Recentemente a revista Caros Amigos publicou o seguinte artigo de minha autoria:
Ideias de Botequim
A obra-prima brasileira que praticamente só Portugal reconhece
O grande romance “O rastro do jaguar”, do mineiro Murilo Carvalho, lançado pela Leya no Brasil em 2009, tem várias coisas em comum com o grande romance “Um defeito de cor”, da também mineira Ana Maria Gonçalves, da Record, de 2006: ambos são os únicos romances brasileiros do século 21 que retomam as alturas de “Grande sertão: veredas”, do também mineiro Guimarães Rosa. Ambos receberam prêmios internacionais importantes: Carvalho, o Prêmio Leya, em Portugal, em 2008 – nada menos de 300 mil euros! –, e Gonçalves o Prêmio Casa de las Américas, em Cuba, em 2006. E ambos foram praticamente ignorados, pelo menos em sua verdadeira dimensão estética e cultural, pela grande mídia brasileira.
Talvez tudo isso se explique por outro ponto em comum entre os dois livros: ambos retratam etnias que, se são dominantes na formação da Nação, não são dominantes na grande mídia: os negros, no caso de Gonçalves, e os índios, no caso de Carvalho. Mais: ambos romanceiam, fantasiando livremente, mas baseados em pesquisas muito bem documentadas, a partir da vida de pessoas que realmente existiram: Gonçalves, a mãe africana do abolicionista brasileiro Luís Gama; Carvalho, um índio brasileiro levado em menino para a França pelo sábio Saint’-Hilaire, menino que foi educado como francês e que, já adulto, redescobre as suas origens indígenas, ao retornar ao Brasil. Finalmente, os dois romances se passam no século 19.
O livro de Murilo Carvalho, jornalista que foi do semanário “Movimento”, de oposição ao regime militar, e da “Folha de S. Paulo”, levou trinta anos para ser escrito e é uma obra-prima épica, de mais de 560 páginas, que retrata a busca pela mítica Terra Sem Males, em meio aos horrores da Guerra do Paraguai. Portugal já reconheceu esse grande autor brasileiro, que lá surge até em anúncios de televisão – resta que seu próprio povo o reconheça como um de seus grandes filhos.
A Polop às vésperas de seu cinqüentenário
Daqui a um ano, a Organização Revolucionária Marxista Política Operária, estará comemorando seu cinquentenário de fundação, em janeiro de 1961. Para marcar a data, o Centro de Estudos Victor Meyer, de Salvador, cvmbahia@gmail.com (note-se que é sem o br), lançou o volume “Polop – Uma trajetória de luta pela organização independente da classe operária no Brasil”.
Do livro constam artigos de alguns dos mais importantes militantes da organização, como Ceici Kameyama, os já falecidos Eric Czaczkes Sachs, também conhecido como Ernesto Martins, e Victor Meyer, além de Eduardo Stotz, e documentos que marcaram a história do grupo, como a “Convocatória para o 1.o Congresso da Polop” e o “Programa socialista para o Brasil”.
Duas palavras de ordem caracterizaram toda a história do grupo, que formou alguns dos principais quadros políticos e intelectuais da história recente do país, como Eder Simão Sader, hoje nome de praça no bairro da Vila Madalena, em São Paulo; Emir Sader, Theotônio dos Santos Júnior, Luiz Alberto Moniz Bandeira, Ruy Mauro Marini, Nilmário Miranda e Dilma Rousseff. Uma delas: “Por um partido independente da classe operária”;
a outra, “Por um governo dos trabalhadores da cidade e do campo”. O grupo se dissolveu ao ser fundado o PT, ao qual aderiu. Se a Polop nunca teve maiores ligações com as massas, a sua importância como importante referência teórica para os quadros políticos mais intelectualizados e de maior formação teórica da esquerda brasileira nunca deixará de ser marcante.
De Luiz Alberto Moniz Bandeira, temos, pela Civilização Brasileira, a 3.a edição, revista e atualizada, de “Formação do império americano – da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque”. Trata-se de uma obra de grande abrangência – são mais de 850 páginas –, que combina o rigor teórico com um detalhamento empírico exaustivo, sobre a maior potência imperialista da história. Diz a apresentação que o livro demonstra que a história não comprovou a posição do revolucionário Vladimir Lenin, de que o imperialismo, pelas suas contradições internas, só poderia desembocar no socialismo comandado pelo proletariado, mas confirmou a posição do reformista Karl Kautsky, de que os vários imperialismos deixariam de ser rivais e se fundiriam num ultraimperialismo único, deixando de guerrear entre si e só guerreando contra países mais atrasados e periféricos em relação ao capitalismo. Pelo menos por enquanto, é o que podemos constatar. No entanto, devemos lembrar, que, em russo, o famoso livro de Lenin se chamava na edição original “O imperialismo, o estágio mais recente do capitalismo” e não “O imperialismo, o último estágio do capitalismo”, como passou a ser mais conhecido.
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