8 de julho de 2013
Os cânones contra os oprimidos
Resenha encomendada pela revista Carta Capital:
Ataque ao viés
dos cânones -
No livro “Crítica em tempos de violência”, editado pela Edusp-Fapesp, o professor Jaime Ginzburg, de Letras da Universidade de São Paulo, faz, em diferentes ensaios, um bem documentado e bem argumentado ataque frontal ao elitismo dos cânones literários e propõe uma reformulação geral do ensino de Letras. Um dos seus principais objetivos é fazer ouvir a voz de autores vindos de setores da sociedade tradicionalmente excluídos das listas canônicas, como em geral as mulheres, os não-brancos, os trabalhadores e os homossexuais. Contra o chamado esteticismo da crítica literária e do ensino de letras, que só se ocupa dos pretensos “grandes autores”, uma das constatações mais importantes de Ginzburg é de que a arte não se pode fechar num nicho de beleza e harmonia em meio ao mundo violento em que vivemos. Ele defende a tese do pesquisador e teórico alemão Theodor Adorno, no texto “A educação depois de Auschwitz”, de que, após o Holocausto, se tem de reeducar toda a sociedade. “Crítica em tempos de violência” já alcança, logo no seu lançamento, o status de uma obra clássica das ciências humanas brasileiras. Mas talvez o alarme para a necessidade de reeducar a sociedade devesse já ter soado, entre os intelectuais ocidentais, logo depois dos genocídios contra índios da América e negros da África, como os perpetrados pela Coroa belga. – RENATO POMPEU
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