5 de setembro de 2013

Memórias da viúva de Prestes

Ca185ideias As memórias de Maria, a viúva de Prestes Renato Pompeu Em terceira edição, vinte anos depois das duas primeiras edições, sai em português e em castelhano, no mesmo volume, pela Anita Garibaldi e E-Papers, o livro “Meu companheiro – 40 anos ao lado de Luiz Carlos Prestes”, de Maria Prestes, sua viúva, que este ano está completando 80 anos de idade. De origem humilde, nordestina, Altamira, seu verdadeiro nome, filha de pai comunista, era militante ela própria e foi designada pelo PC para cuidar, como governanta e guarda-costas, do líder Prestes, que acabara de sair da prisão durante o Estado Novo. Os dois acabaram namorando e casando; ela teve nove filhos, que se juntaram a Anita Leocádia Prestes, filha de Olga Benario, a primeira mulher de Prestes. O livro vale como um documento pessoal, sobre quatro décadas de convivência com Prestes, grande parte desse período na clandestinidade e outra boa parte no exílio. As regras da clandestinidade eram tão rígidas que Prestes era apresentado a seus filhos com Maria como sendo tio deles, e não como pai. Vale também como trajetória do crescimento pessoal da autora, de mulher com pouca escolaridade transformada em intelectual de muitos estudos. E, finalmente, vale como documento político, pois Maria Prestes fala de graves problemas sociais e políticos na União Soviética, quando normalmente Prestes é apresentado como defensor incondicional do primeiro país socialista. É de notar que, além de uma apresentação da presidente Dilma Rousseff, o livro conta também com uma apresentação da grande escritora Raquel de Queiroz, que ao longo de sua vida passou de esquerdista a conservadora, a ponto de ter participado da campanha anti-João Goulart que culminou com a derrubada do então presidente. Outro livro de memórias é “Vai embora da casa de teus pais”, do sociólogo uruguaio radicado no Rio de Janeiro, Bernardo Sorj, que conta sua trajetória de lutas políticas no Uruguai, em Israel, no Brasil e em outros países. O título lembra uma frase dita por Deus a Abraão, patriarca dos hebreus, para que assumisse a idade adulta e fosse buscar a Terra Prometida. A publicação é da Civilização Brasileira. De Izaías Almada, consagrado ficcionista filiado ao realismo crítico, é o romance “Sucursal do inferno”, recém-lançado pela Prumo. Ele conta a história de uma jornalista que, já no século 21, investiga as relações de corrupção entre empresários, políticos e líderes religiosos. A par de seus méritos como documentação social, o livro tem também valor propriamente literário, pois Almada escreve muito bem, com ritmo e clareza. O resultado é um triste retrato do Brasil contemporâneo. Nestes tempos iniciados com a queda do socialismo estatal e continuados com o presente colapso do neoliberalismo, vale a pena ouvir a voz do falecido cientista social Maurício Tragtenberg, no livro “Teoria e ação libertária”, recém-lançado pela Editora Unesp. O autor defendia o anarquismo, na sua corrente denominada “socialismo libertário”, mas esteve em permanente diálogo com outros tipos de socialismo. Trata-se de uma alentada coletânea de artigos diversos, sobre teoria e prática políticas e sociais, de mais de 600 páginas. Já o intelectual francês Alain Badiou, em “A hipótese comunista”, agora publicado pela Boitempo Editorial, defende o comunismo como a alternativa para o colapso neoliberal, mas um comunismo com muito maior liberdade e justiça do que o que foi consagrado pelos antigos países socialistas estatais. Aos 75 anos, professor-emérito de filosofia em seu país, antigo militante maoísta, suas teses são bastante ousadas, porém escritas numa linguagem um tanto difícil para os que não tenham maior formação filosófica. A tese central: “A forma partido, assim como a de Estado socialista, é inadequada para garantir a sustentação real da Ideia” (ou seja, da Ideia do Comunismo). Um dossiê sobre a atuação das mulheres na luta contra o regime militar, eis a grande atração do número 7 da revista “Perseu – História, memória e política”, editada pelo Centro Sérgio Buarque de Holanda da Fundação Perseu Abramo. A chamada de capa diz: “Dossiê – Mulheres: esquerdas, política e trabalho”. Há artigos de Lilian Back, Maria Gouveia de Oliveira Rovai, Soraia Carolina de Mello e Benito Bisso Schmidt, sobre a atuação das mulheres nas guerrilhas urbanas no Brasil e na Argentina, nas greves de Osasco-SP em 1968, e a atuação específica de Dilma Rousseff contra o regime militar, além de um levantamento sobre as mulheres como donas-de-casa. Em suma, todas essas publicações são bastante politizadas e atuais.

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