O seguinte artigo me foi encomendado pelo Diário do Comércio, de São Paulo:
Estaríamos no fim dos tempos?
A seguinte profecia poderia estar sendo proferida a partir do altar de alguma igreja evangélica hoje, em qualquer país do Ocidente:
“A seca, a fome, as epidemias e a guerra vão devastar o mundo. As pessoas não mais terão nenhuma religião a que possam se voltar para sua consolação ou libertação: as doutrinas do materialismo vão conquistar suas mentes e levá-las a lutar entre si pelos seus próprios fins egoístas. A ambição pelo poder e pela riqueza vai prevalecer acima dos ensinamentos da compaixão e da verdade. Nações combaterão nações, e as maiores vão engolir as menores”. Então terá chegado o fim dos tempos.
No entanto, essa descrição foi feita há 1.300 anos, atribuída a um monge budista que, segundo a tradição tibetana, viveu no reino de Shambhala, no norte do Tibete. Faz parte das 777 profecias sobre trinta Messias de diferentes religiões, incluindo Jesus Cristo, Buda e Adolf Hitler, cujo retorno está previsto, há séculos ou, no último caso, há décadas, precisamente para os dias atuais, mais exatamente entre 2000 e 2050, que constam do livro “Messiahs – The Visions and Prophecies for the Second Coming” (“Messias – As visões e profecias para o Segundo Advento”), do pesquisador americano John Hogue, editado pela Element.
Assim, não são só setores dos cristãos, ou dos maias, cujo calendário aponta o fim do mundo para 2012 – significativamente quando se encerra a vigência do Protocolo de Kyoto, não havendo nada para substituí-lo, tendo em vista o recente fracasso da Conferência de Copenhague – que estão esperando há tempo o fim do mundo para a era atual.
O calendário maia aponta o fim do mundo tal como o conhecemos para 21 de dezembro de 2012. Na verdade, existem vários calendários maias, ou mais exatamente, vários ciclos, um solar, um lunar e um baseado no planeta Vênus, popularmente conhecido como Estrela Dalva. O maior desses ciclos, de 13.400 anos, é que vai se encerrar, pela primeira vez na história, a 21 de dezembro de 2012. As previsões maias, na verdade, não indicam necessariamente uma catástrofe; tudo vai depender dos fenômenos celestes e das interpretações de oráculos qualificados, que ainda não se pronunciaram. Nos Estados Unidos, há anos, se popularizou a noção de que o fim desse ciclo maia vai marcar o fim do mundo, e os sinais disso já seriam visíveis nos incêndios florestais, nas queimadas, no degelo dos polos e das geleiras nas montanhas. Isso culminou no recente “disaster movie” (filme de desastre), “2012”. Pela maioria dos próprios maias do México e da Guatemala, porém, a data está sendo aguardada como um renascer de sua importância entre os povos do mundo.
Hogue programou o lançamento de seu livro para a virada do milênio, ao descobrir que centenas de profecias sobre dezenas de Messias de diferentes religiões ou correntes de pensamento coincidiam num ponto: a de situar o fim do mundo na época atual, ou literalmente, por uma previsão cronológica, como o calendário maia ou o segundo milênio de Cristo, ou simbolicamente, por descrever aparentemente situações semelhantes a algumas situações que ocorrem hoje.
É o que diz o Rognarök, profecia dos povos nórdicos antes de sua cristianização, há por volta de um milênio: “A Era do Mal chegou ao mundo. Todo mundo rouba e acumula grandes riquezas, e o pecado sensual domina os dias. O fim do mundo está próximo – mesmo assim os homens são duros e cruéis e não dão ouvidos à catástrofe que está vindo. Ninguém ouve os gritos de dor de seu próximo, ou ergue a mão para ajudar”.
A Canção de Quetzalcoatl, da América Central, anterior à chegada de Colombo, diz: “Durante cinco ciclos plenos da Estrela Dalva, o mando dos estrangeiros guerreiros vai continuar rumo a orgias cada vez maiores de destruição... Seu caminho vai levar à Última Destruição. Sabei que o fim virá em cinco ciclos plenos, pois cinco, a diferença entre o número da Terra e o número da Brilhante Estrela Dalva, é o número desses filhos da guerra”. Os crentes identificam isso como indicando o Pentágono, ou as cinco pontas de cada estrela da bandeira dos Estados Unidos, ou da bandeira da União Européia. E aqui lembremos que recentemente um relatório do Congresso americano previu que em meados de 2010 os Estados Unidos terão mais soldados em guerra do que durante a Guerra do Vietnã.
