8 de janeiro de 2014

O acaso e a sociobiologia

Da Carta Capital - Os novos caminhos da sociobiologia - Neste “A conquista social da Terra”, recém-lançado pela Companhia das Letras menos de um ano após a publicação original em inglês nos Estados Unidos, o principal fundador da sociobiologia, o americano Edward O. Wilson, dá um passo a frente em relação a seus trabalhos anteriores, mas sempre dentro de sua linha principal de explicar todo comportamento, aí incluídas as artes, a política, a religião e a própria noção de livre-arbítrio, a partir de condicionamentos biogenéticos. Aqui Wilson, aos 83 anos, dá mais subsídios às teses que inicialmente divulgou em 2010, segundo as quaisl o comportamento altruístico em relação a todos os membros de um grupo, sejam ou não aparentados, é mais importante do que o comportamento altruístico entre parentes consanguíneos. Esquematizando-se, o dever, geneticamente originado, de morrer pela pátria (ou pelo formigueiro) é mais importante, para a sociedade, do que o dever, igualmente originado, de morrer para salvar um filho. Isso despertou a ira da maioria dos sociobiólogos antes fãs de Wilson, dedicados aos estudos da chamada evolução parental e agora vendo seu guru minimizá-la em relação à evolução grupal. Para irritar ainda mais seus antigos seguidores, Wilson agora defende que a seleção grupal é responsável pelas virtudes morais altruísticas, enquanto a seleção parental é responsável pelos maus instintos do ser humano. O resultado é que a maioria dos sociobiólogos ficou tão irritada contra Wilson quanto tinham ficado os cientistas sociais e humanistas em geral em relação à sua postulação de que todos os comportamentos, pensamentos e escolhas humanas sofrem determinações biológicas. Ironicamente, nascido em 1929 em Birmingham, no Alabama, no auge das violências contra os negros nos Estados Unidos, Wilson teve sua carreira de pesquisador de animais sociais determinada por um drástico acaso mais socialmente externo a ele do que determinado internamente por sua biogenética. Acontece que, como entomólogo, ele pretendia estudar moscas, que não são insetos sociais, mas, diante da Segunda Guerra Mundial, ocorreu uma escassez de alfinetes para prendê-las. Assim, ele teve de optar pelas formigas, e, depois, por outros animais sociais, como nós, iniciando por acaso sua brilhante carreira de sociobiólogo.

Nenhum comentário: