8 de setembro de 2013

25 anos da Editora Unesp

Artigo encomendado pela revista Caros Amigos: Ca186ideias Ideias de Botequim Editora da Unesp comemora 25 anos, entre Dom Pedro 2.o e o samba Renato Pompeu Em agosto a Editora Unesp comemorou com um jantar festivo 25 anos de lançamentos, ao mesmo tempo que fez vários novos lançamentos importantes. Um deles é “Imperador cidadão e a construção do Brasil”, a primeira biografia de Dom Pedro 2.o a lidar com os arquivos do próprio imperador e da família imperial, de autoria de Roderick J. Barman, professor na Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá. A tese central é a de que Dom Pedro 2.o foi um governante tão importante para o Brasil, ou até mais, do que, por exemplo, Getúlio Vargas. O Estado-Nação brasileiro teria sido moldado fundamentalmente pelo nosso segundo imperador, que herdou o que, pouco mais de duas décadas antes do início de seu reinado, era apenas um conjunto de 19 regiões isoladas e praticamente estanques, mais ligadas à Coroa Portuguesa e à Europa do que umas às outras. E nos legou as bases do Brasil tal qual o conhecemos. É de notar que Dom Pedro 2.o governou o Brasil durante meio século, só tendo sido emulado, na América Latina, por Fidel Castro. Desse modo, o imperador seria tão importante para o Brasil quanto Castro foi e continua sendo para Cuba. Outro lançamento da mais alta relevância da Editora Unesp é “Samba e identidade nacional”, do historiador, musicólogo e percussionista Magno Bissoli Siqueira. Ele vai até as raízes africanas do samba, um gênero musical eminentemente religioso, e retrata as transformações que sofreu no Brasil e em particular no Rio de Janeiro, onde passou a gênero profano, depois moldado pela nascente indústria fonográfica e pelo que Siqueira apresenta como um pretenso Estado nacional, sem deixar de esclarecer como se deu o “branqueamento” desse ritmo essencialmente negro. Mais uma obra fundamental da Editora Unesp é “A questão da Palestina”, publicada originalmente em inglês por Edward Said em 1979 e atualizada pelo próprio autor palestino em 1992; é a primeira edição brasileira desse trabalho. No prefácio de 1992, Said observa que tudo havia mudado no mundo desde 1979, até o comunismo havia desaparecido, mas que só a questão palestina continuava tão intratável quanto antes. Podemos acrescentar que, já um tanto avançado o século 21, a questão da Palestina prossegue tragicamente sem maiores alterações, o que explica que o livro de Said continue plenamente atual. Por fim, entre os novos lançamentos da Editora Unesp, há um de particular importância: “Sobre a constituição da Europa”, em que o renomado filósofo alemão Jürgen Habermas defende a necessidade da manutenção da União Europeia em meio à presente e aguda crise econômica. O livro foi lançado em alemão apenas no ano passado e a Editora Unesp é uma das editoras de vinte países diferentes que estão lançando suas traduções este ano. Já da Solisluna Editora é o belíssimo álbum de grande formato, em papel couchê, de maravilhosas fotos e de textos informativos e emocionantes sobre uma das regiões de mais lindas paisagens naturais, humanas e culturais do Brasil, sob o título “Lembranceiras, imaginário e realidade – Chapada Diamantina – Bahia”. A fotógrafa e autora é Iêda Marques e este seguramente é um lançamento que marca o ano. Em “Luta armada/ALN-Molipo – As quatro mortes de Maria Augusta Thomaz”, editado pela NM e RD Movimento, o jornalista goiano Renato Dias retraça a trajetória dessa jovem estudante de Filosofia, que, presa em 1968, aos 20 anos de idade, por autoridades do regime militar, durante o Congresso da UNE em Ibiúna-SP e em seguida liberada, sequestrou um avião em Buenos Aires em 1969, e o desviou para Cuba, onde treinou guerrilha. De volta ao Brasil, “soltou bomba na Esso, atacou o Consulado da Bolívia, foi baleada, recuperou-se e acabou assassinada em 17 de maio de 1973, em Rio Verde (GO), aos 25 anos de idade. Mesmo morta, a Justiça Militar a condenou. A sua sepultura foi violada no dia 31 de julho de 1980. Os seus restos mortais desapareceram. Mulher que amava a revolução, morreu quatro vezes”. O livro inclui textos de nomes importantes da luta contra o regime militar: Daniel Aarão Reis Filho, Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz, Ivan Seixas, José Dirceu e Luiz Eduardo Greenhalgh. Para encerrar, um toque mais ameno: o livro “Imprensa e Belle Époque – Olavo Bilac, o jornalismo e suas histórias”, da jornalista e professora universitária catarinense Marta Scherer, publicação da Editora Unisul. Estudando textos jornalísticos do famoso poeta, a autora retrata as mudanças do jornalismo brasileiro na passagem do século 19 para o século 20, de um jornalismo essencialmente envolvido em causas políticas e sociais, para um jornalismo eminentemente empresarial. O próprio Bilac escreveu: “O jornal antigo doutrinava, - e tinha cem leitores, o jornal moderno informa – e devora uma bobina de papel por minuto. Aquele não precisava de propaganda, nem de pressa; este, se não progredir incessantemente, morre!”

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