6 de fevereiro de 2010

Os italianos, vistos por um italiano

O Diário do Comércio, de São Paulo, me encomendou há tempo a seguinte resenha:

As peculiaridades divertidas (ou não) dos italianos

É ao mesmo tempo extremamente divertido e extremamente instrutivo o livro A cabeça do italiano – uma visita guiada, do jornalista italiano Beppe Severgnini, editado no Brasil pela Record. Trata-se de uma introdução aos costumes dos italianos que são bem diferentes das reações da maioria dos outros habitantes do planeta diante das mesmas situações, feita através do relato de uma viagem de dez dias por diferentes regiões da Itália.
Por exemplo, em que outro país do mundo todo motorista, diante de um sinal vermelho, se perguntaria se se trata de um “sinal vermelho simples” ou de um “sinal vermelho pleno”? Pois, para cada motorista italiano, segundo Severgnini, um sinal vermelho não é uma ordem de parar e aguardar o sinal verde para continuar à frente, mas uma oportunidade para uma reflexão filosófica sobre se se deve ou não parar, dependendo das circunstâncias de tempo, hora, lugar, clima, condições do trânsito, da segurança e da luminosidade, motivos da viagem, etc. etc., e para a conseqüente decisão de parar ou continuar.
Aqui podemos comparar com o comportamento dos brasileiros, especialmente dos paulistanos, diante da mesma situação: é muito semelhante, embora não tão freqüente e uniforme quanto o dos italianos, pois de fato boa parte dos brasileiros em geral e dos paulistanos em particular realmente pára diante de qualquer sinal vermelho, independente de quaisquer circunstâncias.
Mas aqui no Brasil, ou mais exatamente na cidade de São Paulo, há uma agravante que não existe na Itália: as autoridades recomendam aos motoristas que, alta noite ou de madrugada, não se detenham diante de qualquer sinal vermelho, para que não sejam assaltados. Assim, nossos costumes podem parecer, a olhos estrangeiros (o livro de Severgnini fez sucesso nos países de língua inglesa), ainda mais estranhos do que os dos italianos.
Infelizmente, não há estatísticas ou indicações, seja no livro italiano, seja nos registros brasileiros, sobre se o questionamento do sinal vermelho faz aumentarem os desastres de trânsito, ou diminuírem os assaltos e tentativas.
Também comer pizza no almoço, na Itália, só é aceitável, diz o jornalista italiano, se os comensais são jovens estudantes. E é inaceitável, para qualquer pessoa, tomar cappucino depois das dez horas da manhã. Esses dois costumes são particularmente estranhos para os turistas vindos dos Estados Unidos, acostumados em seu país a comer pizza e a tomar cappucino a qualquer hora do dia.
No Brasil, onde o cappucino é menos difundido e menos disponível, considerando o país como um todo, também existe a tendência de só comer pizza no jantar, e grande parte das pizzarias nem mesmo abre para almoço, mas existe a possibilidade de comer pizza a qualquer hora do dia, em qualquer padaria ou se pedindo para entrega a domicílio. De qualquer modo, comer pizza no almoço, ou mesmo pizza fria, tirada da geladeira, onde foi posta na véspera, no café da manhã, não causa nenhum escândalo no Brasil.
Outro costume italiano que chama a atenção, principalmente por ser lá tão intenso o interesse pelo sexo, gozando os homens italianos da fama de serem grandes amantes e as mulheres italianas da fama de serem muito belas, é que na Itália não deu certo o ramo dos motéis. Não, evidentemente, porque os italianos só pratiquem o sexo a domicílio, entre cônjuges, mas, segundo Severgnini, porque os italianos não gostam de hotéis iguaizinhos uns aos outros.
Os italianos, afirma o jornalista, mesmo para o sexo ocasional, querem que cada hotel tenha uma personalidade própria. Paradoxalmente, no entanto, exigem que cada pensão, aí no sentido de pensão familiar e não de pousada, seja igualzinha a qualquer outra pensão familiar. Que tenha sempre uma velha dona de pensão autoritária, que tenha sempre na sala de estar um televisor com o controle remoto quebrado ou sem pilhas, etc. etc.
Em suma, um livro interessante para os italianos, que nele se reconhecem, e para os não-italianos, que se instruem, especialmente se pretendem visitar a Itália e já estar preparados para surpresas, enquanto, na leitura, todos, italianos e estrangeiros, se divertem.

Renato Pompeu é jornalista e escritor, autor do romance-ensaio O mundo como obra de arte criada pelo Brasil, Editora Casa Amarela.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pode ser que o Italiano vai a rir...!!!..ma esta visual do escritor...e pura fantasia...!!!..evidentemente ele nao osservou bem....!!!!..e para aprender o jeto do Italiano como realmente e.....precisa ficar mais tempo...e mudar de pensamento enquanto fica tudo o contrario da cabeça Brasilera..!!