3 de outubro de 2013
Como Bin Laden foi morto?
Resenha no Diário do Comércio de São Paulo -
Como Bin Laden foi
morto, eis a questão
-
Renato Pompeu
-
Com lançamento no Brasil praticamente simultâneo com sua publicação original nos Estados Unidos em setembro último, o livro “Não há dia fácil – Um líder da tropa de elite americana conta como mataram Osama Bin Laden” ainda é apresentado pela Editora Paralela como de autoria de “Mark Owen, ex-membro do Grupo para o Desenvolvimento de Operações Especiais da Marinha dos Estados Unidos, mais conhecido como Equipe Seis do Seal” – a equipe que matou o líder terrorista Osama Bin Laden a 2 de maio de 2011, em sua mansão em Abbottabad, no Paquistão. A editora ainda informa: “O nome verdadeiro do autor, assim como o de todos os Seal mencionados no livro, foi trocado por motivos de segurança”.
Aqui cabem várias observações. Em primeiro lugar, Mark Owen já foi identificado, segundo informação oficial do Departamento da Defesa dos Estados Unidos. Trata-se de Matt Bissonnette. Depois, Bissonnette foi membro, e não líder, do grupo que matou Bin Laden. Traduções mais fiéis ao original em inglês seriam “Sem dia fácil – O relato em primeira mão da missão que matou Osama Bin Laden” e Grupo de Desenvolvimento de Operações Navais Especiais de Guerra dos Estados Unidos. O termo Seal (igual à palavra “foca” em inglês) é abreviatura de “Sea, Air and Land”, ou seja, “Mar, Ar e Terra” e designa uma força de guerrilha e de reconhecimento da Marinha americana, treinada para operações clandestinas. Finalmente, o nome do livro lembra o slogan dos combatentes do Seal, “O único dia fácil foi ontem”.
De fato, o livro foi escrito em colaboração com o jornalista Kevin Maurer. É um relato autobiográfico parcial, desde a infância do autor no Alasca, época em que já sonhava ser um Seal, passando pelo rígido treinamento dos soldados desse grupo, talvez o treinamento mais exigente entre as Forças Armadas dos Estados Unidos, até a narração de diferentes operações no Iraque e no Afeganistão, algumas das quais nunca noticiadas pela mídia. O episódio da operação que resultou no assassínio de Bin Laden ocupa cerca de metade do livro e essa parte é que gerou toda uma controvérsia e que levou a obra à lista de best-sellers.
A história contada por Owen-Bissonnette difere em vários pontos da versão oficial e de outras versões sobre a morte do líder terrorista. Segundo a versão oficial, os soldados americanos, vindos de um helicóptero que pousou no chão, estavam subindo as escadas do terceiro andar da mansão, quando apareceu Bin Laden espiando lá de cima, vestido de túnica folgada e calças. Enquanto o líder terrorista corria para seu quarto, um Seal o alvejou, sem acertar. Os soldados logo correram para o quarto e ali deram com duas das mulheres de Bin Laden o protegendo. Um soldado as afastou e alvejou uma delas, Amal, na perna. Sem a proteção das mulheres, Bin Laden foi alvejado por outro soldado, no peito e na cabeça. Em seguida, foi dado como morto. A operação teria sido vista ao vivo na tela pelo presidente Barack Obama, na Casa Branca, a milhares de quilômetros de distância.
Uma primeira versão diferente veio a público ainda em 2011, num livro do roteirista de cinema e escritor Chuck Pfarrer, que foi Seal de 1981 a 1989. Segundo Pfarrer, os Seals não subiram as escadas até o terceiro andar; ao contrário, vieram de cima, pois seu helicóptero pousara no teto, e, ao chegarem ao terceiro andar, deram com uma mulher de Bin Laden, à qual cegaram momentaneamente com luz estroboscópica. Em seguida, Bin Laden, que estava no quarto, abriu a porta para ver o que estava acontecendo, e a fechou imediatamente. Dois soldados entraram, enquanto Bin Laden tentava pegar uma pistola AKSU na cabeceira da cama, e deram quatro tiros: um acertou Amal na barriga da perna, outro se perdeu na parede, e dois acertaram Bin Laden, um no peito e outro na cabeça, matando-o instantaneamente.
Mas a versão de Owen-Bissonnette confirma a versão oficial de que o helicóptero pousou no chão, não no teto. Assim, os Seals estariam subindo as escadas quando Bin Laden os espiou lá de cima e um soldado atirou contra ele, acertando-o no lado direito da cabeça e não errando o alvo, como diz a versão oficial. Bin Laden correu para o quarto, onde foi imediatamente achado caído e se retorcendo, sobre uma poça de sangue, enquanto duas de suas mulheres choravam agachadas sobre ele. Vários Seals as afastaram e alvejaram repetidamente o peito de Bin Laden, até o darem como morto. Segundo Owen-Bissonnette, não havia no quarto uma pistola AKSU, e sim um fuzil AK-47 e uma pistola Makarov, ambas as armas sem munição.
Só se saberá com certeza a verdade se e quando for exibida publicamente a gravação da operação, tal como foi transmitida a Obama.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário