11 de janeiro de 2014

Sem-teto fazem história, mas não a podem ler

Os sem-teto fazem a história, mas não a podem ler Assim como o pedreiro Waldemar fazia a casa e depois não podia entrar, como dizia a célebre marchinha de Carnaval, os sem-teto da Grande São Paulo ajudaram a fazer a história em três episódios nos anos 1990, um deles no terreno da antiga fábrica de caminhões da Volkswagen em São Bernardo do Campo, perto de onde os metalúrgicos do ABC faziam as suas históricas assembleias. Mas esses sem-teto não poderão ler “Movimentos de moradia e sem-teto em São Paulo – Experiências no contexto do desmanche”, obra do sociólogo Edson Miagusko publicada pela Alameda, com prefácio do seu renomado colega Francisco de Oliveira. As três histórias estão muito bem contadas, analisadas e interpretadas por Miagusko, mas elas só podem ser bem entendidas pelos portadores de bagagem cultural e teórica tão requintada quanto a do autor e quanto a do prefaciador. Senão vejamos, sem falar dos sem-teto, até mesmo o público culto terá dificuldades para entender frases como a seguinte: “O pêndulo entre a criminalização e a gestão de precariedades organiza os lugares em que os movimentos de moradia e sem-teto estão dispostos”. Não é à toa que, como Oliveira constata em seu prefácio, o ex-presidente Lula “não lê nada”. – RENATO POMPEU

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