6 de outubro de 2011

A Terceira Guerra Mundial já começou?

O Diário de S. Paulo me encomendou recentemente o seguinte artigo:

A Terceira Guerra Mundial já pode ter

começado...  e ninguém noticiou!



Renato Pompeu

especial para o Diário



Do mesmo modo que a Primeira Guerra Mundial, iniciada oficialmente em 1914, já era prevista como inevitável por setores minoritários da opinião pública na passagem do século 19 para o século 20, quando ocorreram conflitos nos Bálcãs, e que a Segunda, começada oficialmente em 1939, já era apontada como inexorável também por setores minoritários da opinião pública desde a passagem da década de 1920 para a década de 1930, quando o Japão invadiu a China, também agora se pode argumentar que a Terceira Guerra Mundial se iniciou já em 1999, quando as forças da Otan atacaram a Sérvia, na primeira vez em que o bloco ocidental avançou militarmente contra o antigo bloco oriental dos tempos da Guerra Fria.

Seria esse um exercício ocioso de futurologia sem base? Não, porque o mesmo clima de hostilidade entre nacionalidades que havia na primeira e se repetiu na terceira década do século 20 ocorre agora, particularmente entre europeus irados contra a imigração islâmica, além de já estarem em andamento vários conflitos militares, particularmente no Oriente Médio e na África. Novamente, para setores minoritários da opinião pública mundial, a única maneira de se evitar conflitos militares generalizados é despertar a atenção para o fato de que, se não houver uma maciça mobilização em todo o planeta pela solução pacífica de diferentes pendências, a Terceira Guerra Mundial, já começada e em pleno andamento, pode se agravar a qualquer momento.

Ocorre que a esmagadora maioria da opinião pública está mal informada sobre o que está realmente acontecendo na situação mundial. Na verdade, atualmente, e desde há muito tempo, não estão sendo difundidas informações suficientes para se formarem ideias  mais precisas a respeito do real estado dessa situação internacional. Hão se sabe, por exemplo, se os conflitos militares ora em curso podem se agravar a curto prazo, ou qual será o destino das diferentes revoluções em andamento em países árabes, se desembocarão em governos hostis ao Ocidente, ou a ele solidários. Sabe-se o suficiente, porém, para se poder constatar que a mídia global está difundindo uma visão equivocada tanto a respeito dos conflitos internacionais como a respeito das revoluções árabes.

Por exemplo, a respeito da intervenção da Otan na Sérvia em 1999, a mídia ocidental convenceu a opinião pública mundial de que essa ação era necessária porque os sérvios tinham chacinado dezenas de milhares de kossovares albaneses, o que se descobriu, mais tarde, simplesmente não ser verdade. Não se sabe realmente o que aconteceu no Kossovo, mas se sabe muito bem que o retrato que a mídia global pintou da atuação dos sérvios não foi correto.

De outro lado, quando ocorreram os atentados de 11 de setembro de 2001, e desde então, a mídia internacional tem convencido a maioria esmagadora das pessoas de que se tornara necessária uma guerra contra o terror. Não se deu a devida ênfase ao fato de que esses atos de terror não são gratuitos, nem são a verdadeira origem dos conflitos. Esses atos de terror contra o Ocidente são uma reação patológica a sucessivas agressões ocidentais, nos últimos cinco séculos e particularmente nas últimas décadas, contra países islâmicos. A verdadeira origem desses conflitos, portanto, são as agressões ocidentais, não o terrorismo por islamitas.

Também, para convencer a opinião pública mundial da necessidade da intervenção ocidental ainda hoje vigente no Iraque, a mídia global espalhou como verdade impossível de ser desmentida  a versão, que se revelou enganosa,  de que o governo iraquiano de Saddam Hussein estava desenvolvendo armas de destruição em massa, embora o governo de Saddam negasse isso. Descobriu-se depois que quem estava dizendo a verdade era o governo iraquiano apontado como terrorista, e não a tão celebrada, por sua liberdade de expressão, mídia ocidental.

Isso gera dúvidas a respeito da tese, hoje igualmente tida como absolutamente verdadeira por causa de sua difusão em massa pela mídia internacional, de que o Irã está desenvolvendo bombas nucleares, embora os aiatolás iranianos neguem isso. Quem terá razão? Além do mais, praticamente nunca se destaca o fato inegável de que, entre todas as potências nucleares, a única suficientemente irresponsável para ter lançado bombas atômicas contra alvos estrangeiros foram, justamente, os Estados Unidos. Nem a União Soviética, nem a Rússia sua sucessora, e nem a Grã-Bretanha, França, China, Índia, Paquistão e Israel lançaram uma única bomba nuclear contra seus inimigos, e os Estados Unidos lançaram não uma, mas duas contra o Japão ao fim da Segunda Guerra Mundial. Quem seria mais irresponsável: o governo iraniano ou o governo americano? A mídia global simplesmente prefere não discutir esse assunto.

Quanto às revoluções árabes, também ninguém dispõe de informações suficientemente seguras que permitiriam avaliar se vão desembocar em regimes pró ou antiocidentais. Mas se sabe o bastante para considerar que não é adequada a visão difundida maciçamente pela mídia ocidental, de que se trata em todos os casos de revoluções em que setores modernos ocidentalizados e democratizantes dos países árabes se erguem contra regimes antiquados que seguem as tradições orientais de autoritarismo. Além de em vários países existirem entre os revolucionários diferentes correntes partidárias da instauração de regimes islâmicos ainda mais autoritários do que os atuais, como mostram as manifestações recentes no Egito, também existem, na Líbia e na Síria, conflitos étnicos entre tribos que, em nenhum dos casos, querem aceitar igualdade de poder com as tribos adversárias.

Em suma, não se sabe a verdade sobre a real situação mundial. Mas se sabe que não é verdadeira a visão predominante, criada a partir da visão maniqueísta da mídia global.

5 comentários:

Anônimo disse...

Dizer que a culpa dos atentados de 11 de Setembro (você fala em origem...)é do Ocidente invalida todo seu artigo.
Nos países que você elogia seu artigo seria proibido e você mandado para aprisão.Me pergunto por que ainda estàs no Ocidente.

Anônimo disse...

O seu argumento sôbre a bomba atômica é pueril,você compra laranjas com tomates.E ridículo

Renato Pompeu disse...

Algumas pessoas, por não terem segurança de suas argumentações, se refugiam no anonimato.

AF Sturt Silva disse...

Muito bom o artigo.Para quem dúvida é so ler o que a opinião pública escrevia e lia antes da primeira grande guerra.

É claro que as coisas são complexas,e assim não vejo uma força forte para fazer eclodir uma terceira guerra, porém há alternativas para isso,e está sendo colocadas a todo momento!

Anônimo disse...

Muito bom o artigo. Parabéns.