6 de setembro de 2013
O PT como partido da ordem
Ca187ideias
Livros a mancheias
Renato Pompeu
Há um grande número de lançamentos nos últimos meses de obras importantes no campo das letras progressistas. Comecemos por um tema muito em voga, por causa do chamado mensalão. Fundador do PT, da CUT, do PSTU, professor de Direito e História, deputado federal e presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, o mineiro Cyro Garcia, radicado em Nilópolis-RJ, é o extremamente qualificado autor de “PT: de oposição à sustentação da ordem”, em segunda edição, revista, pela Achiamé. A apresentação de Valério Arcary é eloquente e precisa: “Este é um livro que nos relata uma história política que foi, ao mesmo tempo, emocionante e terrível. E que, à maneira dos clássicos gregos, uniu epopeia, tragédia e até, finalmente, um pouco de comédia”.
Outra rediscussão, também de um ponto-de-vista marxista, da trajetória da esquerda brasileira, é “Os homens do passo certo – O PCB e a esquerda revolucionária no Brasil (1942-1961)”, do historiador, professor e sindicalista da Andes Frederico José Falcão, lançado pela José Luiz e Rosa Sundermann. Uma das teses é de que, naqueles anos, como o recruta que marchava em passo diferente de todos os demais, cada pecebista se via como “o único de passo certo” no desfile político.
Já se tratando de ficção, o consagrado escritor Roniwalter Jatobá, imigrante nordestino que foi operário da Karmann-Ghia no ABC paulista e se tornou jornalista, surpreende nos contos de “Cheiro de chocolate e outras histórias”, publicação da Nova Alexandria, ao desconstruir a tese do filósofo húngaro György Lukács, de que não é possível fazer arte a partir do singular. Partindo de singularidades, como a saga de um único imigrante, Jatobá chega plenamente ao universal.
O jornalista francês Hervé Kempf, no livro “Para salvar o planeta, livre-se do capitalismo”, publicado pela Saberes Editora, defende a tese de que o “crescimento verde” é uma ilusão “que não visa senão perpetuar o sistema de dominação em vigor”, sem resolver os problemas ambientais. Outro jornalista francês, Frédéric Martel, também sociólogo, procura explicar, em “Mainstream – A guerra global das mídias e das culturas”, edição da Civilização Brasileira, por que os produtos culturais americanos, como os filmes e séries de TV, são mais populares em todo o mundo do que os respectivos produtos culturais nacionais. E o jornalista mineiro J.D. Vital nos ensina “Como se faz um bispo segundo o alto e o baixo clero”, título de sua obra também editada pela Civilização Brasileira.
Uma obra inovadora é “Cordéis que educam e transformam”, do poeta, cordelista, cantor, compositor e ator cearense Costa Senna, editada pela Global. A ideia é “cordelizar” temas de ética, cidadania e educação. Exemplo, de “Uma viagem na história”: “Fui célula do feudalismo/ e núcleo da burguesia/ em um regime feudal/ sob um comando central/ a história acontecia./ Vi Leonardo Da Vinci/ Monalisa pincelar; Lutero ser perseguido/ por viver e protestar./ Digo com conhecimento/ vi quando o Renascimento/ começava a despertar”.
Sobre o campo, muito especialmente no Paraná, ricamente documentado é o trabalho “Por uma geografia dos camponeses”, da professora Eliane Tommasi Paulino, em segunda edição pela Editora Unesp. Ela estudou de perto 292 famílias da área rural de 33 municípios paranaenses, mas também teorizou sobre a circulação da renda da terra em regiões de territórios monopolizados. Já o jornalista Alceu Luís Castilho, no livro “Partido da terra – Como os políticos conquistam o território brasileiro”, lançamento da Editora Contexto, estima que nada menos de 4,4 milhões de hectares estão nas mãos de 13 mil políticos atualmente com mandato no Legislativo e Executivo, em escala municipal, estadual e federal, em todo o País.
De Santa Catarina vêm dois livros interessantes, ambos publicados pela Editora Unisul. Um é “Gol orgasmo”, do jornalista Celso Vicenzi, ex-jogador do Avaí, ilustrado pelo célebre Paulo Caruso. São aforismos, do tipo “Bola na trave é masturbação. Pênalti é ejaculação precoce. Gol é orgasmo”. Outro é “Bordões, slogans e conceitos na publicidade brasileira”, do publicitário, jornalista, consultor e professor Elóy Simões, ensaios sobre a arte de sintetizar um conceito numa frase simples, original e marcante, obra útil não só para quem pratica publicidade comercial, mas também para quem se empenha em propagandear ideais políticos.
Que pessoa progressista não gostaria de, num volume só, ter acesso a textos seminais de Marx, Engels, Lenin, Trotski, Rosa Luxemburgo e Gramsci? Pois todos esses autores constam de “As armas da crítica – Antologia do pensamento de esquerda”, lançado pela Boitempo Editorial, com seleção de Ivana Jinkings e Emir Sader.
Mas quem busca encantamento vai se enlevar com “Dança ao pé da letra – do romantismo à Belle Époque carioca”, pela Apicuri, da bailarina e professora universitária de Teatro e Dança Marina Martins, que lida com “os estreitos laços que unem a dança, a literatura e o teatro” e com “a mescla de ritmos europeus e nativos, absorvida pela sociedade cosmopolita carioca”, naqueles anos que, se não foram dourados, foram pelo menos folheados a ouro.
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