25 de maio de 2013

Coutinho, a vida de um grande jogador

Resenha encomendada pelo Diário do Comércio de São Paulo - A vida de Coutinho, narrada como se fosse no rádio ou TV - Renato Pompeu - “Entre a meia-lua e a marca de pênalti não havia ninguém como ele”, disse Pelé, a respeito de Coutinho, seu companheiro de uma década no Santos. Agora, o consagrado jornalista de rádio e de televisão, Carlos Fernando Schinner, publicou uma biografia do inesquecível centroavante, o livro “Coutinho, o gênio da área”, lançado pela Realejo Livros e Edições. O interessante é que, acostumado a narrar pelo rádio e TV jogos de futebol e outros esportes, Schinner adotou um estilo todo peculiar de escrita, de modo que vamos lendo como se estivéssemos ouvindo, tal o grau de emocionalidade e tal o poder descritivo de seu texto sonoro e eloquente. Além disso, o autor ouviu também dezenas de pessoas, entre elas o próprio Coutinho, e consultou centenas de documentos em arquivos, para compor um bem preciso quadro da vida desse grande jogador. A primeira curiosidade que Schinner mata se refere a por qual razão, se seu nome é Antônio Wilson Vieira Honório, nascido em 1943 em Piracicaba-SP, o companheiro de Pelé é conhecido como Coutinho. Acontece que, filho de pai funcionário de manutenção e operação de máquinas moedeiras em uma usina de açúcar de sua cidade natal, o jovem Antônio era de físico um tanto mirrado – nas palavras da mãe, “um coto de gente”, logo tendo recebido o apelido de Cotinho. Quando se tornou jogador profissional, ganhou um U enobrecedor no apelido, que passou a sobrenome quatrocentão. Coutinho esteve longe de ser um dos melhores ou dos mais bem comportados alunos do então curso primário (hoje fundamental) em Piracicaba – ele se destacou mais por ações como trocar o seu sanduíche de pão com banana, preparado com carinho por sua mãe, mas revelador da pobreza de sua família, por algum sanduíche de padaria dos alunos de famílias mais prósperas – sem, porém, o acordo, ou mesmo o conhecimento, dos alunos assim privados de seu lanche caro. Além disso, a passar horas estudando, o menino Coutinho preferia ficar jogando bola. Encarregado de levar a marmita para o pai na hora do almoço, o jovem quase sempre cumpria com atraso a sua tarefa, pois no meio do caminho sempre havia uma pelada de rua, à qual ele aderia com gosto, deixando para depois a entrega do almoço já frio para o pai. Este reagia com periódicos castigos físicos. Aos 14 anos, em 1957, Coutinho soube que o Santos de Pelé e Pagão viria jogar com o Nhô Quim, o famoso XV de Novembro de Piracicaba. O garoto quis por toda força ver o jogo, mas não tinha dinheiro para o ingresso. Misturou-se então com os jovens jogadores do Palmeirinha de Piracicaba, que ia jogar na preliminar (um hábito daqueles tempos – sempre havia um jogo de amadores ou de reservas, então chamados aspirantes, como aperitivo do jogo entre titulares profissionais), contra os aspirantes do próprio XV. Acontece que, quando o técnico do Palmeirinha reuniu seus jogadores, verificou que estava faltando um. De mero acompanhante, Coutinho passou a integrante do time, recebendo o uniforme do clube. Ele marcou o único gol da partida e teve uma bela atuação, que ficou gravada na mente do técnico Lula, do Santos. Um ano depois, num dia de 1958, quase literalmente sem lenço e sem documento, Coutinho, novamente encarregado de levar o almoço ao pai, sumariamente desviou de sua rota e foi parar em Santos, com a roupa do corpo. Lembrando-se da atuação do jovem, em poucos dias Lula lhe deu uma oportunidade num amistoso contra o Sírio-Libanês, em Goiânia. Coutinho marcou um gol na vitória por 3 a 1 e passou a substituto eventual de Pagão, que se contundia com frequência. Mais um ano se passou e, em 1959, Coutinho marcou cinco gols num jogo só, contra a Ponte Preta, derrotada por 12 a 1 – e em 1960, aos 17 anos, estreou na Seleção Brasileira. Mas, mais importante do que isso, se tornou o companheiro ideal de Pelé. Juntos, inventaram a tabelinha, e a inovação desnorteou completamente as defesas adversárias. Coutinho e Pelé chegaram a fazer tabelinha só de cabeça, desde a intermediária até o interior da área do Grêmio, em Porto Alegre; ao final, Coutinho cabeceou a bola para Lima, defensor que vinha de trás e que ficou cara a cara com o goleiro, e marcou o gol. A torcida do Grêmio, ao invés de se entristecer com o gol contra seu time, levantou-se e aplaudiu entusiasticamente a sensacional jogada. Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe formaram o ataque mais famoso da era de ouro do Santos bicampeão mundial. Mas Coutinho tinha uma tendência danada para engordar. Sua grande fase se encerrou quando ele tinha apenas 25 anos, em 1968. Mas a década que passou ao lado de Pelé o imortalizou no coração de seus torcedores, o que é narrado com amor e precisão por Schinner.

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