8 de dezembro de 2013

Os 120 (ou 510) anos do porto de Santos

Do Diário do Comércio de São Paulo - Nos seus 120 anos, o porto de Santos relembra... 510 anos! - Renato Pompeu - Uma das belas surpresas do álbum de luxo “Porto de Santos – 120 anos de história”, edição em papel de alta qualidade com dezenas de lindas fotografias e um precioso relato histórico de autoria de Clotilde Paul, formada em Letras Neolatinas, Direito e História pela Pontifícia Universidade Católica santista, doutora em História Social pela Universidade de São Paulo, com especialização na Torre do Tombo, em Portugal, e no Vaticano, é a revelação de que a saga do porto de Santos começou, na verdade, em 1502. O que surgiu em 1892, data comemorada pelo livro de grande formato, foi a atual localização das instalações portuárias. Notando-se que a publicação foi patrocinada por doze instituições, entre elas a Prefeitura e o Porto de Santos e a Capitania dos Portos de São Paulo, além de ter sido concretizada pelo Ministério da Cultura, se observa que Clotilde Paul esclarece: “Tudo começou no dia 22 de janeiro de 1502, quando Gonçalo Coelho pensou ter descoberto um rio entre as Ilhas de Guaiaó (atual Ilha de São Vicente) e Guaibê (Ilha de Santo Amaro), ao qual denominou Rio de São Vicente, em homenagem ao santo do dia: São Vicente Mártir.” O local em que o navio de Gonçalo Coelho ancorou, a que ele chamou de Porto de São Vicente, vem a ser a atual Ponta da Praia, em Santos. Nas décadas seguintes, esse porto serviu mais a navios espanhóis que rumavam para o Rio da Prata, para reabastecimento, do que a navios portugueses, pois não havia, na época, produtos ali para exportação. Como os espanhóis compravam indígenas como escravos, essa época do porto de Santos é chamada de Porto dos Escravos. A partir de 1532, com a expedição de Martim Afonso de Sousa, começou a distribuição de terras para produção agrícola, principalmente de açúcar. Por volta de 1540, o célebre Brás Cubas, proprietário de terras, transferiu o porto para o Largamar de Enguaguaçu, junto ao Outeiro de Santa Catarina. Começava a era do Porto de Açúcar. Como o Nordeste do Brasil produzia mais açúcar e era muito mais perto da Europa, o porto em São Vicente teve pouca movimentação até o início do século 18, quando teve os armazéns arrasados por habitantes do Vale do Paraíba enfurecidos com a escassez e o alto preço do sal, então monopólio da Coroa. No mesmo período, se iniciou a era do Porto do Ouro, pois parte do ouro então descoberto em Minas Gerais passava pelo porto de Santos, via Bragança Paulista, para pagar o imposto do quinto e seguir para Portugal. Logo, porém, foi aberta a estrada de Minas para o Rio de Janeiro e Santos foi progressivamente deixando de exportar ouro, prerrogativa do Rio, bem mais próximo das minas. Com isso, o porto, a região e a própria Capitania de São Paulo entraram em decadência. Nos anos 1750, o governo português do marquês de Pombal fez reviver a produção de açúcar nas terras paulistas, e começou nova era do Porto de Açúcar, dinamizado pela estrada calçada de pedras que foi aberta então entre a Baixada Santista e a cidade de São Paulo. Já em 1797 por ali foram exportadas 114,5 mil arrobas de açúcar (uma arroba equivale a 15 quilos). Nessa época, havia dois portos em Santos: um junto à atual Rua Frei Gaspar e outro no bairro do Valongo. Começaram também as exportações do café. Mas, até meados do século 19, Santos apenas enviava cargas para o Rio, de onde realmente eram exportadas para outros países. O café trouxe a prosperidade e trabalhadores portugueses, espanhóis e italianos, além de empresários ingleses, americanos, alemães e franceses. Surgiram os casarões neoclássicos, mas o novo Porto do Café logo se tornou o Porto da Morte, pois com as sacas de café vinham a febre amarela, a varíola, a peste bubônica, o tétano e a tuberculose. A partir de 1870 várias empresas ganharam licitações para o saneamento da cidade e a modernização do porto, até que este foi inaugurado em 1892 na localização atual. A concessão à Companhia das Docas de Santos, outorgada por 90 anos, só se encerrou em 1980, quando essa grande empresa privada foi substituída pela Companhia das Docas do Estado de São Paulo, sociedade de economia mista de que a União detém a maioria do capital. Surgiu a era de ouro do Porto do Café. A partir daí, o livro narra a heroica saga dos trabalhadores do porto de Santos, pioneiros das mobilizações populares no Brasil, e a transformação em porto de exportação de produtos industrializados, até desembocar nos impasses da situação atual, de discussão das necessidades de completa remodelação das instalações portuárias e, em particular, da necessidade de reprivatização. Tudo isso ricamente ilustrado com fotos da época.

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