14 de novembro de 2013
São Paulo fotografada, ilustrada... e ironizada
Do Diário do Comércio de São Paulo
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Livro reúne beleza gráfica
e ironias sobre a cidade
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Renato Pompeu
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Eis um livro insólito, lindo e desabusado, esse “Iconografia paulistana”, de Gustavo Piqueira, apresentado como o designer gráfico mais premiado do País e como um dos raros que é competitivo em todas as áreas de sua profissão, como a criação de marcas, elaboração de textos, ilustrações, tipografias e embalagens, obra publicada pela WMF Martins Fontes. Trata-se de uma sucessão de imagens belíssimas, de fotografias a ilustrações, tendo como tema geral o que poderíamos chamar de “personalidade” da cidade de São Paulo, com toda a sua diversidade cultural, mais algumas ilustrações abstratas, puras estesias sem referenciais diretos. Essa sucessão de imagens é entremeada por textos irônicos de especialistas fictícios, textos que encarnam ao mesmo tempo uma aspiração ao sublime e um afundamento na cafonice, tal como Piqueira postula que acontece com a cidade.
Mais do que isso não se pode dizer sobre o livro, o que cabe é fruir as imagens, a começar do espelho verdadeiro embutido na capa, destinada a mostrar um dos ícones da cidade, ou seja, o próprio leitor ou leitora. De resto, valem as citações. A introdução, do próprio Piqueira, diz que “a cidade parece ter, enfim, enterrado os complexos que a afligiam desde que o dinheiro do café transformou a tímida vila provinciana em histérica metrópole”.
E insiste: “São Paulo tinha grana, e só. Não passava de um industrial novo rico, meio jeca e grosseirão. Hoje, cento e cinquenta anos depois, soam as buzinas. O velho finalmente está morto e a vocação cosmopolita de São Paulo irrompe livre, incontrolável. Temos nãoseiquantosmil restaurantes, não sei quantasmil exposições, nãoseiquantosmil shows, não seiquantasmil grifes internacionais, nãoseiquantasmilqualqueroutracoisa. Somos a capital da gastronomia. A capital da cultura. A capital da vida noturna. A capital da economia criativa. A capital”.
O “arquiteto e urbanista” Flavio Gagliardi Neto discorre sobre as moradias da cidade: “A seleção das edificações baseou-se nos seguintes parâmetros objetivos: habitações de tipologia vertical e multifamiliar localizadas no município de São Paulo, com renda familiar mensal acima de R$ 3.632,70 por domicílio. Fato que, analisado isoladamente como recorte, poderia levar a questionamentos, bem como à conclusão precipitada de que a amostra ignorou glebas desfavorecidas da malha urbana, atitude irresponsável em vista da real constituição multiforme da cidade. Deve-se, portanto, esclarecer que se trata apenas de um excerto do todo de minha pesquisa, o já mencionado capítulo dezenove. Pois, enquanto o capítulo dezoito aborda a habitação informal, o dezessete lança um olhar sobre os párias que se deslocam sob ‘não casas’ (CAPILL, 1983). Logo, a soma dos três projetará uma completa e não excludente ‘experiência visual panorâmica’ (MILSS, 1971) da cidade”.
Já a “antropóloga” Joana Bosgouet busca “onde encontrar, em São Paulo, o animal símbolo de São Paulo”, ou seja, a suçuarana, ou onça-parda, e para isso desenvolve um divertido ensaio sobre a “biodiversidade” da metrópole.
O livro de Piqueira assim se resume: é um requinte.
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