29 de janeiro de 2010

China: dissidente acha que valeu a pena

Recentemente a Carta Capital me encomendou a seguinte resenha:

China: apesar de tudo, “valeu a pena”

Renato Pompeu

Avaliando um século de violências na China – décadas de guerra civil, a Segunda Guerra Mundial, o Grande Salto para a Frente, em que tantos morreram de fome, a Revolução Cultural, em que tantos foram agredidos e assassinados, e o recente capitalismo regulado pelo Estado, mas selvagem para grande parte da população –, a jornalista chinesa radicada na Inglaterra, Xinran, que passou 40 de seus 51 anos de vida na terra natal, chega neste livro Testemunhas da China – vozes de uma geração silenciosa (Companhia das Letras), à surpreendente conclusão de que tudo isso valeu a pena. .
Xinran, famosa pelo livro As boas mulheres da China,voltou à pátria em 2005 e 2006, preocupada em ouvir as histórias de vida de pessoas que viveram esses desastres e mais preocupada ainda porque as pessoas, na própria China, não falam desse passado calamitoso. A história oficial não o anota e os próprios pais e avós não contaram suas vidas aos filhos e netos, que por sua vez só querem saber das novidades do mercado.
Assim, em diferentes regiões da China, ouvimos a mulher orgulhosa por ter, há meio século, ajudado a construir cidades no deserto de Góbi, um dos desastres do Grande Salto para a Frente; o alto quadro comunista que sobreviveu a todos os expurgos simplesmente porque sabia jogar majongue (espécie de dominó chinês) com as mesmas regras que Mao Zedong conhecia, e a curandeira beneficiada pela Revolução Cultural: por ter a saúde pública entrado em colapso, tanto “revolucionários” como “contrarrevolucionários” recorriam a suas mezinhas. Afinal, valeu a pena.

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