20 de outubro de 2010

Jornalista José Arbex Jr. renuncia ao Conselho Editorial do jornal Brasil de Fato

O jornalista José Arbex Jr. (arbex@uol.com.br) enviou a seguinte carta aos integrantes do Conselho Editorial do jornal Brasil de Fato e a outras pessoas:

Car@s

Acabo de ler a versão virtual da tiragem especial sobre eleições.
Tenho dois comentários e algumas considerações:

1. Tecnicamente, o jornal atingiu o auge. A apresentação está tecnicamente perfeita, bonita, agradável, acessível.
2. Politicamente, o jornal também atingiu o auge, no sentido de ter chegado a um limite: não se trata mais de um jornal, mas sim de um panfleto especial sobre as eleições. Para mim, isso significa a morte do jornal Brasil de Fato e o nascimento oficial de mais um órgão chapa branca. Um órgão tecnicamente perfeito, mas politicamente subordinado ao lulismo.

Sem entrar no mérito das posições, é conhecido o fato de que vários setores da esquerda não apoiam a candidatura Dilma, embora sejam contrários à candidatura Serra. Plínio de Arruda Sampaio, por exemplo, acaba de lançar um manifesto propondo o voto nulo. Eu mesmo me manifestei contrário ao apoio a Dilma, embora não tenha defendido o voto nulo. E a posição dos companheiros da Refundação Comunista é favorável ao voto em Dilma, mas com todos os “mas”, “senões” e “talvez” que desaparecem da edição especial: o lema da Refundação, se não estou enganado, é: “derrotar Serra nas urnas e a Dilma nas ruas”, o que está longe de transformar Dilma em ícone da redenção nacional (coisa que a edição especial faz, na pratica, sem o menor pudor).

O jornal Brasil de Fato, obviamente, só considera digna de publicação no especial sobre as eleições a posição que apoia explicitamente a candidatura Dilma. O jornal Brasil de Fato, ao fazê-lo, pratica a mesma operação que Altamiro Borges corretamente critica na própria edição especial, só que inverte o sinal: o Brasil de Fato se torna um palanque para a Dilma, precisamente como a “grande mídia” é um palanque de Serra. Pior ainda: ao considerar legítima e merecedora de publicação apenas uma determinada posição, descartando liminarmente todas as outras que existem no interior do Conselho Editorial, o jornal passa a impressão pública (exposta em 2 milhões de exemplares) de que há uma unanimidade no interior do conselho: trata-se de uma prática sórdida e bem conhecida, consagrada na época que um certo Josef comandava o regime de terror na URSS.

Diante disso, minha posição na Conselho Editorial se torna insustentável. Sei que ocorreu algo semelhante em 2006, mas voltei a integrar o jornal, na época, por considerar que o MST era muito maior, muito mais importante, muito mais vital do que eventuais divergências. Só que a situação agora é qualitativamente nova. O jornal Brasil de Fato transformou-se num planfletão lulista, e isso marca – na minha opinião, obviamente - reflexo de um processo de desmantelamento histórico do MST e de ruptura de uma boa parte da esquerda com sua própria história e princípios éticos. Trata-se de uma debandada tão grande e imunda que permite, entre outras coisas, que lideranças da “esquerda” declarem sem ruborizar o seu apoio ao agronegócio, à aliança com os neocompanheiros José Sarney e Michel Temer e o acobertamento cúmplice e conivente de manobras sórdidas nos corredores palacianos.

Já abordei várias vezes esse tema em reunião do Conselho Editorial e nunca fui levado suficientemente a sério. O MST, que era – sempre na minha opinião – o último grande bastião de resistência à cooptação oficial, está claramente sendo triturado pela máquina do Estado terrorista brasileiro, agora operada pelo lulismo. E tudo em nome do... “combate à direita”! A frase “Dilma não é o governo dos nossos sonhos, mas Serra é o governo de nossos pesadelos”, que consagra a posição editorial assumida pelo jornal, pode ser um bom achado de marketing, um ótimo recurso de oratória, uma bela saída para escapar de um dilema político. Mas se o critério for a boa oratória, que se convoque então Carlos Lacerda. Ele tem ótimas lições a dar nesse campo.

Não vou ser cúmplice disso. Nesse mesmo sentido – e embora não seja essa lista o palco para esse debate – coloco em questão a legitimidade de minha permanência à frente da Associação dos Amigos da Escola Nacional Florestan Fernandes (e por isso envio esta carta com cópia à diretoria da AAENFF, a quem peço que remete ao conjunto de seus associados). Encaminho também a algumas outras listas, para que se marque publicamente a minha ruptura com esse trágico desfecho.

Aos vencedores, as batatas.
Abs
José Arbex Jr.

4 comentários:

Alceu A. Sperança disse...

As reflexões de Arbex são dignas de consideração e extremamente válidas.

Mas o Brasil de Fato, apesar desse episódio, continua sendo um veículo importante para as teses revolucionárias.

Não deixará de ser esse veículo importante por conta de um episódio eleitoral, memso porque o capitalista está apenas trocando de guarda.

Não é nada que permita mudar alguma coisa pelo voto.

Raphael Tsavkko Garcia disse...

Desde o início das eleições que eu imaginei que fôssemos ter problemas e baixas. Chegamos a um jogo onde se opõem dois projetos (o projeto "verde" nada mais é que um projeto tucano esverdeado, não vela nem uma nota), oou melhor, onde a mídia expõe apenas dois projetos.

Plínio conseguiu aparecer na mídia pis a lei assim obrigava, e Marina recebeu ibope quando viu-se que só ela poderia forçar o segundo turno e ajudar o Serra.

No fim, eram dois projetos e isto acabou por polarizar o debate de tal forma que mesmo veículos independentes, de esquerda, acabaram assumindo o papel de defender o projeto anti-Serra, mas foram além, e defenderem a Dilma. O que acabou causando grande descontentamento entre aqueles de Esquerda que são anti-Serra mas também não ao pró-Dilma.

Alguns periódicos e grupos se venderam tanto que temo o que farão depois das eleições, como ficará a crític.a Penso que é por aí que raciocina o Arbex.

Gilmar Antonio Crestani disse...

No atacado, concordo com Arbex. O problema é que todos temos um lado. Não há dois lados, como na moeda. Segundo turno é plebiscito. Se esta fosse uma disputa sadia, ideológica, de alto nível, tudo bem. Mas não é. Esta história de anular o voto é votar no candidato melhor colocado. Ponto.

AF Sturt Silva disse...

O PT e o governo não prescisa e nem merece nosso apoio e defesa.

Claro que devemos ser contra o Serra,porém isso não prescisa vangloriar a Dilma.

O PT para vencer suas batalhas(vejo uma só, que manter a governabilidade)usa armas da direita,que é o poder do capital e da plublicidade.Militância de rua voluntaria e blogosfera e mídia alternativa da para ficar sem ela.