Recentemente a revista Carta Capital me encomendou a seguinte resenha:
A chocante
Roudinesco
Embora defenda encarniçadamente, em linhas gerais, as teses dos grandes nomes da psicanálise, como o austríaco Sigmund Freud e o francês Jacques Lacan, a psicanalista também francesa Elisabeth Roudinesco é de uma honestidade alarmante quando se trata de falar das fraquezas dos gurus dessa corrente da psicoterapia. No livro “Em defesa da psicanálise – ensaios e entrevistas”, reunidos pelo psicanalista brasileiro Marcos Antonio Coutinho Jorge, edição da Zahar, Roudinesco faz, como o título indica, uma cerrada defesa das posições de Freud e Lacan, tão atacadas, de um lado, pelos meios conservadores, e, de outro, pelos partidários de outras correntes psicoterápicas, como a psicoterapia cognitiva e a neuropsiquiatria. Mas ela não tem papas na língua ao atacar Freud, por ter inexplicavelmente tomado a iniciativa de psicanalisar sua própria filha, Anna, que permaneceu virgem até a morte, segundo Roudinesco por Anna se sentir culpada por suas tendências homossexuais. E Roudinesco diz que Lacan era egocêntrico e megalomaníaco, a ponto de ter planejado angariar o apoio do papa Pio 12 e do líder comunista chinês Mao Zedong para reforçar sua própria linha psicanalítica. Mais ainda, Lacan, na juventude, foi monarquista ligado à direita francesa encarnada no grupo católico Ação Francesa, próximo do fascismo. Roudinesco conta também a triste saga das primeiras psicanalistas mulheres, das quais várias se suicidaram e pelo menos uma foi assassinada – pelo próprio sobrinho. Apesar dessa honestidade que chega a ser alarmante, Roudinesco é uma defensora ardorosa da cientificidade da psicanálise, que conhece bem, pois já nasceu filha de uma psicanalista pioneira. – RENATO POMPEU
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