Como a tecnologia mudou minha vida

Eis um trabalho meu no curso de História: O uso da tecnologia nas casas Aos 70 anos de vida, conheci desde a infância as lâmpadas elétricas, a campainha elétrica, o ferro elétrico (minha avó ainda tinha o ferro a carvão), o fogão a gás de rua (minha avó tinha fogão a carvão), o aquecedor a gás para o banho, o rádio, o cinema, os aparelhos de raios X. Na minha pré-adolescência, minha família passou a ter vitrola, enceradeira (antes disso ajudei muito minha mãe passando cera com as mãos e depois passando o escovão para o chão brilhar) e chuveiro elétrico. Na minha adolescência, minha família passou a ter geladeira, liquidificador e televisão, além de automóvel. Outros aparelhos foram entrando no meu cotidiano desde então, os mais recentes deles o computador, a TV a cabo e os filmes em DVD, além do micro-ondas. Minha mãe, que tem 98 anos, costuma dizer que o progresso melhorou o conforto e piorou a convivência entre as pessoas. Ela quer dizer que hoje a vida é muito mais cômoda materialmente e muito mais pobre em solidariedade e em espiritualidade. Gosto muito de ouvir rádios noticiosas, ver futebol pela televisão e séries pela TV a cabo, de assistir a filmes em DVD e, acima de tudo, da Internet e do Word. Hoje leio mais no computador do que em livros de papel. Desfruto assim das maravilhas da tecnologia. Por outro lado, na minha infância, na pré-adolescência, na adolescência e mesmo na juventude, eu convivia muito mais com muito mais gente do que hoje. A convivência com os parentes até o quarto grau era muito intensa, com muitas conversas, muitas visitas, muitos jogos de salão, se ouvia rádio e vitrola em grupo e se assistia à televisão em grupo. Se viajava constantemente para ver parentes que moravam em outras cidades, em especial em datas festivas. A convivência com vizinhos num raio de cem metros também era bastante intensa, com conversas na calçada várias vezes por dia e muitas festas de rua de que participavam verdadeiras multidões. Hoje, trabalhando em casa, passo semanas sem ver outras pessoas a não ser as empregadas que frequentam minha casa por motivo de trabalho e seus filhos, irmãos e irmãs, aos quais minha casa está aberta. Falo mais com pessoas pelo telefone e pelo correio eletrônico do que pessoalmente. Por outro lado, por meus estudos e discussões com pesquisadores, sei que o desenvolvimento tecnológico é obrigatoriamente incessante no modo capitalista de produção. De um lado, é preciso sempre lançar novos produtos e criar novas necessidades entre as pessoas (acho que eu não conseguiria voltar a escrever com a máquina de escrever). De outro lado, e bem mais importante, é preciso, como dizia Marx, sempre reduzir o tempo de trabalho socialmente necessário para produzir cada mercadoria, a fim de reduzir o seu valor e, consequentemente, seu preço em relação ao preço cobrado pelos concorrentes. O capitalismo sistematicamente destrói a sua própria base, que é o valor-de-troca, pois o tende sistematicamente a reduzir. Quando essa redução do valor é muito grande, ou seja, quando a tecnologia é por demais avançada a ponto de fazer o valor da mercadoria, ou seja, o tempo de trabalho socialmente necessário para produzi-la, cair até perto de zero, ocorre a crise estrutural, calculada pelo russo dos anos 1920 Kondratieff como ocorrendo em períodos de cerca de 70 anos. Pouco mais de 70 anos depois de 1929, estamos em meio a outra crise estrutural do capitalismo, com a imensa massa de dinheiro referente ao valor antigo se tornando uma crise financeira, pois as finanças inchadas deixaram de ter maiores referências à economia real. Essa crise estrutural é ainda mais grave porque se dá pela primeira vez em meio ao esgotamento dos recursos naturais e à deterioração do ambiente em que pode haver vida. Enquanto isso, desfrutamos alegremente das delícias das novas tecnologias, indiferentes ao destino que nos aguarda, a destruição das riquezas velhas, ou seja, possivelmente a guerra generalizada.