4 de setembro de 2013

A mídia, na teoria e na prática

Artigo encomendado pela revista Caros Amigos - Ca184ideias Ideias de Botequim A mídia, o grande tema do momento Renato Pompeu O livro “Mídia – teoria e política”, do consagrado professor e pesquisador Venício A. de Lima, publicado, em segunda reimpressão da segunda edição, pela Editora Fundação Perseu Abramo, é um dos mais importantes lançamentos atuais, principalmente nestes tempos em que se debate, de um lado, um possível marco regulatório para as concessões de emissoras de televisão e de rádio, e em que se discute, de outro lado, o tipo de jornalismo praticado no País, sob acusações de distorções e omissões. A primeira edição é de 2001, mas o trabalho foi atualizado para a primeira impressão da segunda edição, em 2004. O livro é composto de vários artigos, desde uma introdução ao estudo das comunicações no Brasil até uma investigação do papel da Rede Globo durante o processo de redemocratização do País e uma avaliação do Jornal Nacional da Globo como “política simulada”, em comparação com o Jornal da Record. O bem conhecido jornalista Eugênio Bucci, na apresentação, chama a atenção para um ponto alto da obra: “’Veja-se a segunda parte deste volume. Ela se dedica à economia política das comunicações, da qual Venício é um dos expoentes. Trata-se de um modo crítico e abrangente de olhar o fenômeno da mídia. Esse modo de olhar descobre que nos conglomerados de comunicação, que concentram entretenimento e jornalismo, TV e rádio, revistas e internet, não apenas um ‘meio de condução de mensagens a serviço do poder’, mas um estágio da concentração de capital, um negócio a cada dia mais gigantesco”. Do consagrado sociólogo sueco, radicado na Inglaterra, Göran Therborn, a Boitempo Editorial acaba de lançar “Do marxismo ao pós-marxismo?”, três ensaios sobre o destino do marxismo nos séculos 20 e 21. Therborn é um desses raros pesquisadores sociais que se sente à vontade tanto discutindo temas essencialmente técnicos e empíricos, como as estatísticas demográficas, quanto debatendo abstrações teóricas, do gênero das praticadas por pensadores contemporâneos, como o italiano Antonio Negri, o esloveno Slavoj Zizek e o francês Alain Badiou. Diz o apresentador, Ruy Braga, que Therborn, “ao contextualizar historicamente as polêmicas em torno da modernidade, da pós-modernidade e do pós-marxismo, transformou áridas teses acadêmicas em vívidos debates localizados nas principais encruzilhadas políticas do século XXI”. Da Editora Unicamp é o livro “A reinvenção da classe trabalhadora (1953-1964), do historiador Murilo Leal, em que ele descobre o cotidiano dos metalúrgicos e têxteis paulistanos naqueles anos, não só no chão de fábrica, no ativismo sindical, nas lutas trabalhistas e políticas, mas também na vida doméstica e comunitária em bairros da periferia, e nas suas criações e fruições culturais. O pesquisador italiano radicado na França, Maurizio Lazzarato, apresenta, em “O governo das desigualdades - Crítica da insegurança neoliberal”, livrinho lançado pela EdUfSCar, segundo a nota introdutória de Anete Abramowicz, “uma análise socioeconômica do conflito dos intermitentes, trabalhadores do setor de espetáculos da França, a fim de entender o potencial de subversão e da crítica radical ao paradigma neoliberal do capitalismo contemporâneo”. Tendo como referência as contribuições do pensador francês Michel Foucault, já falecido, Lazzarato discute temas candentes da atualidade, do tipo “a individualização como despolitização”. A historiadora Andrea Daher, em “A oralidade perdida – ensaios de história das práticas letradas”, publicação da Civilização Brasileira, discute como cronistas portugueses e franceses, no Brasil Colonial, distorceram em seus escritos as falas dos indígenas da terra, transformando-os, por escrito, em bárbaros, selvagens, desprovidos de história e de consciência. O índio falava uma coisa e o cronista anotava outra, a partir de sua “superioridade” cultural e existencial. Também da Boitempo Editorial é o livrinho “Lenin”, escrito em 1924, logo após a morte do líder, por um dos mais famosos pensadores marxistas ocidentais, o húngaro György Lukács (1885-1971). Na apresentação, diz Carlos Nelson Coutinho, um dos mais importantes pensadores marxistas brasileiros, que a obra não leva na devida conta a afirmação de Lenin de que, “se na Rússia fora fácil tomar o poder e seria difícil construir o socialismo, nos países mais desenvolvidos ocorreria o inverso”, pois Lukács esperava para breve a revolução no Ocidente, mas isso não tira a importância do livro. Segundo outra nota, de Miguel Vedda, o fundamental é que Lukács percebeu que “o capitalismo monopólico criou uma situação mundial na qual o proletariado se vê obrigado a optar entre o assassinato de seus companheiros de classe em benefício da burguesia (...) e a criação de uma frente ampla de lutas de todas as classes oprimidas contra a ordem burguesa”. A atualidade dessa questão se observa no triste fato de que trabalhadores ocidentais e trabalhadores orientais continuam se matando no Oriente Médio, em benefício muito mais da grande burguesia globalizada do que de si próprios.

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