas aspirações idealizadas.
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