14 de novembro de 2010

Romance sobre a tragédia dos Bálcãs

A revista Carta Capital há poucos meses me encomendou a seguinte resenha:


Kadaré e a angústia



No angustiado romance “O acidente”, agora publicado no Brasil pela Companhia das Letras, dois anos depois da edição francesa, o escritor albanês radicado na França Ismail Kadaré, 74 anos, famoso por “Abril despedaçado”, mistura a temática imemorial do amor mesclado de ternura e agressividade com a temática imediata das recentes guerras nos Bálcãs. O romance abre com um acidente de carro em que morreu um casal de albaneses e procura retraçar a trajetória daquele homem e daquela mulher desde que se conheceram até o momento de sua morte, em meio aos horrores dos conflitos étnicos. Kadaré, que estudou sob o regime comunista em Tirana e em Moscou, começou publicando poesia, mas em 1963 passou a publicar romances em seu país, dos quais dois foram proibidos pelas autoridades comunistas: “O monstro” (1965) e “O palácio dos sonhos” (1980). Ele se considerava, não um “dissidente”, mas um “resistente” e, em meio à crise final do comunismo, se asilou na França em 1990. Agora, em “O acidente” traduzido diretamente do albanês por Bernardo Joffily, ele apresenta uma trama fascinante e aterrorizante entremeada de massacres físicos entre etnias e dos talvez igualmente assustadores massacres psicológicos entre amantes, uma trama trabalhada e retrabalhada artisticamente para ir se revelando aos poucos, como se fosse um espelho aos pedaços. Às angústias próprias da trama, se junta a inquietação do leitor, que lê sofregamente para entender, afinal, o que aconteceu. Assim, a leitura em si chega a ser angustiante, a par dos acontecimentos relatados. – RENATO POMPEU

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