7 de abril de 2013

O PAPA CHEGA AOS BOTEQUINS

Ca193conversadebotequim CONVERSA DE BAR. O PAPA CHEGA AOS BOTEQUINS. Este texto que você vai ler é uma crônica, ou seja, um conjunto de considerações imaginosas a partir de fatos reais, como, neste caso, acontece com a enorme repercussão das atitudes do papa Francisco nas conversas de botequim em todo o País. Estou começando a escrever às 6h34 da manhã do dia 21 de março de 2013. Costumo levantar às 4 da manhã, mas hoje acordei às 3 horas, vi que não ia mais dormir e resolvi esperar deitado para levantar, como sempre, às 4. Liguei a televisão na GloboNews, meu canal favorito, e fiquei acompanhando a retransmissão do Jornal da Globo e, a partir das 3 e meia, do Arquivo N. Eu meio que acompanhava a televisão e meio que meditava em outras coisas. Assim, enquanto eu, como bom pontepretano, vibrava com o gol de empate do São Bernardo e em seguida me frustrava com o gol da vitória do São Paulo, ou me emocionava com o corte a zero do cabelo da Carolina Dieckmann numa novela do Manuel Carlos, cenas que a tevê estava retransmitindo, eu ia lembrando do fulminante aparecimento do papa nas conversas entre fregueses e balconistas, na Lanchonete Amazonense, na rua Clodomiro Amazonas, esquina rua Fadlo Aidar, entre as esquinas da Clodomiro com a Fiandeiras e com a Santa Justina, no bairro do Itaim-Bibi, na Zona Sul de São Paulo, que cheguei a frequentar quase todos os dias úteis, há já vai fazer 12 anos, e frequento atualmente pelo menos três dias úteis por semana e um ou outro sábado, para tomar um refrigerante (não bebo álcool desde 1991), comer uma barra de cereais ou almoçar salada crua e quatro fatias de queijo branco (estou há anos em regime porque sempre fui e continuo gordo – que me vale o apelido de Renatão, não devido à minha altura, pois tenho apenas 1m73, apesar de parecer mais alto, possivelmente por ser “largo” em todos os sentidos do termo –, embora há muitos anos não seja mais obeso mórbido - cheguei a pesar 160 quilos, estou com 108 - e esteja em vias de deixar de ser obeso), e, acima de tudo, para bater papo de balcão, quase sempre de pé e raramente sentado. Em mais de 55 anos como ostra praticamente diária de balcão de bares, lanchonetes, padarias, botequins, estabelecimentos que escolho sempre entre os com clientela das classes populares, eu nunca ouvi tanta conversa sobre um papa. Não me lembro de jamais ter sido referido nada a respeito do papa Pio 12, a não ser sobre o suposto cheiro que emanou de seu caixão durante o cortejo fúnebre sob forte calor na Praça São Pedro. Na sua respectiva época, nos anos 1960, se falou alguma coisa do papa João 23. Mais tarde, praticamente nada sobre o papa Paulo 6.o, muita coisa de João Paulo 1.o por ocasião de sua morte tão precoce e tão repentina, algo sobre o papa João Paulo 2.o durante sua eleição, durante suas viagens ao Brasil, durante a sua participação na progressiva queda do socialismo real, e logo depois de sua morte, e praticamente nada sobre o papa Bento 16, com alguma falação sobre sua abdicação. Mas o novo papa Francisco causou um tumulto. Foram incontáveis as frases do tipo; “O papa é argentino, mas Deus é brasileiro”, “Esse cara parece boa praça”, “Foi só assumir o papa argentino e a Bovespa caiu”, “Que papa legal, está com os pobres e não abre”, “Você sabe como se diz numa palavra só que o papa Francisco está comendo purê de batata? Não sabe? Ora, papa papa papa”. E uma enxurrada de manifestações semelhantes, mostrando que, além de ter despertado esperanças, o papa já havia se tornado um herói folclórico, coisa só possível quando a pessoa causa uma grande impressão nas camadas populares. Como bom frequentador de botequins (sou autor do romance em quatro volumes “A última noite no botequim”, pela Editora Scortecci, disponível em www.estantevirtual.com.br), sei que, quando surge um tema global de interesse popular num único botequim, sei que essas conversas se repetem infindavelmente em todos os milhares de botequins de balcão do País. O papa, assim, literalmente chegou de forma avassaladora aos botequins, conforme prometi no título desta crônica e na chamada de capa. O dono e gerente Agnaldo, baiano, corintiano fanático, lulista e petista; sua mulher, balconista e caixa dona Arlete, os balconistas Clayton, palmeirense; Reinaldo e Amanda, mais as cozinheiras dona Lúcia e dona ...., mais