24 de setembro de 2013

A obra máxima de Lukács

Ca192ideias - Ideias de Botequim - Renato Pompeu - A obra mais importante do marxismo do Ocidente, afinal traduzida do original - Se os neoliberais como a antiga primeira-ministra britânica Margaret Thatcher defendem com denodo a tese de que a sociedade não existe concretamente, e sim que só existem indivíduos que interagem entre si sem terem de se inserir em relações sociais a não ser pelos livres contratos e acordos entre indivíduos e grupos de indivíduos, uma tese seminal da tradição iniciada por Marx é de que o ser humano é um ser social, e o que cabe discutir é se cada ser humano é “portador” das relações sociais, como queria Marx, isto é, seria capaz de transformar essas relações, ou se cada ser humano é um simples “suporte” das relações sociais, como queria o filósofo francês Louis Althusser, isto é, todas as ações humanas seriam determinadas por mecanismos materiais externas à sua consciência (e inclusive ao chamado inconsciente). Trata-se de uma problemática crucial, e agora surge no Brasil, pela Boitempo, pela primeira vez em tradução diretamente do original alemão, a obra fundamental que discutiu esse assunto, “Para uma ontologia do ser social”, do filósofo húngaro György Lukács. É um trabalho audaz, de uma ousadia inaudita, pois a esmagadora maioria dos filósofos só considerava possível fazer uma ontologia do “ser” em geral, e assim o empreendimento de Lukács é um verdadeiro desafio. A tradução está primorosa, feita por Mario Duayer e Nélio Schneider, que aproveitaram os trechos em português anteriormente traduzidos por Carlos Nelson Coutinho a partir de uma edição em italiano, mas cotejando rigorosamente esses trechos com o original alemão. A tradução foi ainda revista tecnicamente por Ronaldo Vielmi Fortes, Ester Vaisman e Elcemir Poço Cunha. A Editora da Unesp se vem firmando como a principal publicadora universitária do País, sempre com obras de vanguarda. Um exemplo é “O retorno do acontecimento – Um desafio para o historiador – entre Esfinge Fênix”, do historiador francês François Dosse, lançado no Brasil dois anos após a publicação original. Trata-se do seguinte: ao longo do século 20, os historiadores se preocuparam muito mais em interpretar os fatos, com grandes voos teóricos e grandes explicações sobre as grandes tendências, às vezes seculares, às vezes até milenares, de aspectos gerais da vida humana. Foi assim com a visão socioeconômicocultural da chamada Escola dos Anais, com as interpretações marxistas e weberianas da História, com as visões amplas sobre as tendências de longa duração. Considerava-se plenamente superada a visão tradicional da História como relato dos fatos isolados, narrativa dos acontecimentos. Nos últimos anos, porém, nota Dosse, diante de fatos que desmentiram as interpretações passadas mais correntes, como a derrocada do socialismo real, que fez balançar as antigas certezas interpretativas no sentido de que, ainda que a trocos e barrancos, o mundo caminhava para o socialismo, ressurgiram as histórias que tentam reconstituir os fatos nus e crus, os acontecimentos tal como se deram. No entanto, não se trata de voltar aos modelos históricos anteriores às grandes interpretações. E sim de revisitar os fatos a partir do pleno conhecimento e pleno domínio das grandes interpretações. A grande peninha do livro de Dosse é que ele dá muito mais atenção à história da França do que à história de outros países, quando hoje os meios mais avançados tentam inserir as ciências humanas numa visão mais globalizada. Apenas um ano depois da edição do original na Alemanha, sai pela Editora da Unesp o importante livro “A sacralidade da pessoa – Nova genealogia dos direitos humanos”, do pesquisador alemão Hans Joas. Ele discute até que ponto a noção de direitos humanos é, como se pensa tradicionalmente, uma criação do racionalismo do século 18, ou se mesmo esse racionalismo, que afinal surgiu no Ocidente e não no Oriente, não está relacionado com a tradição cristã em que se formaram inicialmente os grandes pensadores racionalistas. Uma discussão bastante oportuna na nossa época, em que os diferentes fundamentalismos religiosos, tanto ocidentais como orientais, têm procurado atacar os direitos humanos, principalmente dos seres humanos considerados “infiéis”. Mais do que uma história dos direitos humanos, o livro é um debate sobre a legitimidade e a legitimação desses direitos. A plena integração do Brasil Central como parte do imaginário da Nação e da Pátria brasileiras, tida como dada pelos brasileiros de hoje, data apenas dos anos 1940, como mostra o pesquisador João Marcelo Ehlert Maia, em “Estado, território e imaginação espacial – O caso da Fundação Brasil Central”, livro lançado pela FGV Editora. Ele se reporta às expedições pioneiras que consagraram os irmãos Villas Bôas, num processo que se pode quase dizer de descoberta e conquista de novos territórios, embora essas terras pertencessem há séculos ao Estado brasileiro. Finalmente, no capítulo das amenidades, temos pela Global o romance policial ”Damas turcas”, que se passa em São Paulo, de autoria de nosso antigo colaborador Carlos Castelo. Ele inova no gênero ao criar um personagem publicitário, que ajuda seu amigo policial civil a desvendar crimes, baseado numa técnica de investigação derivada das técnicas de pesquisa publicitária.

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