2 de maio de 2013

Autora de Harry Potter escreve para adultos

Recentemente o Diário de Comércio publicou a seguinte resenha: A criadora de Harry Potter escreve para os adultos que já a liam quando crianças Renato Pompeu Quando publicou o primeiro dos sete livros da saga infantil Harry Potter, em 1997, a escritora inglesa J.K. Rowling tinha 32 anos de idade. Quinze anos e 450 milhões de exemplares vendidos em 200 países depois, ela, aos 47 anos, num momento em que seus primeiros leitores já tinham completado os cursos universitários e já estavam trabalhando – se tinham 10 anos em 1997 estão com 25 agora –, ela lançou em 2012 o seu primeiro romance para adultos, chamado no Brasil de “Morte súbita” (uma tradução mais fiel teria sido “A vaga casual”) e editado pela Nova Fronteira. Se poderia dizer que, como o cantor Roberto Carlos, que começou arauto da Jovem Guarda e acompanhou o amadurecimento de seus fãs voltando-se para canções mais lentas, ao mesmo tempo mais sensuais e mais sentimentais, J.K. Rowling pretendeu também acompanhar o amadurecimento de seu público inicial. O resultado é um romance bem ao estilo dos clássicos romances ingleses do século 19, com suas dezenas de personagens envolvidas em tramas complicadas, intrigantes e bem armadas, que deixam o leitor ir passando de suspense em suspense, cada vez mais interessado em continuar lendo para saber a continuação e, atravessando o mais rapidamente que puder as 500 páginas do livro, chegar ao desenlace final, ou desenlaces finais. Trata-se da vida pouco edificante dos habitantes da cidadezinha aparente idílica de Pagford, situada na região oeste da Inglaterra. Um típico quarentão da cidadezinha sofre morte súbita e isso desencadeia uma série de situações surpreendentes, revelando-se como praticantes de sexo livre algumas das pessoas mais respeitadas da comunidade, algumas das quais chegam a consumir heroína e muitas das quais falam seguidamente palavrões. Vigora ainda um chocante racismo contra etnias não anglo-saxãs. A “vaga casual” do título original se refere à vaga aberta, pela morte súbita do quarentão, na composição do conselho paroquial. A trama principal começa a girar em torno das maquinações entre os grupos interessados em preencher a vaga com um dos seus. J.K. Rowling sabe do que está falando. Joanne Rowling nasceu na cidadezinha de Chipping Sodbury, que, como a fictícia Pagford, fica localizada no oeste inglês. Seu pai era um engenheiro da fábrica de carros de luxo e de motores de avião Rolls-Rpyce; sua mãe era de ascendência francesa e escocesa. Caçula de duas irmãs, quando Joanne tinha seis anos, sua família mudou para outra cidadezinha próxima, Winterbourne, onde ficou amiga das crianças de uma família chamada Potter. Foi quando passou a morar em Winterbourne, isto é, a partir dos seis anos de idade, que Joanne começou a escrever e, principalmente, a ler, tendo sido uma garota tímida, que usava óculos de lentes grossas e que ficava lendo todo o tempo que era possível – exatamente como Harry Potter. Em 1974, aos nove anos, a família de Joanne mudou para Tutshill, também no oeste da Inglaterra, mas mais perto da fronteira com o País de Gales. Quando entrou para a faculdade, não saiu do ambiente de cidade pequena: estudou na Universidade de Exeter, cidade de 100 mil habitantes no sudoeste inglês, onde se formou em Língua e Literatura Francesas em 1986, aos 21 anos. Passou os anos seguintes trabalhando como secretária em várias firmas, inclusive numa editora, onde era encarregada de escrever cartas de rejeição a autores de originais não aprovados para publicação. Tentou escrever vários romances para adultos, mas não terminou nenhum. Em 1990, aos 25 anos, dois grandes acontecimentos: num trem entre Manchester e Londres, que atrasou e ficou muito tempo parado, ela teve pela primeira vez a ideia de um livro infantil com um personagem chamado Harry Potter. Logo depois, foi ser professora de inglês em Portugal, onde casou e teve uma filha com o jornalista de televisão Jorge Arantes. O casamento, sempre tumultuado por brigas, durou pouco mais de dois anos e, em 1993, com uma filha de três meses, Joanne voltou à Grã-Bretanha, mas não para a Inglaterra, e sim para Edimburgo, na Escócia, onde foi morar com a irmã mais velha, Diana. Mãe solteira e sofrendo de surtos de depressão, Joanne escreveu à mão “Harry Potter e a pedra filosofal”, pois não tinha dinheiro para comprar nem uma máquina de escrever usada, quanto mais um computador: ganhava pouco como professora de francês e como bolsista do Conselho Escocês de Artes. Depois de ter sido recusado por várias editoras, finalmente, em 1996, o livro foi publicado pela Bloomsbury. Como se imaginava que um livro escrito por uma mulher não seria lido por meninos, Joanne, que não tinha o sobrenome do meio, recorreu ao K de sua avó Kathleen e assinou “J.K. Rowling”, nome literário que manteve desde então. Foi um sucesso enorme e inesperado. Principalmente depois de ter sido editado nos Estados Unidos, em 1998, o livro vendeu milhões de exemplares, deu início à famosa saga e redundou numa série de filmes extremamente lucrativos. Mas não só isso: numa combinação rara, a série Harry Potter foi não só um sucesso de público infantil como entre leitores adultos e entre os críticos profissionais mais exigentes. A marca Harry Potter é avaliada em 15 bilhões de dólares; J.K. Rowling é a primeira pessoa no mundo a se ter tornado bilionária escrevendo livros. O sétimo e último (pelo menos por enquanto) livro da saga é de 2007. Agora, três semanas após seu lançamento em setembro último, “Morte súbita” já tinha vendido um milhão de exemplares, só em inglês. E a BBC já está produzindo uma série de TV baseada no romance, prevista para entrar no ar em 2014. Um conto de fadas?

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