23 de setembro de 2013
Os negros e mestiços na história e na ficção
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O tema das relações raciais no Brasil é uma pedra no sapato das elites ditas brancas nacionais. Há alguns anos, o historiador pernambucano Evaldo Cabral de Mello, ligado às elites nordestinas, chegou a se queixar de que, naquela época, já havia um “excesso” de atenção dos historiadores em relação ao tema da escravidão. Pois não é que a Editora Unesp está publicando a nona edição da bem documentada história do movimento abolicionista, “A Abolição”, da consagrada historiadora Emília Viotti da Costa? E a ViaLettera lançou a novela “Séculos de espera”, da socióloga e psicanalista Nilda Jock, sobre as agruras de uma família negra em sua saga desde a Abolição. Central na trama dessa ficção é o problema da miscigenação, que é o verdadeiro foco da identidade nacional brasileira e é um dos motivos do ódio que as elites têm, não só contra o povo, mas contra si mesmas. De grande interesse é também o livro de ensaios “Mulheres negras no Brasil escravista e do pós-Abolição”, organizado por Giovana Xavier, Juliana Barreto Farias e Flavio Gomes, editado pela Selo Negro. Esse livro procura responder às seguintes perguntas: “Como foi a participação das mulheres cativas na organização da sociedade escravista e nas primeiras décadas do pós-emancipação? Como elaboraram sociabilidades, modificando a própria vida e a de seus familiares? Como protestaram com obstinação, minando a escravidão e contrariando a ideia de que aceitaram com passividade a opressão imposta?” O livro cobre o País de Norte a Sul, nos séculos 18, 19 e 20.
Sobre a saga dos trabalhadores rurais nordestinos é o livro de crônicas “O olhar dos humilhados”, que José Saraiva Júnior publicou nos jornais “O Povo” e “Diário do Nordeste”, ambos de Fortaleza, lançamento da Dedo de Moças Editora. Trecho: “Eles estão chegando. Quem anda pela periferia da cidade pode notar que as praças estão sendo invadidas por grupos de família. São os desprotegidos, sem emprego e sem lar. Desiludidos, estão possivelmente fugindo dos sertões, com chuvas ou não. Improvisam barracas, pedem esmolas por dois ou três dias e, em silêncio, desaparecem”. Atenção: é uma edição caprichada, com uma bela capa e papel fora do comum, uma singela homenagem à grandeza das pessoas que descreve.
Do diplomata potiguar João Almino é a reedição do romance “Samba-enredo”, de 1994, lançado agora pela Record (não confundir com o meu romance “Samba-enredo”, publicado pela Alfa-Ômega em 1982). O romance de Almino se passa em Brasília, envolvendo políticos, carnavalescos e até místicos, tanto do Plano Piloto como das cidades-satélites. O livro foi elogiado por grandes nomes, como os ficcionistas Milton Hatoum e Márcio Souza.
E aqui está uma obra que vai encantar os incontáveis fãs do grande escritor gaúcho Caio Fernando Abreu, já falecido. Também pela Record, saiu o volume “Poesias nunca publicadas”, criações líricas do consagrado autor de “Morangos mofados”. Diz a apresentação: “Emocionalmente viscerais, seus poemas exalam sentimentos: dor, paixão, paixão pela dor, amor, desejo, desejo de amor, solidão, medo, medo da solidão... Um homem que não hesitava sentir e por isso se entregou inteiramente, que não quis ser poeta mas precisou escrever poesia. E escreveu muito. Aqui estão cento e dezesseis poemas, perpassando toda a sua carreira literária, desde a década de 1960 à de 1990”.
O jornalista José Ribeiro Rocha, respeitado autor de “Brincar de ser feliz” (2008), lança agora, com sua experiência de menor carente interno em instituição religiosa, “Os meninos de Deus”, pela Novo Século, apresentado como “um relato corajoso e comovente sobre uma geração excluída do Brasil: os menores carentes que viveram durante as décadas de 1970 e 1980 sob a guarda de orfanatos religiosos onde, longe de serem protegidos e tutelados como esperavam, eram frequentemente submetidos a maus tratos (...) vítimas de agressões física, moral e psicológica, além de violações sexuais. E o pior: muitas vezes, tais atrocidades eram cometidas justamente por aqueles que deveriam ser seus ‘protetores’”.
E, finalmente, outro lançamento de grande importância: “As duas guerras de Vlado Herzog – Da perseguição nazista na Europa à morte sob tortura no Brasil”, do jornalista Audálio Dantas, que, como presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, esteve à frente, em 1975, do movimento de protesto contra a morte de Herzog. Na contracapa, se reproduz um discurso que o jornalista Juca Kfouri fez em homenagem a Herzog e a Dantas. Imperdível.
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