O guru ou iogue Padmasambhava, que segundo documentos do século 8.o introduziu o budismo no Tibete, previu, como condição para o fim do mundo: “Os sinais desses tempos são modos de vestir novos e fantásticos – os estilos tradicionais estarão esquecidos”. Ainda como situação que anunciaria o fim dos tempos, o mago Merlim, segundo a lenda céltica dos Cavaleiros da Távola Redonda, do século 5.o, profetizou: “A castidade será quebrada por moças solteiras, mulheres casadas e viúvas, sacerdotes e virgens”. De duzentos anos antes é a profecia do Srimad Bhagavata hindu: “Os teólogos hinduístas, por sua parte, serão indulgentes com o comércio sexual com suas mulheres, como búfalos”.
O mesmo livro diz: “As pessoas nesse tempo serão cobiçosas, imorais e impiedosas; elas entrarão facilmente na violência sem motivo, serão infelizes e ambiciosas”.
As famílias não escaparão ao fim dos tempos. Diz o Ragnarök: “Os belicosos atacam os pacíficos, irmãos matam irmãos e mesmo crianças derramam o sangue umas das outras”, como está acontecendo na África. Adverte o Srimad Bhagavata: “Há incontáveis brigas entre marido e mulher”. Afirma Merlim: “Os pais serão odiados por seus filhos”.
O líder espiritual indiano Osho escreveu em 1976: “Toda a vossa cultura está na superfície; por dentro há conflito, por dentro há ódio profundo. Mais do que ódio, há a frustração de que ‘você me enganou, os sonhos de amor que você me prometeu não foram cumpridos. Você me tinha prometido um caminho coberto de flores, mas há apenas espinhos, nada mais’. Os pais se sentem infelizes com seus filhos, os filhos se sentem infelizes com seus pais, as mães estão infelizes com suas crianças, as crianças estão infelizes com suas mães. Ninguém se sente feliz com ninguém mais, pois não há amor. Esse assim chamado amor está ligado a outros motivos e esses motivos são a base do sofrimento.
“As ambições das pessoas vão entrar em colisão porque ninguém veio a este mundo para cumprir as ambições alheias. Cada um tem as suas próprias ambições, suas próprias correntes pesadas de carma. Todo homem nasceu para ser ele mesmo. Se você tem ainda que seja a mais mínima expectativa em relação a outrem, isso funcionará como um veneno”.
Merlim descreve mais uma característica do fim dos tempos: “O príncipe vai renegar os homens da Igreja. O senhores vão renegar a correção; o conselho dos mais velhos não será seguido; o temor religioso não saberá para onde se voltar”.
Padmasambhava avisou, segundo um texto do século 8.o: “Os arrogantes idolatram o profano. O proletariado governa o reino (Lula?); reis se tornam pobres, os açougueiros e assassinos se tornam os líderes dos homens; inescrupulosos que seguem apenas os próprios interesses sobem a altos postos (Berlusconi?)”.
A líder espiritual japonesa Tamo-San declarou em 1960: “Quando as coisas chegam a esse ponto, em que a justiça, a nobreza, a autoridade estão perdidas; não há mais a distinção entre boas e más ações. Os mestres e os discípulos, os juízes e os réus – são todos portadores desse contágio venenoso. E, de fato, porque perderam toda a noção um do outro como tais, eles mofam dos outros, culpam os outros, brigam com eles – em uma tal intensidade que não há mais o reconhecimento de relacionamentos tais como o de pais e filhos, marido e mulher, professor e aluno, patrão e empregado. O mundo inteiro, em toda parte, está amarrado e enrolado com toda espécie de condições, e continua a criar para si mesmo desordens e escaramuças em grande escala”.
