O professor comunista cubano Esteban Morales, bastante conhecido como historiador do bloqueio americano, denuncia em artigo em castelhano, em http://groups.yahoo.com/group/CubaNews/message/112575 - publicado originalmente pela União dos Escritores e Artistas de Cuba-Uneac -, o risco de contrarrevolução representado pelas relações entre a burocracia estatal corrupta e o mercado negro, risco na sua opinião muito maior do que o representado pelos dissidentes internos e pelos exilados nos EUA e outros países. Diz o artigo:
"Quando observamos detidamente a situação interna de Cuba hoje, não podemos ter dúvidas de que a contrarrevolução, pouco a pouco, vai tomando posições em certos níveis do Estado e do governo. Sem dúvida, está ficando evidente que há pessoas em posições de governo e estatais que se estão alavancando financeiramente, para quando a Revolução seja derrubada, e outros que podem ter quase tudo preparado para produzir a transferência dos bens estatais a mãos privadas, como ocorreu na antiga URSS. Fidel disse que nós mesmos podíamos acabar com a Revolução e me inclino a pensar que, entre outras preocupações, o comandante-em-chefe se estava referindo às questões relativas à corrupção. Porque, estando já presente, este fenômeno continua aparecendo com força.
"Senão, vejamos o que aconteceu com a distribuição de terras para usufruto em alguns municípios do país: fraudes, ilegalidades, favoritismos, lentidão burocrática etc. Na realidade, a corrupção é muito mais perigosa do que a chamada dissidência interna. Esta última ainda se encontra isolada: não tem programa alternativo, não tem líderes reais, não tem massa. Mas a corrupção é que é a verdadeira contrarrevolução, a que mais dano pode causar, porque acontece que está dentro do governo e do aparelho estatal, que são os que realmente manejam os recursos do país. Senão vejamos uma coisa muito simples: Quando há leite em pó no mercado negro, que subiu de preço até chegar a 70 pesos o quilo? Quando o leite em pó chega aos armazéns estatais. Não há exemplo melhor do que esse. E assim é com todos os produtos que são comprados no mercado negro pela maioria da população.
"Quer dizer, por conta dos recursos estatais, existe um mercado ilegal, do qual todos se beneficiam, menos o Estado. E que me dizem dos vendedores nos arredores das grandes lojas que vendem em divisas estrangeiras, oferecendo de tudo? Se trata de uma corrupção da qual quase todos participam, gerada pela corrupção dos funcionários estatais. Porque, ao que saibamos, em Cuba há um único importador: o Estado. Não acredito que o que vem nos pacotes de Miami sirva para gerar um mercado tão grande, muito menos de produtos duráveis. Observe-se também o trajeto da carne de porco de mãos estatais para mãos privadas, os preços de venda de refrescos e água segundo as diferentes cadeias do turismo. As suspeitas diferenças de preços com que deparamos frequentemente.
"Quer dizer, de modo evidente, que existe um fluxo ilegal de produtos entre o comércio por atacado estatal e o comércio de rua. Toda uma economia submersa que o Estado não consegue controlar e que será impossível de ser posta em ordem enquanto existirem os grandes desequilíbrios entre oferta e procura que caracterizam ainda hoje a nossa economia. Esta economia submersa é uma forma de contrarrevolução que, esta sim, conta com líderes ocultos, apresenta alternativas às medidas do Estado e conta com uma massa que a pratica."
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