21 de setembro de 2013
O jovem Marx, ainda atual?
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Ideias de Botequim
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O jovem Marx,
ainda atual?
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Renato Pompeu
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Acaba de sair uma nova edição de “A teoria da revolução no Jovem Marx”, do pensador brasileiro radicado na França, Michael Löwy, pela Boitempo. A edição original em francês é de 1970, mas essa edição brasileira foi feita a partir da edição francesa de 1997. Trata-se de uma análise política e filosófica das ideias de Marx quando jovem, mostrando que há uma continuidade dessas ideias durante toda a vida de Marx. Em 1970, o livro reagia aos que, como o filósofo francês Louis Althusser, consideravam que o Marx maduro, ou velho Marx, havia superado em “O capital” suas ideias da juventude. Althusser defendia ainda a tese de que “O capital” era o único texto escrito por Marx que continuava plenamente válido. Löwy procura esclarecer que as teses políticas, como a revolução proletária, e filosóficas, como a emancipação do ser humano, continuam tão válidas quanto a economia política de Marx.
Ainda no horizonte do comunismo, temos a biografia “Entre sem bater – A vida de Apparício Torelly, o Barão de Itararé”, de Cláudio Figueiredo, um relato da vida colorida e tumultuada do humorista que, vereador comunista no Rio a partir de 1946, a um vereador conservador que interrompeu um seu discurso dizendo “O que Vossa Excelência está dizendo me entra por um ouvido e sai pelo outro”, respondeu: “Impossível, Excelência, o som não se propaga no vácuo”. O Barão de Itararé foi a prova viva de quem um esquerdista radical não tem necessariamente de ser austero e mal-humorado.
Também da Boitempo é “Padrão de reprodução do capital – contribuições da teoria marxista da dependência”, em que, analisando a América Latina nos tempos mais recentes, diversos ensaístas, sob a coordenação de Carla Ferreira, Jaime Osorio e Mathias Luce, dão continuidade aos conceitos do falecido pioneiro da teoria da dependência, Ruy Mauro Marini, segundo os quais o imperialismo há muito deixou de ser um fator externo e há muito fincou raízes no próprio cerne dos países latino-americanos.
Do pensador e militante panamenho Nils Castro, temos “As esquerdas latino-americanas em tempos de crise”, pela Fundação Perseu Abramo. É uma discussão mais aprofundada sobre o que morreu e o que continua vivo no pensamento da esquerda depois da derrocada do socialismo real e da ascensão e crise do neoliberalismo.
Em cerca de 450 alentadas páginas, ricamente documentadas e ilustradas, o jornalista Leonencio Nossa faz um dramático e informativo relato das violências repressivas do regime militar em “Mata! O major Curió e as guerrilhas no Araguaia”, lançado pela Companhia das Letras.
Saiu em quarta edição, pela José Olympio, “A obra do artista – uma visão holística do Universo”, em que o Frei Betto, nas palavras do astrofísico Marcelo Gleiser, “demonstra que não existe incompatibilidade entre ciência e espiritualidade. Mais ainda, que a ciência é uma busca essencialmente religiosa, como o disse também Einstein”.
Com seleção e apresentação de Marco Haurélio e xilogravuras de Erivaldo, a Global lançou “Antologia do cordel brasileiro”, com cordéis que abrangem todo o século 20 e chegam aos tempos atuais. Imperdível.
Já “Carlos Gomes, um tema em questão – A ótica modernista e a visão de Mário de Andrade”, de Lutero Rodrigues, publicado pela Editora Unesp, faz um levantamento crítico sobre as principais apreciações feitas ao longo das décadas sobre a vida e a obra desse grande compositor.
Outros lançamentos da Editora Unesp: “A Revolução Sul-Africana – Classe ou raça, revolução social ou libertação nacional”, de Analúcia Danilevicz Pereira, dentro da Coleção Revoluções do Século 20, dirigida pela consagrada historiadora Emília Viotti da Costa – o título já basta para dar uma ideia da abrangência da obra; “O triunfo do fracasso – Rüdiger Bilden, o amigo esquecido de Gilberto Freyre”, de Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke”, que retraça a vida do pesquisador alemão que, na Universidade Columbia, nos Estados Unidos, não só iniciou Freyre nas obras dos grandes pensadores alemães, como também insistiu que o jovem pernambucano se interessasse pelo passado da escravidão no Brasil. Apesar de ter exercido papel crucial na formação do pesquisador brasileiro, Bilden foi depois menosprezado não só pelos historiadores das ciências sociais, como pelo próprio Freyre. Já “As origens do homem explicadas às nossas crianças”, de Pascal Picq, é o que os franceses chamam de “alta vulgarização” a respeito da evolução do ser humano. “A evolução do sexo”, de John Maynard Smith, retraça a evolução biológica da sexualidade, desde os primeiros seres vivos até os seres humanos.
Mas o grande lançamento da Editora Unesp é a “Correspondência 1928-1940”, entre Thomas Adorno e Walter Benjamin. As relações entre os dois nem sempre foram harmoniosas, Benjamin se queixava de que Adorno não abria muito espaço para seus voos teóricos mais ousados, além de reclamar do pouco dinheiro que recebia.
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