A própria religião não proporciona a salvação. Previu Padmasambhava: “Bêbados pregam o Caminho da Salvação (certos pastores?)... Impostores ambiciosos proclamam ter poderes psíquicos... Doutrinas falsas são enganosamente legitimadas com a Palavra do Buda e as interpretações dos professores se tornam reivindicações deles próprios... As idéias são estabelecidas em contraditoriedade às tradições”.
O mago Merlim advertiu: “Homens de fé não serão reverenciados pelos seus inferiores”. Hermes Trismegisto, o famoso líder espiritual egípcio de origem grega do século 2.o profetizou: “Todas as vozes sagradas da palavra de Deus serão silenciadas. É assim a senilidade do mundo: ateísmo, desonra, e desprezo às palavras nobres”.
E os problemas mundiais de fome, de impostos pesados e de saúde, como a Aids, o vírus Ebola, a gripe suína, a dengue, além das mudanças climáticas, e até os hippies e punks são lembrados quando os crentes lêem ou ouvem as palavras de 1.700 anos atrás do Srimad Bhagavata:
“Os maus efeitos de Cáli fazem com que os corpos dos homens fiquem reduzidos em tamanho e eles parecem emaciados... Serão oprimidos pela fome e altos impostos. Sua terra ficará desprovida de alimentos, cereais e, tomados pelo medo da seca, as pessoas na era de Cáli terão sempre a mente perturbada. Desprovidas de roupas e enfeites, não, mesmo da comida e bebida, de lugar onde dormir e da felicidade sexual, se manterão sempre sem tomar banho e com a aparência de um vagabundo. Brigarão mesmo por uma pequena soma de dinheiro... tendo abandonado ao vento toda boa-vontade, as pessoas sob o jugo de Cáli vão matar mesmo a própria família e mesmo a si próprias”.
Ou: “Já acabrunhadas pela fome e pelo peso dos impostos, as pessoas vão perecer pela seca, frio excessivo, tempestades, sol escaldante, chuvas pesadas, nevascas e conflitos mútuos. Na era de Cáli, os homens serão atormentados pela fome e sede, doenças e incerteza”.
Sobre o prenúncio do fim dos tempos pelas mudanças climáticas, disse o monge austríaco Johannes Friede, do século 13: “Quando o grande tempo chegar, em que a humanidade vai viver sua última e dura peripécia, será precedido por mudanças violentas na natureza. A alteração entre frio e calor se tornará mais extrema. As tempestades terão resultados mais catastróficos”. Padmasabhava, de acordo com texto tibetano do século 8.o, afirmou: “Nenhuma chuva cairá na estação das chuvas, mas fora da estação: os vales serão inundados”. E, no século 2.o, Hermes Trismegisto escreveu: “O ar estará doente. Esta é a senilidade do mundo”.
As grandes queimadas para derrubada das matas tropicais são lembradas pelos que leem a epopéia indiana Mahabharata, de 5 mil anos atrás: “E o caminho dos ventos será confuso e agitado... e tudo em volta será ruído e rugido, e em toda parte haverá conflagrações... e o fogo arderá de todos os lados”.
No Evangelho de São Marcos, se diz; “Haverá terremotos em diversas partes, e haverá epidemias de fome e perturbações da ordem”. Já no de São Lucas, se afirma: “E haverá sinais no sol, e na lua, e nas estrelas, e sobre a terra a infelicidade das nações, que ficarão perplexas; o mar e as ondas rugirão” – esta última frase é apontada como profecia da subida dos oceanos que hoje já se diz estar em pleno curso.
O fim dos tempos, como os tempos atuais, será marcado pelas guerras. Diz São Marcos: “E quando vós ouvirdes de guerras e de rumores de guerra, não fiqueis perturbado: pois tais coisas precisam ocorrer, mas ainda não será o fim. Pois nação se erguerá contra nação, e reino contra reino... esses são os começos dos sofrimentos”.
Em suma, sem contar o Apocalipse, o que não falta são profecias que preveem para o fim do mundo situações semelhantes às atuais – mas será que a humanidade não viveu sempre assim? Na verdade, o que realmente chama a atenção no livro de Hogue é que suas 777 profecias, algumas de milhares de anos atrás, se referem ao período entre 2000 e 2050, aí incluindo a vinda do Messias judaico e do 12.o imã dos muçulmanos xiitas, sem contar Jesus Cristo e o Buda.
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