12 de junho de 2013

As grandes entrevistas de um judeu português

Resenha para o Diário do Comércio de São Paulo - As grandes entrevistas do último jornalista a falar com Itzhak Rabin - Renato Pompeu - Um dos mais respeitados correspondentes internacionais da atualidade, particularmente entre os atuantes a respeito do conflito entre Israel e os árabes, o jornalista israelense Henrique Cymerman, 52 anos, nascido em Portugal e formado em Ciências Sociais em Tel Aviv, que colabora na BBC de Londres e no jornal “La Vanguardia”, de Barcelona e recebeu a comenda da Ordem do Infante Dom Henrique, a principal condecoração de seu país natal, apresenta no livro “Vozes no centro do mundo – o mais prestigiado correspondente mundial no conflito do Oriente Médio”, editado pela Prime-AlMedina, treze entrevistas com líderes políticos, tanto árabes como de Israel, como o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu (o livro grafa Benjamin) e o falecido dirigente palestino Yasser Arafat; onze entrevistas com pessoas importantes sem cargo político, como Omar Osama Bin Laden, filho do terrorista assassinado; sete entrevistas com líderes fundamentalistas islâmicos; duas entrevistas com espiões, o palestino Raed Zakarne, informante do serviço secreto de Israel, e o israelense Mordechai Vanunu, que divulgou segredos nucleares de seu país; oito com personalidades internacionais, como o americano Jimmy Carter e o espanhol Javier Solana Assim, são quatro dezenas de entrevistas que cobrem praticamente todos os aspectos e todas as diferentes posições em torno do conflito entre israelenses e árabes em geral e palestinos em particular, e o livro ainda conta com apresentações do ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso e do atual presidente de Israel Shimon Peres. No espectro político desse conflito, o livro quase esgota o assunto, a não ser por não ter dado voz aos líderes fundamentalistas judaicos, já que deu a suas contrapartidas islamitas. De particular importância para o público brasileiro, cuja esmagadora maioria é a favor de um acordo entre Israel e um futuro Estado Palestino, são a entrevista com o então primeiro-ministro israelense Itzhak Rabin, concedida a 3 de novembro de 1995, na véspera do assassínio de Rabin por um extremista judeu contrário aos acordos de paz que o primeiro-ministro patrocinava, e a entrevista com o filho de Osama Bin Laden. Sobre a entrevista com Rabin, recorda o próprio Cymerman: “Quando se pensa na imagem de Ytzhak Rabin, o tímido major-general que na primeira Intifada em 1987 disse que (os soldados) ‘devem quebrar os ossos’ dos insurgentes palestinos e, seis anos mais tarde, alterou o curso da história na Casa Branca, quando, com grande hesitação, apertou a mão de seu arqui-inimigo, Yasser Arafat, não dá para deixar de perguntar o que teria acontecido se, na noite do dia 4 de novembro de 1995, seu assassino, Yigal Amir, tivesse errado o alvo. Uma das coisas mais difíceis para os israelenses aceitarem é o fato de que Yigal Amir até certo ponto teve sucesso em sua missão de suspender o estabelecimento de um Estado palestino e inflamar a região inteira”. Fato difícil de aceitar até para o próprio Cymerman, já que não foi “até certo ponto”, e sim “completamente”, que Amir conseguiu fechar o caminho para a paz que Rabin estava abrindo. Notadamente, disse Rabin na entrevista: “Devemos continuar cumprindo as obrigações que assumimos na Declaração de Princípios que assinamos em Washington e o Acordo do Cairo, e agora os novos acordos (de Oslo). O objetivo é implementar os acordos internos que permitirão que os palestinos estabeleçam um governo independente e implementar pontos adicionais para que eles possam governar e fazer eleições. Obviamente, nós persistiremos, e o principal obstáculo, talvez o único obstáculo, no caminho da implementação desses acordos é o terror instigado por aqueles que se opõem aos acordos assinados entre a OLP, representando os palestinos, e nós. O terrorismo é promovido por grupos islâmicos extremistas, o Hamas e a Jihad islâmica, grupos que afirmam e declaram especificamente que seu objetivo é frustrar o processo de paz”. No dia seguinte, como vimos, Rabin foi assassinado por um extremista israelense. Quanto a Omar Osama Bin Laden, que afirmou ter visto o pai pela última vez em 2000, portanto vários meses antes dos atentados de 11 de setembro de 2001, ele disse a Cymerman que em janeiro de 2009 enviados do presidente Bush “me disseram que eram da Casa Branca, que me levariam para lá, para me defender, me ajudar e me proteger, com a condição de que eu os ajudasse a encontrar meu pai. Disse-lhes que sentia muito, mas não me comporto dessa maneira. Ele é meu pai e eu sou seu filho e, em geral, um filho quer bem ao pai e o respeita. Ainda que muitas vezes, como pessoa, possa ser contrário às ideias do pai. (...) Como qualquer ser humano e, especialmente um ser humano na minha posição, não apoio a violência, os combates, os ataques e esse tipo de coisa. Apenas se ocorrerem por uma boa razão e com o consentimento dos grandes governos, e se estes estiverem buscando justiça, como ocorre na Líbia. Por exemplo, a ONU possui tropas e as usa em situações específicas para alcançar a paz. Em casos como esse, nesse tipo de circunstância, estou disposto a me envolver.” As mais de 400 páginas do livro de Cymerman são assim: a cada frase, uma revelação importante. Vale a pena ler o livro.

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