12 de maio de 2013

A guerra perdida contra as drogas

A seguinte resenha me foi encomendada pelo Diário do Comércio de São Paulo: A guerra (perdida)contra as drogas - Renato Pompeu. Um assunto bastante polêmico: o jornalista Denis Russo Burgierman, ex-diretor da revista “Superinteressante”, apresenta, no livro “O fim da guerra – A maconha e a criação de um novo sistema para lidar com as drogas”, editado pela Leya, teses bem ousadas, do ponto-de-vista do grande público no Brasil, mas muito bem aceitas por pesquisadores especializados e renomados, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a respeito dos problemas relacionados com as drogas em geral e, em particular, com a maconha. Em primeiro lugar, é preciso chamar a atenção para o fato de Burgierman, aos 38 anos, é um jornalista de novo tipo, formado que foi já na vigência das novas tecnologias de informação e também já na vigência dos impactos dos novos estilos de vida gerados pela globalização. Assim é que, ao lado de sua mulher, ele viajou como mochileiro por vários países, de bicicleta, a cavalo e por transportes públicos, fazendo desse modo as suas reportagens, vivendo de perto as realidades que descreve e discute. Por outro lado, é um dos diretores da Webcitizen, “uma empresa que constrói plataformas de engajamento cívico”, isto é, modos de mobilizar pessoas pela Internet, em especial pelas redes sociais, para causas tidas como importantes e corretas. Burgierman chama inicialmente, no livro, a atenção para o fato bastante incontestável de que a chamada guerra às drogas, começada há décadas pelo presidente americano Ronald Reagan, e que se estendeu desde então pelo mundo inteiro, contando ainda hoje com o apoio maciço da opinião pública, como se está vendo atualmente em São Paulo na campanha policial contra a chamada Cracolândia, redundou num grande fracasso. Essa derrota, aliás, foi reconhecida publicamente, por exemplo, por um grupo de líderes de todo o mundo reunidos no ano passado na Comissão Global de Política de Drogas, que concluiu: “A guerra global contra as drogas fracassou, com efeitos devastadores para indivíduos e sociedades no mundo todo”. Entre esses líderes estavam antigos promotores da guerra contra as drogas, como o secretário de Estado de Reagan, George Shulz; o presidente do Banco Central dos Estados Unidos também na era Reagan, Paul Volcker, apresentado por Burgierman como “o dono da chave do cofre que financiou a guerra”; os ex-presidentes da Colômbia, César Gaviria; do México, Ernesto Zedillo, e do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, todos eles mandatários nos anos 1990, e que, segundo o autor do livro, “acreditaram na justeza da guerra e lutaram sem trégua”. Mais: entre os que declararam em junho de 2011 o fracasso da guerra às drogas iniciada cerca de trinta anos antes, estava o ex-secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Koffi Annan, que em 1998 havia sido o anfitrião de um encontro, na sede da ONU em Nova York, em que “todos os países membros concordaram com uma meta ambiciosa: eliminar as drogas da face da Terra de uma vez por todas em dez anos”. Ao fim desse prazo, em 2008, o que se constatou, segundo o autor, foi que: “As drogas não foram eliminadas, como se vê por aí. Após a ofensiva, o consumo de todas elas cresceu no mundo inteiro: o de maconha aumentou 8,5%; o de cocaína, 25%, o de heroína e outros opiáceos, 34,5%. Quanto mais perigosa a droga, maior foi o aumento”. Nesses dados e nessa frase se justapõe, à argumentação de Burgierman contra a guerra às drogas, a segunda vertente, ainda mais polêmica, de suas teses a respeito do assunto: a de que existem alternativas melhores do que a repressão na luta pela diminuição do consumo de narcóticos. Pois, como se viu, foi exatamente a maconha – ou seja, a droga que teve em diferentes graus uma certa “liberalização” de seu consumo nos últimos anos em países como a Holanda, Espanha, Portugal e em regiões como a Califórnia, EUA – a droga em que se constatou, de longe, o menor aumento em seu consumo. O autor chama a atenção para o fato de que, nesse período, aumentou desproporcionalmente o número de acusados de tráfico que foram presos – no Brasil, eram 40 mil em 2006 e foram 87 mil em 2011; nesses cinco anos, só no México, 40 mil pessoas foram assassinadas em relação com o tráfico, seja por policiais, seja por traficantes. Mas o mais importante é que Burgierman constatou que essa situação de violências extremadas não se observa nos países que visitou e que, em diferentes medidas, “liberaram” a maconha – Holanda, Espanha Portugal, além da Califórnia americana –, nem no Marrocos, onde a guerra contra as drogas mal começou e em que o consumo tradicional de haxixe é, praticamente tolerado. Em suma, ousadamente, “o livro mostra como os sistemas podem sair da alçada policial sem estimular o uso” e exibe “estratégias criativas para lutar contra os problemas que as drogas causam, sem provocar problemas maiores ainda”.

2 comentários:

Ana Claudia Dantas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ana Claudia Dantas disse...
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