10 de dezembro de 2010

Uma história dos desastres ecológicos

O Diário de S. Paulo recentemente me encomendou o seguinte artigo:


Desastres ambientais célebres


Uma catástrofe ecológica pode ser definida como um desastre monumental, algo semelhante às catástrofes naturais, desencadeado pelas atividades de seres humanos. Embora se especule que os antigos impérios do Oriente Médio se arruinaram por causa da salinização das águas provocada por seu confinamento em sistemas de irrigação, o fato é que isso não ocorreu, por exemplo, com o Império Chinês, onde os sistemas de irrigação também eram extensos e confinados. Quando à devastação da flora na Ilha de Páscoa, ora é atribuída à população local, ora aos europeus que chegaram no século 19. De modo que convém começar uma lista de desastres importantes no século 20, embora os coelhos inadvertidamente introduzidos na Austrália nos anos 1850 tenham destruído muitas espécies de plantas e afetado colheitas.
As famosas tempestades de poeira que devastaram 400 mil quilômetros quadrados em torno do Texas e do Oklahoma, nos Estados Unidos, por todos os anos 1930, foram em parte causadas pela falta de rotação de culturas durante décadas; os agricultores preferiam o lucro fácil à preservação do solo. Em 1952, a poluição do ar pelo escapamento de veículos e fuligem de chaminés foi tão intensa em Londres que matou quatro mil pessoas.
Na China, na passagem dos anos 1950 para os anos 1960, o governo de Mao Zedong mandou o povo em geral exterminar os pardais, moscas, mosquitos e ratos. O extermínio dos pardais levou a uma monstruosa praga de gafanhotos que devastaram as colheitas, matando de fome 38 milhões de pessoas.
Nos anos 1950 e 1960, um número ainda a ser determinado de pessoas, seguramente milhares, começaram a morrer em torno da baía de Minamata, no Japão, envenenadas por peixes contaminados pelo mercúrio lançado na baía pelo conglomerado químico Chisso. Também um acidente numa indústria química ligada à Hoffmann-La Roche, em 1976, em Seveso, perto de Milão, Itália, ocasionou intoxicação em massa por dioxina, também em milhares de pessoas.
Em 1984, a fábrica de pesticidas da Union Carbide, em Bhopal, na índia, fez emanarem em poucas horas gases tóxicos que afetaram 500 mil pessoas, tendo matado por volta de 15 mil. Os gases continuam vazando até hoje, mais lentamente. No mesmo ano houve o desastre químico na Vila Parisi, em Cubatão-SP, em que dezenas de pessoas morreram queimadas Vazaram substâncias químicas da Sandoz no rio Reno, em 1986, na Suíça.
Ainda em 1986, o desastre na usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, matou pelo menos 4 mil pessoas e afetou 350 mil. Particularmente trágico é o fato de que a explosão radiativa ocorreu depois que a usina tinha sido desligada; ela estava funcionando à deriva, assim como um ventilador continua girando algum tempo depois de ter sido desligado.
Em 1991, cerca de 700 poços de petróleo no Kuwait, incendiados por tropas iraquianas em fuga, ficaram durante meses queimando seis milhões de barris de petróleo por dia, contaminando com fumaça tóxica toda a região em volta. O número de vítimas não foi calculado.
Não é conhecida a extensão do Grande Lixão do Pacífico, um imenso mar de lixo proveniente de navios e de esgotos que flutua no Norte do Pacífico, mas ele deve ter pelo menos superfície equivalente à do Estado americano do Texas.
Quanto aos vazamentos de petróleo, os maiores desastres ocorreram em 1909, no condado de Kern, Califórnia, EUA, tendo escapado 1,2 milhão de toneladas; em 1979, na parte mexicana do Golfo do México, com 470 mil toneladas; em 1991, no Kuwait, com 1,5 milhão de toneladas. O maior derramamento de petróleo no mar nos Estados Unidos, até agora, tinha sido o do navio Exxon Valdez, em 1989, no Golfo do Alasca, quando se espalharam no mar 270 mil barris, que afetaram 2 mil quilômetros de litoral e mataram 270 mil aves aquáticas, 2 mil lontras, 300 focas, 22 baleias, 150 águias carecas e bilhões de ovas de salmão e arenque. Das 28 espécies de peixes e animais atingidas, somente duas, a águia careca e a lontra haviam recuperado em 2000 os seus números originais.

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