26 de agosto de 2013
Marx contra o socialismo estatal
Artigo encomendado pela revista Caros Amigos - Ca181ideias
Marx contra o socialismo estatal
Renato Pompeu
Finalmente sai em português, pela Boitempo Editorial e em bem cuidada tradução, a partir do original em alemão, de Rubens Enderle, a “Crítica ao Programa de Gotha”, de Karl Marx, texto escrito em 1875. Gotha é uma cidade alemã e nela havia sido realizado, naquele ano, o encontro que oficializou a fusão entre a Associação Geral dos Trabalhadores Alemães, liderada por Ferdinand Lassalle, e o Partido Social-Democrata dos Trabalhadores, liderado por Wilhelm Liebknecht e August Bebel, dois dirigentes bastante próximos de Marx. O programa que saiu dessa reunião favorecia mais as teses de Lassalle e Marx criticou com tal contundência as teses lassallistas que seu texto só foi publicado em 1891, bem depois de sua morte..
No prefácio à edição brasileira, o importante pensador brasileiro radicado na França, Michael Löwy, assinala dois pontos que pouco foram levados em conta pelos marxistas: Marx se insurge contra a visão de Lassalle, de que só o trabalho produz valor – para Marx, a natureza também cria valor, o que indica que para o fundador do comunismo moderno as preocupações ambientais são de importância crucial. A outra crítica aguda que Marx faz a Lassalle é que este estava imerso na “credulidade servil no Estado”. Löwy se refere “às ideias antiestatistas que Marx desenvolveu ao longo de sua vida, desde sua crítica à filosofia do Estado de Hegel, em 1843, até seus escritos sobre a Comuna de Paris, em 1871”. Conclui o prefaciador: “Marx proclama contra os anarquistas a necessidade de certa forma de Estado – a ‘ditadura revolucionária do proletariado’ – durante o período de transformação revolucionária que conduz ao advento da sociedade comunista”. Não foi o que aconteceu nos países em que o marxismo triunfou, ainda que provisoriamente.
Dois livros importantes sobre o conflito entre Israel e os palestinos: um da Civilização Brasileira, “Outro Israel”, do respeitado escritor, político e militante pró-paz israelense, Uri Avnery, bem conhecido de todos que se interessam pelos conflitos no Oriente Médio. Avnery, em seu prefácio, presta uma homenagem ao ex-presidente Lula, por este ter reconhecido a Palestina como Estado soberano. Aos 88 anos, ele publica todos os sábados, na imprensa de Israel, artigos em que comenta os assuntos que estão na ordem do dia. Os textos reunidos no livro foram selecionados e organizados pela consagrada jornalista brasileira radicada em Israel, Guila Flint, correspondente da BBC e que foi correspondente da CBN. A tradução é de Caia Fittipaldi.
O outro é da Editora Record, “Um muro na Palestina”, do jornalista francês René Backmann, colunista da revista “Le Nouvel Observateur” sobre o tristemente célebre muro que Israel construiu na Cisjordânia, não muito alto, 3 metros, mas bastante extenso, 650 quilômetros, e, acima de tudo, bem largo: de 45 metros a 100 metros, incluindo bem no meio um fosso para impedir a passagem de veículos. Mas o livro não é só sobre o muro – e sim sobre as duas nações, Israel e Palestina, que o muro quer manter para sempre hostis entre si. A tradução é de Clóvis Marques.
Já a Boitempo Editorial nos brinda, além de com o clássico antiestatal de Marx, com uma preciosidade: um livro do famoso historiador e ensaísta inglês Perry Anderson, 73 anos, “Espectro: da direita à esquerda no mundo das ideias”. Ex-diretor da conceituada revista “New Left Review”, que se vem empenhando há décadas na divulgação de um marxismo não dogmático, Anderson reúne na nova obra as suas duas facetas principais: a de historiador atento a tudo que assinala a mudança de uma época para outra, e a de ensaísta atento a tudo que há de mais contemporâneo. Seu livro, assim pode ser definido como uma rigorosa história das ideias contemporâneas. Entre outros autores, ele discute o guru dos neoliberais, Friedrich von Hayek; o guru dos neoconservadores americanos, Leo Strauss, mais os progressistas Jürgen Habermas e Norberto Bobbio.
Outro lançamento importante da Boitempo Editorial é “Globalização, Dependência e Neoliberalismo na América Latina”, por Carlos Eduardo Martins. A temática é mais do que bem-vinda: como lidar, na atualidade, com a famosa Teoria da Dependência, e como inserir a América Latina nas Teorias dos Sistemas-Mundos e do Sistema Mundial. Diz a apresentação: “O autor utiliza a teoria de Marx sobre a tendência decrescente da taxa de lucro provocada pela revolução científico-tecnológica, quando ciência e tecnologia entram no processo com meios de acumulação do capital. No entanto, o elemento central que anima sua preocupação teórico-crítica é a utopia da autonomia e da autodeterminação, notadamente nos capítulos em que a América Latina é aprofundada no contexto da globalização, do sistema-mundo e de dentro da ‘carcaça de ferro’ do neoliberalismo e da dependência”.
Também da Boitempo Editorial é outra preciosidade: a estreia em ficção, no livro “Cansaço”, de Luiz Bernardo Pericás, historiador já considerado clássico por sua obra “Os cangaceiros”. As duas histórias podem ser definidas ao mesmo tempo como dramas sertanejos e tragédias gregas.
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