os fregueses ....., a maioria petistas e/ou lulistas, vários malufistas, alguns deles tucanos e outros mais à direita, não falam de outra coisa comigo – eu ficava pensando deitado meio meditando, meio ouvindo a GNews – a não ser de suas esperanças com o novo papa. “Ele vai botar pra quebrar”. Cumpre esclarecer que o Agnaldo me chama muito mais de “Empresário” e “são-paulino”, evidentemente por minha tez “branca” destoar da grande maioria na lanchonete, do que de “Seu Renato”, embora eu sempre proteste dizendo que não sou empresário, apenas dono de uma pequena empresa sem empregados para poder fazer frilas como jornalista e que, muito menos, não sou são-paulino, ora, façam me o favor, me confundir logo com um são-paulino, eu, um pontepretano de boa cepa! Não que eu tenha alguma coisa contra ser são-paulino, mas, por favor, EU NÃO SOU SÃO-PAULINO! Os demais funcionários e fregueses conhecidos me chamam invariavelmente de “Seu Renato”, enquanto eu, em represália, jamais chamo o Agnaldo de “Seu Agnaldo”, o chamo sempre justamente de “Empresário”, pois ele sim é empresário, é dono da lanchonete e tem empregados, enquanto minha firma não tem nenhum empregado e eu não sou, por isso mesmo nenhum empresário. Vocês diriam, não, o Agnaldo não é empresário burguês, é pequeno-burguês, porque tem uma firma bem pequena. Ora, eu lhes respondo: pequeno-burguês é o patrão que só trabalha com funcionários não remunerados em dinheiro, mas com casa, comida e roupa lavada, principalmente seus familiares, agregados e aprendizes. O Agnaldo não é pequeno-burguês, é isso sim um burguês pequeno, um pequeno empresário. Assim, nossas conversas são mais ou menos assim – ele: “Empresário, gostou do papa hoje?”. E eu: “Ora, Seu Empresário, estou esperando para ver. Acho que ainda é cedo para dizer a que ele veio”. Mas confesso que sempre que penso no Papa Francisco me lembro do Dalai Lama, que, em várias declarações, como em http://www.guardian.co.uk/commentisfree/belief/2011/jun/20/dalai-lama-marxist-buddhism , em inglês, se declarou abertamente “marxista” e vive dizendo que na União Soviética, na China, o marxismo só foi de boca e jamais foi aplicado concretamente. Não que eu ache que o papa Francisco vá se declarar marxista, longe disso, mas ele pode se revelar progressista em questões sociais, embora não em questões comportamentais de vital importância. E lembro que até o ultraconservador Bento 16 várias vezes elogiou Marx, como em http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/04/070404_livropapaav.shtml, em português. Quanto a mim, sou em geral fã de grande parte das constatações verdadeiramente científicas de Marx, ou seja, sou fã dos quatro volumes de “O Capital”, e, por isso mesmo, assim como ele próprio declarou, nunca fui “marxista”. Dito isso, termino de escrever, às 7h44 da manhã do dia 21 de março de 2013 (uma hora e dez minutos após o ter começado), este artigo, com o qual espero convencer o Agnaldo a me botar um tijolinho de anúncio, não no corpo do Blog do Renatão, mas num link, de modo que ele só tenha de me pagar por acesso feito, algo entre 5 e 10 centavos por vez . Agora, me preparo para estar às 9 horas no Clube da Prefeitura do Cambuci, bairro onde moro, na Zona Central de São Paulo. No Clube faço alongamento para a terceira idade (tenho 71 anos), mas as conversas lá sobre o papa são bem diferentes, talvez por serem, com exceção da professora, pessoas mais idosas do que na Lanchonete Amazonense: a professora Maria Helena, que é evangélica, apenas disse: “Não quero nem saber dessa pessoa"; o Seu João afirmou: “O outro a gente conhecia, esse novo papa é esperar para ver”. O Seu Jaime, as donas ...., não se pronunciaram, – R.P. Nota – como o Blog do Renatão, desde a sua recente Revolução, é incessantemente dinâmico, e as inserções todas podem ou não ser incessantemente atualizadas e corrigidas ou cortadas e deletadas, não estranhem os pontilhados não preenchidos, que serão preenchidos na medida do possível e/ou do necessário. Espero logo aprender a inserir links nas inserções, de modo que remetam para textos como este, grandes demais para um blog, ainda mais com a feição gráfica atual do meu.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sobre as questões técnicas, estou disposto a ajudar. Tem vários blogs na plataforma blogspot, a vontade: afsturtdasilva@yahoo.com.br

Sturt Silva