22 de julho de 2013
De Vargas a Vargas, passando por Dutra
Trabalho de História:
UNIDADE 05 – A ERA VARGAS E A DITADURA DO ESTADO NOVO (1937-1945) – e UNIDADE 06 – A REPÚBLICA LIBERAL-DEMOCRÁTICA: O GOVERNO DUTRA E A VOLTA DE VARGAS (1946-1954)
Atividade
A cultura política de um determinado contexto:
[...] é construída em meio a um processo objetivo e tenso de circu¬laridade das ideias [...]. Estamos nos referindo, basicamente, às es¬truturas mentais tanto de uma sociedade e/ou de uma conjuntura histórica determinada, que por sua vez se exprime através da longa [e média] duração. É possível identificar um conjunto de crenças compartilhadas em função da criação e/ou delimitação de ideias e conceitos que se transformam em lugares comuns, [ou seja, ideias comuns] [...] (REMOND, 1996).
Tendo em vista essa construção conceitual, relembramos que, entre o período de 1917 a 1945, relevantes transformações políticas estavam acontecendo, sobretudo no que se refere à crise do modelo liberal, à ascensão dos fascismos e comunismos ao e fim da Segunda Guerra Mundial. Já a partir de 1945, temos um novo contexto, no qual o capitalismo liberal e o comunismo se projetam como principais modelos políticos e ideológicos. Nessa direção, escolha um desses dois contextos, fale sobre as ideias e valores políticos que o configuraram e, com base no CRC, cite, ao menos, três características que podem também ser observadas no contexto brasileiro.
Considerando o período da República Liberal-Democrática no Brasil, entre 1945 e 1954, podemos observar um complexo jogo entre as contradições maiores e menores em curso no mundo e no nosso País na época, que permite tirar conclusões muito interessantes sobre como a realidade não só muda constantemente, mas também é ardilosa e cheia de heterologias que surpreendem os historiadores mais argutos, que tendem a procurar o curso principal dos acontecimentos, em meio à miríade de ocorrências singulares, e assim estão mais afeitos a homologias do que a heterologias.
Três características que podemos observar no mundo todo e no Brasil daquela época são a contradição entre capitalismo e socialismo, a contradição entre o nacionalismo e o expansionismo das grandes potências, e a contradição entre as camadas populares e as elites.
Internacionalmente, a primeira contradição, entre o capitalismo e o socialismo, se deu basicamente por meio da chamada Guerra Fria, entre o bloco de nações capitaneado pelos Estados Unidos e o grupo de países liderados pela União Soviética. A Guerra Fria, assim chamada porque EUA e URSS nunca entraram em confronto militar direto – mesmo porque, sendo ambas as partes dotadas de armas nucleares, um eventual confronto entre elas redundaria praticamente na aniquilação mútua –, se dava por meio de uma fantástica corrida armamentista, e por meio de confrontos militares indiretos, como a guerra da Coreia e a guerra da então Indochina francesa. Quanto à segunda contradição, entre o nacionalismo e o expansionismo das grandes potências, ela se dava, internacionalmente, entre o Terceiro Mundo, de um lado, e os Estados Unidos, de outro, mas também entre a China Popular, de um lado, e a União Soviética, de outro. Nos dois casos as partes mais fracas, o Terceiro Mundo e a China, procuravam afirmar um nacionalismo estatista desenvolvimentista e industrializante e uma política externa independente, enquanto as partes mais fortes queriam conduzir, de acordo com os seus próprios interesses, não só a economia, como também a política externa das partes mais fracas. Já a contradição entre as camadas populares e as elites se dava pela luta por melhores condições sociais arrancadas pelas camadas populares às elites, seja por meio do Estado do Bem-Estar Social nos países capitalistas adiantados; seja por meio das concessões às massas trabalhadoras, como o ensino, saúde, educação, habitação e transportes gratuitos ou pesadamente subsidiados, nos países socialistas; seja por meio do populismo de direita ou de esquerda, no Terceiro Mundo.
Os diversos atores dessas diferentes contradições podiam se coordenar em alianças não só instáveis como surpreendentes. Isso fica bastante claro quando examinamos um país como o Brasil da época. No governo Dutra, se observou uma inesperada aliança entre, de um lado, os partidários dos Estados Unidos na Guerra Fria e na ofensiva sobre o Terceiro Mundo, incrustados no governo brasileiro da época, encarregados de servir aos setores exportadores americanos por meio da eliminação do intervencionismo estatal que protegia a indústria brasileira desde o movimento de 1930, e, de outro lado, as massas consumidoras da época, que tiveram acesso a produtos americanos de melhor qualidade e mais baratos do que os produtos brasileiros, massas inconscientes de que essa euforia só poderia durar pouco.
Outra aliança inesperada foi a que ocorreu, no governo Vargas dos anos 1950, entre os comunistas e os setores pró-Estados Unidos na campanha contra a “corrupção” do governo de Getúlio. Não só “O Globo” foi empastelado pelas massas iradas com o suicídio de Getúlio Vargas, mas também jornais comunistas, que ficaram atacando Vargas até a morte deste. Talvez isso tenha a ver com o fato de que os comunistas brasileiros da época, interessados acima de tudo em defender a União Soviética e em atacar o poderio dos Estados Unidos, buscavam uma aliança com o capitalismo europeu e japonês, sendo que depois, já no governo Kubitschek, apoiado pelos comunistas, capitais alemães, franceses e japoneses colaboraram no desenvolvimento industrial brasileira (entre outras coisas dando origem, a longo prazo, à nova classe operária de que emergiria grande parte do PT).
Finalmente, a burguesia industrial, à qual Vargas garantia financiamentos pelo intervencionismo estatal, infraestrutura e energia por meio de empresas estatais, e mercado interno por meio da melhora das condições de vida das massas urbanas (já que Vargas nunca fez nada pelas massas rurais, então predominantes no Brasil), preferiu, à aliança com o populismo varguista, a aliança com os interesses anti-industrializantes dos meios ligados aos Estados Unidos, seja entre os militares, seja entre a burguesia comercial.
Assim, essas características reforçam a tese de que, na prática, as teorias são outras.
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