Recentemente a revista Carta Capital me encomendou a seguinte resenha:
A Igreja Católica na República Velha: avanço e não recuo
Renato Pompeu
Vinte e um anos após seu lançamento pela Bertrand Brasil, a Cia. das Letras republica um clássico brasileiro da sociologia religiosa: “A elite eclesiástica brasileira – 1890-1930”, do sociólogo da USP Sergio Miceli, famoso por ter introduzido temas que eram tabus nas ciências sociais brasileiras, como os programas de televisão; o papel de eminentes intelectuais, como Carlos Drummond de Andrade e Graciliano Ramos, na institucionalização do Estado Novo. Antes de Miceli se ter debruçado sobre os arquivos da Igreja Católica e as biografias de prelados, como o cardeal Joaquim Arcoverde e dom Duarte Leopoldo, atuantes durante as quatro décadas da República Velha, esse período era considerado como de estagnação do catolicismo no Brasil. Afinal, tinha sido rompida a união da Igreja com o Estado e ela só voltaria a ser privilegiada pelo Estado após a Revolução de 1930. Miceli, no entanto, com vasta documentação à mão, mostra como esse período foi de revigoramento do catolicismo entre nós, primeiro, pela retomada do controle do Vaticano sobre a Igreja no Brasil, antes influenciada de perto pelos interesses do Estado imperial. Depois, pela retomada do patrimônio eclesiástico, antes em grande parte de posse do Estado; pela fundação de numerosos seminários, estagnados no século 19. Enfim, pelo desenvolvimento do ensino confessional, com a Igreja predominando no primário e secundário. O sociólogo mostra ainda como as hierarquias eclesiásticas souberam ter um papel estratégico nas ligações com as oligarquias regionais, deixando claro como as relações estamentais podem ser mais importantes do que as lutas de classes na conformação da sociedade e da história.
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